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terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Entrevista com Karen Soarele



Karen, é um prazer te entrevistar.

Oi, Fernando! O prazer é todo meu em poder compartilhar um pouco sobre meu processo criativo aqui com os leitores do Knight of Hammer. Obrigada pelo convite!

1 – Eu li o seu livro A Joia da Alma. É um livro excelente, a premissa é muito legal. Por que lidar com a morte de forma tão permanente em Arton? E em que  personagens da literatura ou do cinema você se inspirou para a criação de seus personagens tão únicos?

Já vamos começar com spoilers? Então vamos lá! A morte é um tema marcante em A Joia da Alma, mas eu busquei trabalhar principalmente o lado do sobrevivente. O pesar, a indignação e, principalmente, o sentimento de culpa. Nem sempre as coisas saem como planejamos e tentar esquecer não é a melhor solução. Às vezes precisamos admitir que não está tudo bem, deixar cair a máscara de orgulho e aceitar a ajuda de quem nos quer bem. Meus personagens não foram inspirados em personagens da literatura e do cinema. Eles são inspirados em medos e inseguranças de pessoas reais.

2 – No seu livro A Joia da Alma, você nos apresenta novos personagens.  Algum deles voltará em algum livro ou conto próximo? Ou seu próximo livro sobre Arton será totalmente independente dele, fugindo do formato de triologias?

Dois dos personagens de A Joia da Alma já aparecerem no conto A Última Noite em Lenórienn, publicado na coletânea Crônicas da Tormenta volume 2. São a Gwen, uma elfa clériga de Tanna-Toh, e o Dok, um goblin engenhoqueiro. O conto narra como o destino reuniu a inesperada dupla na noite da queda da cidade élfica.
Sobre projetos futuros, ainda não temos uma definição. Eu gosto do fato de A Joia da Alma ser um livro autossuficiente: você não precisa ter lido nada antes, e nem precisará esperar por próximos livros. O romance termina em si mesmo. Apesar disso, ainda há muito o que se contar sobre os personagens.

3 – Você joga RPG?  E como e em que ano, você se tornou uma jogadora de RPG?

A primeira vez em que joguei RPG foi em 1998, quando meu irmão apareceu em casa com uma caixa do Dragon Quest. Foi paixão à primeira vista! A empolgação foi tanta, que o mago do grupo se irritou comigo e meteu uma bola de fogo na cabeça do meu guerreiro. Bons tempos! O primeiro RPG que era meu mesmo, me pertencia, “my preciousssss” foi um Defensores de Tóquio do Marcelo Cassaro, que meu pai trouxe da banca, dizendo “acho que esse na capa é o Goku, mas ele tem cabelo de banana…”. Uma verdadeira pérola.

4 – Com a sua participação na criação do cenário de Tormenta RPG, o criar locais  em A Joia da Alma, existe algum lugar que você gostaria de nos dar mais detalhes sobre sua criação?

Sem dúvidas, o local que mais gostei de criar foi o castelo de Adhurian. Usei a descrição do ambiente para representar os sentimentos do personagem principal, Christian. O castelo e toda a região onde ele se localiza são descritos três vezes ao longo do livro, porém nunca da mesma maneira. A forma como entendemos o mundo passa pelo filtro dos nossos olhos, e com Christian não é diferente. Quando ele está feliz, vê o lado mágico do local, percebe as cores do céu e o frescor do vento. Quando está irritado, só enxerga o lado ruim de tudo. No final do livro, ele reconhece a importância que o lar de sua infância tem naquilo em que ele se tornou, e reconhece também o valor de quem é. Consegue perceber seu lugar no mundo e enxergar Adhurian com mais clareza e menos arrogância. O leitor vê o que Christian vê, mesmo o livro sendo narrado em terceira pessoa.

5 – Qual sua raça favorita de Arton? Que locais você gostaria de desenvolver mais?

O que eu mais gosto é justamente a riqueza de raças que o cenário oferece. Em A Joia da Alma, adorei escrever as cenas da Verônica, que é uma medusa de personalidade forte, que traça seu próprio caminho. Mas o exotismo da Verônica funciona muito melhor em contraste com a banalidade com que Christian tem levado a vida. E o clima de Arton vem com tudo para a história quando colocamos os dois em meio aos mais diversos personagens, o que inclui um lefou, um minotauro e uma qareen — outra raça fascinante.

6 – Você mora no Canadá. Como é viver num pais tão diferente do Brasil?

Uma aventura e tanto! Moro aqui há quase três anos, período em que entrei de cabeça na cultura e nos costumes canadenses. Até certo ponto, eles são parecidos conosco: uma sociedade ocidental. Porém, quando você chega mais perto, consegue ver as sutilezas. Os canadenses têm um entendimento muito maior sobre viver em comunidade, fazer a sua parte pelo bem do outro. Eles se assustam com qualquer demonstração mínima de violência. Pedem desculpas por tudo (as piadas que vocês vêem por aí não são exagero!), são atenciosos com todos e gratos aos heróis nacionais. Fogem do espírito workaholic dos vizinhos americanos e buscam valorizar a diversidade, o que é muito bom para quem vem de fora. Além de aprender sobre a cultura canadense, também tive conversas muito proveitosas com outros imigrantes, como árabes, chineses, coreanos, mexicanos e vietnamitas. Cada uma dessas pessoas deixou sua marca em mim, e eu busco usar o que aprendo na vida real para enriquecer o que levo para meus livros.

7 – Quais  autores são referências para o seu trabalho? Desses autores, quais autores brasileiros te inspiram?

