segunda-feira, 18 de outubro de 2010

CLERO DA ÚLTIMA PIEDADE

  UM CONTO SOBRE PIEDADE
No norte de Fortuna, o Reino da Boa Sorte, o inverno se aproxima do fim, mas não sem deixar consequências.
À tarde o homem volta para casa, uma cabana simples, mas aquecida e reconfortante. No fogão, sua esposa prepara a refeição e os unguentos e infusões para o menino, filho deles. Este se encontra numa cama improvisada junto à lareira. Já há vários dias a criança adoeceu e a enfermidade só faz piorar. Começou como uma gripe, doença comum na estação, depois veio a tosse violenta, as manchas pelo corpo, o catarro com sangue e por último, a mucosa purulenta na boca e nos olhos.
No momento o garoto dorme, é assim que passa a maior parte do dia, permanece pouquíssimo tempo acordado. Nos raros momentos em que se mantém desperto, sua mãe tenta fazê-lo comer, mas ele sempre recusa. A grave inflamação da laringe impede a alimentação e a fala.
As dores e a atrofia muscular fazem com que a criança permaneça em paralisia quase completa. Às vezes, alivia-se de suas necessidades fisiológicas ali mesmo na cama. Entretanto, esforço algum é demais para sua dedicada mãe, que cuida com zelo de seu filho doente na esperança de que ele se recupere logo e volte a brincar com as outras crianças da vila.
-- Continua a preparar essas receitas? – pergunta o homem esfregando as mãos para espantar o frio.
--Eles disseram que pode ajudar. – responde a mulher, se referindo aos curandeiros que vieram examinar o garoto.
-- Eles nem sabem o que nosso filho tem! – fala com desprezo daqueles que, para ele, não passam de charlatões aproveitadores com menos conhecimento medicinal que sua avó. Na cama o menino se contorce em convulsões de espirro e tosse. Quando a criança se acalma, a mulher tenta iniciar uma conversa sobre a doença.     
-- Acha que pode ser aquela doença que está atacando as terras depois do rio Daganir?
-- Os curandeiros acham que não. - rebate o homem secamente.
A mulher se cala com a resposta.
Logo após carrega uma xícara cheia de chá fumegante até o leito do filho. Espera ele parar de tossir e o desperta com afagos. Oferece o chá, mas ele nega. Força a bebida, que ele não toma, derramando parte do líquido nos cobertores. Com uma careta de dor, ele volta a dormir.
Enquanto a mulher retorna ao fogão com  o recipiente quase cheio, o homem retoma a conversa com ar preocupado.
-- Hoje, quando saí pela manhã, vi um corvo pousado no nosso telhado.
-- Oh deuses! Mas hoje é noite de lua em Foice! – apavora-se a mulher, deixando cair a xícara de chá que molha o chão de madeira. Foice é a fase lunar em que a lua, por cinco dias, vai diariamente diminuindo, formando um "C", até ficar em completa Treva. Para só após alguns dias voltar a crescer na fase do Arco. A foice é também o símbolo sagrado de Leen, o deus da morte.
-- Isso mesmo. E você sabe o que isso quer dizer. - constata o homem tristemente.
O povo de Fortuna é extremamente supersticioso. Seu cotidiano é repleto de augúrios, rituais para trazer sorte e afastar o azar, ou mesmo atos que devem ser evitados, pois são de mau agouro. Entre as diversas crendices de Fortuna, uma delas diz que quando um corvo pousa no telhado de uma casa em dia de lua em Foice, significa que um dos moradores irá falecer em breve.
-- Não pode ser! Por que nosso filho?! Tão jovem. – a mulher prossegue o lamento num desespero cada vez maior. – Precisamos de um clérigo! Temos que achar um! Nosso filho precisa da bênção de cura dos deuses! – lágrimas descem pela face, ela sabe que é quase impossível encontrar um clérigo num local ermo e afastado como aquele em que moram.
--Eu encontrei com um clérigo hoje. – sussurra o homem sob os gritos desesperados da esposa
-- O quê? – pergunta ela com lágrimas no rosto ao ouvir o marido.
