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terça-feira, 12 de maio de 2020

Guenhwyvar conto

Guenhwyvar -Um conto da mais famosa pantera negra dos REINOS ESQUECIDOS

Equipe de Tradução: Priscila Veduatto, Daniel B. Vieira e Ricardo Costa

Josidiah Starym saltitava tediosamente pelas ruas de Cormanthor, o elfo normalmente austero e melancólico estava um pouco volúvel este dia, tanto por causa do tempo bonito quanto pelos acontecimentos recentes da sua mais preciosa e encantadora cidade. Josidiah era um espada cantante, uma união entre a espada e magia, protetor dos costumes élficos e do povo élfico. E, neste ano de 253, muitos elfos precisavam de proteção em Cormanthor. Goblinóides eram abundantes e até pior, o tumulto emocional dentro da cidade, a discussão entre as nobres famílias - incluindo os Starym - ameaçava ruir tudo aquilo que Coronal Eltargrim tinha construído, tudo aquilo que os elfos tinham erigido em Cormanthor, a maior cidade em todo o mundo.
Aqueles, entretanto, não eram problemas para aquele dia, não no sol de primavera, com uma suave brisa norte a soprar. Até mesmo os parentes de Josidiah estavam de bom humor naquele dia; Taleisin, seu tio, tinha prometido ao espada cantante que se arriscaria a ir à corte de Eltargrim para ver se algumas das suas disputas talvez pudessem ser resolvidas.
Josidiah orou para que a corte élfica voltasse ao normal, porque ele, talvez mais do que todos os outros na cidade, tinha mais a perder. Ele era um espada cantante, a epítome do que significava ser elfo e ainda, nesta época curiosa, essas definições não pareciam ser tão claras. Esta era uma época de mudanças, de grandes mágicas, de decisões monumentais.
Esta era a época em que os humanos, os gnomos, os halflings, até mesmo os barbudos anões se aventuravam pelos caminhos sinuosos de Cormanthor, além dos pináculos de pontas de agulha das estruturas élficas de fluxo livre. Por todos os cento e cinqüenta anos de Josidiah, os preceitos élficos pareceram bem definidos e rígidos; mas agora, por causa do seu Coronal, o sábio e gentil Eltargrim, havia muita disputa sobre o que significava ser um elfo e, mais importante, que relações os elfos deveriam promover com as outras belas raças.
"Alegre manhã, Josidiah", veio o chamado de uma elfa, a jovem dama e bela sobrinha do próprio Eltargrim. Ela estava em pé em uma sacada, olhando para o jardim elevado, cujos brotos ainda não tinham desabrochado, na a alameda além.
Josidiah parou a meio passo, saltou alto no ar em um giro completo e pousou perfeitamente em uma reverência, seu longo cabelo dourado chicoteando sua face e voando novamente de forma que seus olhos, do mais luminoso azul, flamejassem. "E a mais alegre das manhãs para você, cara Felicity", o espada cantante respondeu. "Que eu segure ao meu lado flores adequadas a sua beleza em vez destas lâminas feitas para guerra".
"Lâminas tão lindas quanto quaisquer flores que eu já tenha visto", respondeu Felicity provocando, "especialmente quando brandidas por Josidiah Starym ao amanhecer, na pedra plana sobre o Pico de Berenguil".
O espada cantante sentiu o sangue quente correndo por sua face. Ele tinha suspeitado que alguém o estivesse espiando em seu ritual matinal - uma dança com suas magníficas espadas, executada com o corpo nu - e agora ele teve sua confirmação.
"Talvez Felicity deveria se unir a mim ao amanhecer de amanhã", ele respondeu, recuperando seu fôlego e sua dignidade, "para que eu a possa recompensar corretamente por sua espiadela".
A jovem fêmea riu cordialmente e voltou para sua casa e Josidiah chacoalhou a cabeça e continuou seu caminho. Ele se divertiu pensando como poderia recompensar corretamente a travessa fêmea, entretanto temeu que, devido à beleza e posição de Felicity, quaisquer tentativas poderiam conduzir a algo mais, algo em que Josidiah não podia se envolver - não agora, não depois da proclamação de Eltargrim e das drásticas mudanças.
O espada cantante afastou tais pensamentos; era um dia muito bom para qualquer reflexão negra e outros pensamentos sobre Felicity eram muito distrativos para a reunião que se aproximava. Josidiah saiu pelo portão oeste de Cormanthor, os guardas postados lá ofereceram não mais que um aceno respeitoso enquanto ele passava ao céu aberto.
Josidiah amava verdadeiramente esta cidade, mas ele amava as terras além ainda mais. Aqui fora ele estava verdadeiramente livre de todas as preocupações e de todas as brigas insignificantes, e aqui fora havia sempre um sentido de perigo - um goblin poderia estar observando-o até mesmo agora, sua lança pronta para abatê-lo? - aquilo manteve o formidável elfo na sua mais alta guarda.