Assim como muitos da minha geração, uma das minhas maiores inspirações é J. K. Rowling, uma autora que lutou contra todas as adversidades para nos oferecer uma história maravilhosa. De quebra, mostrou ao mundo que as mulheres também estão prontas a dar uma contribuição de peso para a literatura fantástica. Por motivo semelhante, admiro muito o Eduardo Spohr, que além de tudo é uma pessoa acessível e gentil. Já gravamos alguns podcasts juntos.

8 – Além de filmes e livros, você curte quadrinhos? Quais seus personagens favoritos?

Gosto de graphic novels e de mangás, não tenho muita paciência para quadrinhos que não terminam nunca. (risos) Quando fui ao Brasil para o lançamento de A Joia da Alma, aproveitei para comprar todos os MSP que ainda me faltavam. Atualmente, estou lendo Repeteco, uma graphic novel de Bryan Lee O’Malley, mesmo autor de Scott Pilgrim.

9 – Qual a sua formação de nível superior? E como ela influenciou na sua carreira de escritora?

Sou graduada em Comunicação Social: Publicidade e Propaganda, e pós-graduada em Comunicação: Linguagens, produção textual e literatura. Muita gente pensa em cursar Letras para trabalhar como escritor, mas eu recomendo Jornalismo ou Publicidade. A faculdade de Publicidade me serviu não apenas para estimular a parte criativa, como também para fomentar o empreendedorismo e me incentivar a correr atrás dos meus sonhos. O mais importante é nunca parar de estudar, e ter em mente que sempre haverá mais a se aprender.

10 – Como foi que surgiu o primeiro trabalho com Tormenta?

Eu já tinha escrito e publicado quatro livros de fantasia no meu universo próprio, o da Série Crônicas de Myríade, e desenvolvia há alguns anos um trabalho de incentivo à leitura junto a escolas. Foi quando apresentei meu trabalho para a Jambô Editora, em meados de 2015. Primeiro, eles pediram um conto teste, e logo depois surgiu o convite para escrever o novo romance no cenário de Tormenta. Tive o Guilherme Dei Svaldi como editor. Lembro de perguntar se ele queria que eu escrevesse a respeito de algo específico no cenário, mas ele me deu completa liberdade para abordar o tema que eu bem entendesse. Foi uma experiência muito gostosa! Adorei o processo e fiquei feliz com o resultado de 16 meses de trabalho no livro.

11 – Fale um pouco sobre você, qual sua idade, que time de futebol você curte, qual seu esporte favorito?

Nasci em Assaí, no interior do Paraná, em 1988. Morei por quinze anos em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, e mais alguns em Curitiba e em Brasília. Hoje tenho 29 anos e vivo no Canadá, mas morro de vontade de retornar ao Brasil. Amo futebol e amo o Corinthians! Além disso, algo que realmente gosto é de jogar boardgames. Tenho um canal no YouTube, em que faço resenhas e ensino as regras dos jogos que mais gosto. Também me divirto escutando e gravando podcasts. No podcast Papo de Autor, trago alguns colegas para contar curiosidades e debater assuntos relacionados à profissão de escritor.

12 – Quais os seus filmes favoritos? E quais diretores te impressionam?

Gosto muito de O Grande Truque, do Christopher Nolan, e de Stardust - O Mistério da Estrela, baseado no romance de Neil Gaiman. Me encanto com tudo o que o J. J. Abrams dirige e escreve, mas não necessariamente o que ele produz.

13 – Quais os seus livros favoritos? Que tipo de tema/cenário permeia a maioria de suas leituras? Algum autor brasileiro faz parte desses?

De longe, o meu livro favorito é As Crônicas de Nárnia, de C. S. Lewis. É uma história que me cativou, me fez entrar em um universo fantástico e sentir emoções muito fortes. Meu personagem favorito nesse mundo é Ripchip, o líder dos ratos falantes de Nárnia. A maioria dos livros que tenho na estante são de literatura fantástica, apesar de também gostar daqueles romances água-com-açúcar, de “mulherzinha”. Não gosto de terror, mas tem um que eu li e simplesmente me apaixonei: Branca dos Mortos e os Sete Zumbis, do brasileiro Fabio Yabu. Escolha de leitura feita unicamente por causa do autor, gosto de tudo o que ele escreve.

14 – Você costuma jogar mais ou mestrar mais?

Eu só jogo. Tentei mestrar algumas vezes e não deu muito certo. Na última vez, foi uma adaptação de Ragnarok Online para 3D&T. O que era para ser uma aventurinha rápida, standalone, acabou se tornando uma sessão de RPG de 11 horas de duração (horas corridas!). Nunca mais me deixaram mestrar.

15 – Qual a aventura mais legal que você já jogou/mestrou?

Certa vez, joguei uma adaptação da HQ Mouse Guard para 3D&T. Todos os personagens eram ratinhos, e precisávamos cumprir missões e lutar contra perigosos siris, fuinhas e até corujas (haja coragem!). A história foi boa, mas o que realmente tornou a aventura inesquecível foram os jogadores. Um amigo fez um personagem que era mentiroso compulsivo, e o jogador mentia de forma bem criativa e sem nem piscar! Vê-lo mentindo com tanta maestria foi um tanto assustador, e justamente por isso rendeu boas risadas.

16 – O que você diria para alguém que deseja trabalhar com literatura fantástica?

Muita leitura, muito estudo e muita prática! Não esperem ganhar milhões com o primeiro texto escrito, mas também não aceitem pagar para trabalhar. O reconhecimento só vem para aqueles que dão duro, então nunca se dêem por vencidos. Acreditem nos seus sonhos.

17 – Você tem um blog seu?


Tenho o meu canal no YouTube, com conteúdo sobre criação literária, filmes e board games: https://www.youtube.com/channel/UCLvfheziMNy8H1HsQ83Q1Jg

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