--Encontrei com um clérigo. – repete sem alegria. 
-- Encontrou? Que sorte! Obrigada Nimb! Você falou do nosso filho, não falou?
      O homem fez que sim.
-- Ele pode ajudar? – pergunta a mulher ansiosa.   
O homem repete o gesto com a cabeça.
-- Ele virá aqui hoje? – prossegue interrogando.
Ao sinal afirmativo do marido, a mulher se alegra. Espera em silêncio ao lado do filho por alguns instantes, mas a ansiedade supera a paciência e ela volta a seus afazeres domésticos a fim de encontrar uma distração. Porém o homem não esboça felicidade alguma, apenas permanece sentado na poltrona com ar pensativo. Na cama próxima à lareira, o menino tosse como se os pulmões fossem saltar pela boca.
Após algumas horas, batidas na porta.
-- Pode entrar! – autoriza o homem em voz alta, se levantando da poltrona onde aguardava o visitante.
A porta se abre. De fora entra um homem com manto e capuz brancos. Sobre a roupa do desconhecido, pequenos flocos de neve quase imperceptíveis.
      Vem com o punho cruzado à frente do peito, ritual característico dos fortunienses para barrar os maus espíritos. Na mão esquerda, estendida ao longo do corpo, segura uma pequena foice de lâmina prateada. Pendurado no pescoço, como é costume para trazer sorte, um amuleto em forma de ferradura. Apesar de o amuleto lembrar também uma foice sem cabo.
O estranho fecha a porta, barrando o intenso frio de fora, e se detém a olhar o dono da casa fixamente. O seu rosto estampa plena compaixão. O pai da criança aponta em direção ao filho e o visitante se dirige até o menino doente, como combinaram algumas horas atrás, para que a mulher não veja e não tente impedir o clérigo.
De outro cômodo, a mulher surge e pergunta:
-- Temos visita? – sem receber resposta, ela insiste – É o clérigo de quem você falou?
O homem confirma com a cabeça.
Secando as mãos no avental encardido, ela começa o trajeto até onde está o filho. Quando passa ao lado do marido, ele a segura pelo braço, a puxa para si e lhe dá um abraço apertado. Sem entender, ela retribui o gesto, mas observa atentamente o clérigo e o filho.
A criança tosse violentamente, tem manchas negras no pescoço e em partes do rosto. Muco escorre do nariz e uma substância amarela e viscosa preenche o canto dos olhos e da boca. Enquanto o peito arfa e chia como uma fera selvagem lutando pela liberdade.
O clérigo se aproxima do enfermo e senta na cama. Ergue a foice e murmura brevemente. Depois toca a lâmina de leve na testa do garoto e na sua própria.
-- O que está acontecendo? O que ele vai fazer?! – questiona a mãe assustada envolta nos braços do marido.
-- Nimb já rolou seus dados. – é a triste e resignada resposta do marido.
Um golpe certeiro, rápido e fatal.
-- NÃÃÃOO! – berra a mulher em pranto.
O clérigo corta a garganta do menino de um lado a outro do pescoço. O sangue jorra e corre quente e escarlate pela cama, pingando no chão. Sobre o corpo já sem vida, o sacerdote recita uma oração:
-- Piedoso Leen! Pelo sangue aqui vertido, eu o suplico: abençoa e conduza esta alma até os Planos Superiores, para que daqui em diante, ela permaneça em eterna felicidade.
O homem continua a segurar a esposa firmemente, que se debate com furor. "Mais tarde ela vai entender" pensa, "a dor do nosso filho terminou e ele ficará melhor agora". A doença da criança, além de torturar-lhe corpo, trazia sofrimento aos pais, aos vizinhos e às demais crianças das redondezas.
Apesar de pensar assim, o homem chora silenciosamente a perda do filho amado.
-- Não! Meu filho! Você matou ele! Assassino! – a mulher chora copiosamente. Grita a plenos pulmões em desespero e revolta, como só uma mãe pode lamentar a morte do filho. E seu filho agora jaz ali. Diante de seus olhos, sob sua observação impotente. Seu filho, seu único filho, morto.

 
CREDOS E DOGMAS
"A morte é a cura"  - Lema do Clero da Última Piedade

Autor não encotrado
Os clérigos da Última Piedade são todos clérigos devotos de Leen, o deus da morte. Este é o nome pelo qual Ragnar é conhecido pela maior parte das raças não goblinóides, principalmente pelos humanos civilizados do Reinado.
Os clérigos desta ordem não o louvam como o cruel deus ceifador de vidas, aspecto geralmente associado a ele. Mas como um deus piedoso e benevolente, pois oferece a morte a todos os moribundos, que passam por sofrimentos indizíveis e incomensuráveis, sem serem agraciados com o favor da morte.
Não encaram a morte como algo maligno e evitável, mas antes um dom, uma bênção para ocasiões de sofrimento. Não é a morte que faz sofrer, pelo contrário, é ela quem sana as dores. Leen é o deus da morte e nada mais. Não é o deus responsável pelas atrocidades que castigam a existência, como guerra, violência, doença, velhice e tristeza. Para combater essas pragas vis criadas pelos outros deuses, Leen oferece piedosamente a morte como remédio.
A morte é parte fundamental do ciclo da vida. Uma não elimina a outra, ambas se complementam, fazem parte do mesmo mecanismo que rege o Universo. A vida não faria sentido sem a morte.
Morrer não é chegar ao fim, é recomeçar. Pois através da morte, Leen concede uma nova oportunidade para se refazer a vida, porém em outro lugar: junto aos deuses. A morte é passagem, é parte do trajeto percorrido pela alma.
Mas o momento da morte de cada indivíduo é determinado por Leen, e não deve ser protelado ou adiantado, exceto em casos de morte iminente, em que a chance de recuperação é nula e a agonia é insuportável. Nesses casos extremos, é realizado o ritual do Sacrifício.
A cura, medicinal ou divina, é a maior ofensa possível a Leen, pois através desse meio, o maior dom de Leen aos seres vivos é negado. Quando a auto-recuperação é impossível, significa que o momento estipulado por Leen da "passagem" chegou, e a morte é inevitável. Exatamente por esse conceito, um clérigo da Última Piedade jamais permite um ritual ou processo de cura em sua presença. Ser curado então, é a maior das desonras.
A ressurreição é algo não tolerado pela ordem também. Ressuscitar alguém seria de uma crueldade sem medidas, pois se faz nada menos do que retirar a alma, que enfim alcançou o descanso e a bonança eternos, dos próprios braços dos deuses para retornarem à vida ridícula e mesquinha na qual viviam. O caso é agravado pelos sacrificados pela ordem, pois estes são verdadeiros abençoados por contarem com o apoio pessoal de Leen para a bem-aventurança no além. Tirá-los do conforto divino é uma grande heresia, com os responsáveis sendo caçados pelos clérigos para que paguem seus pecados, purificando a alma através do sacrifício.
A incidência de mortos-vivos é vista pelo Clero como pecaminosa e deve ser sumariamente extirpada, para conceder o descanso merecido a essas almas atormentadas. Criar ou manipular esses seres desgraçados é crime e a obrigação de todo clérigo da Última Piedade é punir o criminoso. Após a eliminação do morto-vivo uma oração específica é entoada, muito parecida com a do Sacrifício.
Praticam a doutrina da ascese, que prega o desprezo do corpo, considerado apenas um "invólucro" da alma. Para tanto, levam uma vida de penitências corporais, a fim de purificar e santificar a alma: jejuns, auto-flagelamento e total desapego de bens materiais.
Mensalmente permanecem em jejum pelo período de dois dias consecutivos, não tendo um dia específico obrigatório do mês para essa prática. Durante esse breve período, podem ter algumas visões, algum lugar apontado por Leen para onde devem ir ou alguém que necessita purificar a alma (ser sacrificado), são os mais comuns.
O ritual de flagelamento é realizado uma vez por ano, durante uma noite com lua em Foice no Exinn, o mês consagrado a Leen (último mês do inverno). O método mais comum é o golpeando com qualquer espécie de arma não letal até a exaustão total, ou desmaio. Assim acreditam limpar a alma das más intenções e pensamentos incorretos, atingindo uma aproximação espiritual com Leen, não sendo raro que tenham também diversas visões.
Ainda seguindo o ascetismo, levam uma vida despojada e frugal. Possuem apenas o necessário à sobrevivência, já que desta vida nada levarão. Nenhum dos clérigos da Última Piedade possui ou deseja grandes posses ou artefatos, pois têm consciência da aproximação inexorável do último instante, no qual nenhuma riqueza fará sentido.
 Entre os poucos objetos que carregam consigo, dois são essenciais, pois são os distintivos de sua fé: uma foice curta de lâmina prateada, usada no ritual de sacrifício e um pequeno amuleto em forma de foice pendurado ao pescoço. Utilizam sempre vestes brancas. O preto dá azar.


 O Sacrifício
 
"PIEDOSO LEEN!  PELO SANGUE AQUI VERTIDO,  EU O SUPLICO: ABENÇOA E CONDUZA ESTA ALMA ATÉ OS PLANOS SUPERIORES,  PARA QUE DAQUI EM DIANTE,  ELA PERMANEÇA  EM ETERNA FELICIDADE"
 - Oração a Leen, recitada sempre após o ritual do Sacrifício.

Leen exige de seus clérigos o sacrifício de um humano ou semi-humano por mês. E os clérigos da Última Piedade realizam esse ritual como um ato de legítima piedade. Os preceitos canônicos da ordem só permitem sacrifícios de indivíduos à beira da morte, seja por doença, ferimento, ou qualquer outra aflição que explicite a inevitabilidade da morte.
O grau de intensidade do ferimento ou doença utilizado como aceitável para o sacrifício, depende do julgamento do próprio clérigo que realizará o ritual. A questão é que a definição de estar à beira da morte costuma variar enormemente de clérigo para clérigo.
Apesar do atual líder da ordem recomendar cautela e rigor no julgamento, ele não pode supervisionar as atividades de todos os clérigos da ordem, já que todos agem com independência. É fato que a proximidade do final do mês e a respectiva ausência do sacrifício mensal tornam esse julgamento bem mais maleável. Para não desagradar Leen, descumprindo uma das obrigações da religião, alguns clérigos sacrificam pessoas simplesmente gripadas ou com arranhões, considerando como justificativas válidas para o ritual.
Além de realizarem o ritual de sacrifício com total altruísmo e compaixão, acreditam que apenas através do sacrifício é que Leen guia as almas até os planos divinos, onde terão uma existência abençoada. Assim, garante-se que a alma seja bem acolhida em seu destino final e não se perca.
É necessária uma vítima moribunda para cada clérigo: Leen age individualmente em cada sacerdote sacrificador.
O sacrifício só pode ser feito com uma pequena foice (símbolo de Leen) de lâmina prateada, que representa a pureza e a piedade benevolente. Após rápida evocação silenciosa de Leen, a lâmina é tocada levemente na testa do sacrificado, depois na testa do sacrificante, depois um breve e certeiro golpe no pescoço, de uma orelha à outra. Golpe que treinam durante muito tempo até alcançarem a quase perfeição. Sobre o corpo é entoada a Oração a Leen em favor da alma.

ORIGEM DO CLERO
O Clero da Última Piedade foi fundado há exatos 44 anos atrás pelo casal fortuniense Corini e Adalkar Sebien, ambos nativos do norte de Fortuna. Adalkar, filho de fazendeiros com posses razoáveis, foi estudar na capital do reino, Nimbarann, ao atingir a adolescência. Quando os estudos acabaram, retornou à cidade natal, onde se casou com Corini, uma camponesa devota de Lena, a deusa da cura.
Tiveram uma filha, que adoeceu ainda muito pequena. Um inverno especialmente rigoroso os manteve relativamente isolados no ermo norte fortuniense, sob neve espessa. Curandeiros e clérigos missionários das redondezas visitaram a criança, mas não conseguiram curar a doença do bebê.
O choro da criança era frequente, seu sofrimento era visível apesar da pouca idade, sem que pudesse reclamar das dores horríveis em seu diminuto corpinho. A doença abalou muito a família, mas principalmente os pais Corini e Adalkar, deprimidos e atormentados com a enfermidade da filha. O desespero e a dor eram insuportáveis e os pais oraram aos deuses em choro e clamor pelo fim da agonia. Suas preces foram atendidas, a menina, ainda um bebê, morreu em espasmos. Sua morte foi profundamente sentida, claro, mas, de certa forma, trouxe alivio.
Quando a ajuda requisitada da Ordem de Lena chegou, a criança já havia perecido. Restou à clériga da cura apenas o consolo da abalada família. Corini estava confusa: aprendera que a morte era terrível, cruel e agourenta, a pior coisa do mundo; mas apesar da filha ter deixado grandes saudades, a morte curou sua doença. E Corini teve esperanças de que a filha estivesse melhor acolhida entre os deuses do que quando lhe deu a luz. Adalkar e Corini nunca mais tiveram filhos, pois ela, devido a complicações no parto, ficou estéril.
O casal percebeu que a morte afinal, não era assim tão abominável, mas antes um processo natural da vida e pode inclusive, ser um ato de clemência e piedade.
Os conhecidos diziam que Corini mudou drasticamente de comportamento após a morte da filha, o que era totalmente compreensível. Tinha "ares de perturbação", parecia afetada por "influências externas". Mas seu prestígio na vila em que morava era grande e contava com a simpatia de muita gente: esses foram seus primeiros seguidores.
Corini e Adalkar compartilhavam a mesma ideia da morte ser uma etapa do desenvolvimento natural dos seres, mais especificamente da alma. Adalkar discorria sobre o assunto, baseando-se em profundas teorias teológicas e filosóficas, frutos da cultura adquirida em Nimbarann. Mas não possuía o carisma e o apelo popular da agora fanática Corini. Suas contribuições à nova seita que surgia se restringiam basicamente ao apoio financeiro, já que vinha de rica família.
Corini dirigia, desde então, suas orações a um conceito abstrato, mas indubitavelmente presente: a morte. Aprendera quando criança, que Leen era o deus da morte e opositor de Lena. Mas nomes não importavam, só os sentimentos e convicções de que a morte era piedosa. Por algum motivo, Leen/Ragnar ouviu suas orações e tornou-lhe clériga da morte.
As pregações de Corini não diferiam muito dos credos atuais da ordem. Seus primeiros ouvintes foram os moradores da vila onde residiam. Seus discursos, claro, geraram muita polêmica e controvérsias. Mas Corini era do povo, tinha as mesmas superstições, usava da mesma linguagem, era "gente da gente" como diziam. Mesmo assim, suas ideias revoltaram alguns, causaram indiferença a outros, mas cativaram alguns poucos. Corini já tinha simpatizantes da sua seita.
Piedosamente, Corini sacrificou seus pais e sogros enquanto dormiam: estavam sofrendo com a velhice e a doença. Com isso, Adalkar herdou uma pequena fortuna. A milícia os perseguiu sob a acusação de homicídio e tiveram de fugir  e buscar abrigo nas montanhas no norte de Fortuna. Seus seguidores os acompanharam. Formou-se assim  o Clero da Última Piedade. Seus ensinamentos foram se espalhando por Fortuna e reinos vizinhos por várias décadas, alterando-se pouco no conceito ao longo do tempo.
Adalkar teve uma grave infecção não medicada no pé. Corini contraiu forte pneumonia alguns anos após a fundação do Clero. Ambos foram sacrificados por companheiros clérigos em belas cerimônias antes de falecerem naturalmente.

ORGANIZAÇÃO CLERICAL
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O Clero não possui hierarquias entre os clérigos, exceto pelo líder da ordem, que é geralmente o membro mais velho. Muito respeitado pelos demais integrantes, recebe o título de Sumo-Clérigo de Leen.
Possuem uma sede nas montanhas no norte de Fortuna, quer lhes serve de refúgio caso seja necessário, mas também como ponto de encontro todos os anos na Leenentéia (veja "A Reunião"). Na verdade, o local mais parece uma imensa cabana abandonada do que um templo ou sede clerical. Porém a estrutura é muito sólida, espaçosa e confortável. Foi construída nos tempos áureos da ordem, quando Corini e Adalkar comandavam o Clero.
Permanecem principalmente em Fortuna, mas mantém constantes jornadas e ampliam cada vez mais suas áreas de atuação.

O Líder Atual
 "Acredita que a morte é o pior dos infortúnios? Uma desgraça muito maior é  desejar a morte, mas ela não ser permitida."
 - Stoykov Kliugim, líder do Clero da Última Piedade.

 O atual Sumo-Clérigo e líder do Clero da Última Piedade é Stoykov Kliugim, um nativo das Montanhas Uivantes, o reino montanhoso e glacial ao norte de Fortuna. Entre seu povo, seu nome significa Olho-do-Céu, devido à pureza límpida do azul de seus olhos.
      Stoykov Kliugim é um homem imenso, com quase dois metros de altura e extremamente robusto. Com longos cabelos louros e barba espessa da mesma cor, tem a pele alva, levemente queimada pelo sol das estradas. É o membro mais velho do Clero, com 46 anos de idade, considerado pelos demais devotos como um homem firme, correto, sábio e piedoso, tido em alta estima pelos clérigos e líder incontestável da ordem...até que Leen o leve.

Iniciação
Primeiramente um candidato a clérigo da Última Piedade deve acompanhar um clérigo da ordem em missão por pelo menos um ano. Passado esse tempo, se o clérigo-mestre considerar seu discípulo apto, ambos se dirigem à sede nas montanhas setentrionais de Fortuna, onde o aprendiz será sagrado clérigo na Leenentéia.
Sob sua liderança, Stoykov Kliugim recomenda a diminuição do tempo de preparo do aprendiz. Para ele basta que o aspirante a clérigo compreenda os preceitos do Clero e compartilhe das mesmas ideias. Stoykov busca a ampliação do número de clérigos na ordem, pois eles são poucos, já que seus dogmas não permitem a medicação de forma alguma. Assim, as mortes são frequentes e por motivos às vezes banais. Clérigos da Última Piedade costumam ter uma expectativa de vida muito baixa, qualquer ferimento ou doença pode significar a morte.

A Reunião
Todos os anos, no Exinn, último mês do inverno, consagrado a Leen, os clérigos da Última Piedade realizam uma reunião na suas sede. É a Leenentéia, com duração de cinco dias, iniciando na primeira noite de fase completa de lua em Foice do mês.
Leenentéia é um termo de significado e origem controversos. O mais provável, ou aceito, é que significa "Louvor a Leen" em um dialeto élfico. Conta-se que foi Adalkar quem nomeou o encontro ritual.
O primeiro dia é dedicado aos reencontros e comemorações. No segundo praticam o ritual de auto-flagelamento anual e iniciam um jejum. Dedicam o terceiro dia às sagrações dos novos sacerdotes. No quarto, terminam o jejum com refeições leves e prestam homenagens ao Sumo-Clérigo, ou um novo é nomeado. O quinto e último dia da Leenentéia é dedicado aos festejos e a um pretenso banquete (que um halfling classificaria como um lanche muito pobre). Depois disso, separam-se novamente para divulgar sua religião por Arton.
Apesar de a Leenentéia ser anual, dificilmente um clérigo participa da reunião todos os anos, devido às longas viagens que empreendem. Apenas o líder deve participar sempre, já que com duas faltas consecutivas à Leenentéia o Sumo-Clérigo é dado como morto e um novo líder é proclamado. Se caso ocorrer de o antigo Sumo-Clérigo não estiver morto e retornar à sede, seu posto não é devolvido, permanecendo com o atual líder proclamado.
A nomeação de um eventual novo líder da ordem é feito na Leenentéia, em que o membro mais velho presente na reunião é sagrado novo Sumo-Clérigo. Porém, isso só ocorre se houver a comprovação da notícia da morte do antigo líder por pelo menos um clérigo ali presente, ou após duas ausências consecutivas.

RELAÇÕES
Clérigos da Última Piedade de modo algum ocultam ou dissimulam sua devoção a Leen. Ostentam o símbolo de Leen (a foice) abertamente e com orgulho. Mas sabem que muitas pessoas não compreendem seu sacerdócio, por isso se valem de diversos meios para livrarem-se de um aperto, como oratória,  camuflagem, fugas ou combate nessas situações de intolerância à sua crença.
A maioria das pessoas vê esses clérigos como criminosos, ou no mínimo, loucos perigosos. Outros entendem os atos altruístas desses clérigos, mas geralmente não se envolvem em seus assuntos, enquanto poucos os admiram e podem se tornar novos clérigos.
O Clero considera os demais clérigos de Leen como os Sacerdotes Negros, hereges e desviados da verdadeira fé a Leen. Enquanto os raros sacerdotes de Leen mais tradicionais que tomaram contato  com o Clero da Última Piedade, acham que eles são uns pobres coitados iludidos por um pseudo-intelectualismo fortuniense e um falso conceito de bondade, mas  mesmo assim cumprem suas obrigações de clérigos da morte.
      Quanto às demais ordens religiosas, os clérigos de Nimb, o deus do Caos, Sorte e Azar, o culto mais popular em Fortuna, recomendam à população que se afastem dos clérigos de Leen, pois eles não "batem bem da cabeça". A ordem de Lena é totalmente opositora ao Clero, pois acha que eles têm uma ideia absurda de benevolência e piedade, a morte nunca é a saída segundo as clérigas da Cura. Os clérigos de Khalmyr, o deus da Justiça, preferem aguardar e receber maiores informações a respeito dessa seita, a fim de darem um veredicto justo sobre o assunto. A quebra dos tabus relacionados à morte pode atrair a amizade de devotos de Thyatis, o deus da Ressurreição e Profecia, apesar de entrarem em sério conflito a respeito da ressurreição.
Suas atuações mais frequentes são no norte de Fortuna e nas Montanhas Uivantes, onde se  aproveitam da baixa densidade demográfica e da falta  de informação da maior parte da população para agir e propagar sua fé. As superstições fortunienses seguidas à risca pelos clérigos, também ajudam no envolvimento com o povo.
Atualmente têm atuado muito no reino de Lomatubar. Com o surgimento da Praga Coral, podem espalhar seus atos magnânimos de piedade, sacrificando os doentes da Praga e dando-lhes uma nova existência entre os deuses.
Suas ações ainda não chegaram aos ouvidos das autoridades do alto escalão do reino, fato que talvez não tarde tanto a acontecer, já que em várias pequenas vilas são perseguidos pelas milícias locais.

Azarismo
O Clero da Última Piedade é uma seita ainda pouco conhecida, mas está adquirindo fama cada vez maior com a procura do sacerdócio por diversos intelectuais fortunienses. Há pouco tempo, ganhou força uma corrente filosófica vinda da capital Nimbarann: é o Azarismo, uma filosofia fatalista que acredita na desgraça frequente da aleatoriedade.
Que tudo na vida é aleatório é uma ideia certa em Fortuna, sedimentada em qualquer mente do reino. Mas os azaristas acreditam que os resultados aleatórios negativos são muito mais prováveis e frequentes que os resultados positivos, ou seja, o Caos é mais propenso à negatividade. Maus resultados são muito mais numerosos que bons resultados. Suas hipóteses são advindas de profundas teses filosóficas existenciais e comprovadas por diversos e complicados teoremas matemáticos.
Se a vida é uma repetição infindável de desgraças, qual o sentido da vida? Para responder essa pergunta, muitos azaristas estão buscando o sacerdócio de Leen no Clero da Última Piedade.
Apesar dos integrantes do Clero terem aumentado consideravelmente com a adesão dos azaristas, o líder da ordem, Stoykov Kliugim, é relutante em aceitá-los na ordem, temendo que a fé deles não seja sincera, ou que acabem por deturpar os conceitos clericais da ordem.
REGRAS:
Pré-requisitos:
Tendência: Caótica e Neutra
  
Caracteristicas:
Domínios: Caos, Destruição e Sorte.
Poderes Concedidos: Adormecer, Aptidão Mágica, Devoto, Golpe de Misericórdia Aprimorado, Maestria com Foice.
Obrigações e Restrições: Sacrifício mensal de um moribundo. Só utilizar como arma a foice, símbolo de Leen. Não podem conjurar magias da Sub-escola Cura. Não podem ter graduações na Perícia Cura, nem utilizá-la de forma alguma. Não devem valer-se de itens ou habilidades que de alguma forma restaurem Pontos de Vida.

NOVOS PODERES CONCEDIDOS
Adormecer
Pré-requisitos: capacidade de conjurar magias divinas, pertencer ao Clero da Última Piedade.
 Benefício: Adiciona a magia Sono a sua lista de magias. Uma vez por dia para cada ponto de modificador de Carisma (por  exemplo, 1 vez com Sab. 12-13)

Golpe de Misericórdia Aprimorado
 Pré-requisito: capacidade de conjurar magias divinas, pertencer ao Clero da Última Piedade, Bônus Base de Ataque igual ou superior a +1
 Benefício: impõe um modificador de +5 à CD de Fortitude do alvo para resistir a um golpe de misericórdia (LdJ. 3.5, p.153).
 Especial: pode ser adquirido mais vezes, adicionando +5 à CD de Fort. do alvo.
 


Maestria com Foice 
Pré-requisito: capacidade de conjurar magias divinas, pertencer ao Clero da Última Piedade.
Benefício: recebe um Bônus de dano de +2, válido apenas para foice (curta e longa).

Autor :  Rômulo "Kainof" Ohlweiler
Kainof, pseudo-piadista vendedor de amuletos mágicos e clérigo de um deus que nunca ouviu falar. 
Material Originalmente postado na Lista Tormenta, do Yahoo Groups.
Publicado com a autorização do autor.

5 comentários:

  1. Uou! Texto longo, mas bem interessante!

    Tenho visto bastante material da Iniciativa Tormenta rolando na net e, pelo visto, tem sido de qualidade!

    Ótimo material de campanha e ótimo conto! Parabéns para o autor!

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  2. Brauner, parece interesante mas o texto tá aprecendo enorme aqui no meu PC e estou com dificuldade pra ler.

    Não tem como dar uma diminuida na fonte?
    Ou ai no teu PC tá aparecendo normal?

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  3. Cara, texto longo, mais muito bom. Gostei muito do conto.

    A adoção de Fortuna para essa variante do culto a Leen tb foi ótima. Fortuna é um reino propício a este tipo de variante.

    Sugestões mecânicas:

    Adormecer devia usar o bônus de Car e não Sab no nº de usos diários. Sabedoria é uma habilidade primária dos clérigos, de forma que com este talento ele pode conjurar sono 4 a 6 vezes por dia facilmente (apelativo). Além disso em TRPG não há variação das magias segundo o nível de conjurador, sendo desnecessária esta descrição.

    Maestria com a foice me parece meio redundante com foco em arma (apesar de conceder benefício a 2 armas). Ao invés do bônus de +1 nos ataques, fornecer bônus de +2 ao dano com foices daria personalidade ao talento.

    Todos os talentos deveriam ser de Poder Concedido, de forma que o clérigo possa adquirí-los como habilidade de classe.

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  4. Mais uma coisa, a imagem do guerreiro com foice é do jogo Dante's Inferno http://www.dantesinferno.com/home.action

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