Aqui fora, também, estava um amigo, um amigo humano, um ranger que se tornou mago chamado Anders Cinturão de Jardins, o qual Josidiah tinha conhecido pela melhor parte de quatro décadas. Anders não se arriscava em Cormanthor, até mesmo após a proclamação de Eltargrim para abrir os portões aos não elfos. Ele viveu longe dos caminhos normais geralmente viajados, em uma torre atarrachada de excelente construção, guardada por proteções mágicas e engodos de sua própria fabricação.
Até mesmo a floresta ao redor de seu lar estava cheia de direções erradas, feitiços de ilusão e confusão.
Tão secreta era a Casa de Cinturão de Jardins que poucos elfos perto de Cormanthor ao menos conheciam e até menos já a tinham visto. E desses, nenhum exceto Josidiah poderia encontrar seu caminho de volta sem a ajuda de Anders.
E Josidiah não mantinha nenhuma ilusão sobre isto - se Anders quisesse esconder os caminhos da torre até mesmo dele, o velho e cauteloso mago teria pouca dificuldade em fazê-lo.
Porém, neste dia maravilhoso, parecia a Josidiah que os caminhos sinuosos para Casa de Cinturão de Jardins eram mais fáceis de seguir do que o habitual e quando ele chegou à estrutura, ele achou a porta destrancada.
"Anders", ele chamou, entrando no corredor escurecido além do portal, o qual sempre cheirava como se uma dúzia de velas tivessem há pouco se extinguido ali dentro. "Velho tolo, você está aqui?".
Um rugido feral pôs o espada cantante de prontidão; suas espadas tão logo estavam em suas mãos com um movimento tão rápido que um observador não conseguiria seguir.
"Anders?", ele chamou novamente, de forma silenciosa, enquanto escolhia seu caminho ao longo do corredor, seus pés se movendo em equilíbrio perfeito, botas macias tocando suavemente a pedra, silencioso como um gato de caça.
O rugido veio novamente e foi exatamente quando Josidiah soube contra o que ele estava lidando: um gato de caça. Um bem grande, o espada cantante reconheceu, pelo profundo rugido ressonado ao longo das pedras do corredor.
Ele passou pelas primeiras portas, defronte uma da outra no corredor e então passou pela segunda à sua esquerda.
Na terceira - ele reconheceu - o som veio da terceira. Aquele conhecimento deu para o espada cantante um pouco de esperança de que a situação estivesse sob controle, pois aquela porta em particular conduzia ao laboratório de alquimia de Anders, um lugar bem guardado pelo velho mago.
Josidiah se amaldiçoou por não estar mais bem preparado magicamente. Ele tinha estudado poucos feitiços naquele dia, pensando ser o suficiente e não querendo desperdiçar nem um momento com sua cara enterrada em livros de magia.
Se ele tivesse apenas algum feitiço que pudesse fazê-lo entrar mais depressa no quarto, por um portão mágico, ou até mesmo um feitiço que enviasse sua visão sondando através parede de pedra do quarto atrás dele.
Ele tinha, pelo menos, suas espadas e, com elas, Josidiah Starym estava longe de ser impotente.
Ele se pôs de costas contra a parede perto da porta e segurou o fôlego firmemente. Então, sem atraso – o velho Anders deve estar em sério perigo - o lâmina cantante girou e invadiu a sala.
Ele sentia os arcos de eletricidade circulando por ele enquanto cruzava o portal protegido e, então, ele estava voando, arremessado pelo ar, para pousar batendo contra a base de uma enorme mesa de carvalho.
Anders Cinturão de Jardins estava em pé calmamente ao lado da mesa, trabalhando com algo em cima dela, nem se encomodando em olhar para baixo, onde estava o atordoado espada cantante. "Você poderia ter batido antes de entrar", o velho mago disse secamente.
Josidiah postou-se de pé informalmente, levantando-se do chão, seus músculos não ainda trabalhando corretamente. Convencido de que não havia nenhum perigo próximo, Josidiah deixou seu olhar se demorar no humano, como fazia freqüentemente. O espada cantante não tinha visto muitos humanos na sua vida - humanos eram uma recente adição do lado norte do Mar das Estrelas Cadentes, e não estavam presentes em grande número dentro ou ao redor de Cormanthor.
Este era o mais curioso humano de todos, com sua face coureácea e enrugada e sua selvagem barba cinza. Um dos olhos de Anders tinha sido arruinado em uma briga e parecia bem morto agora, uma película cinza sobre o verde lustroso que uma vez havia ostentado. Sim, Josidiah poderia encarar o velho Anders por horas a fio, vendo os contos de toda uma vida em suas cicatrizes e rugas. A maioria dos elfos, incluindo os próprios parentes de Josidiah, teriam achado o velho homem uma coisa feia; elfos não enrugavam e resistiam intactos, envelhecendo graciosamente e parecendo, ao término de vários séculos, como quando tinham visto vinte ou cinqüenta invernos.
Josidiah não pensava em Anders como uma feia visão, nem um pouco. Até mesmo os poucos dentes tortos que permaneceram na boca do homem complementavam esta criatura que tinha se tornado, esta criatura envelhecida e sábia, este monumento esculpido por anos debaixo do sol e encarando tempestades, por estações lutando contra goblins e gigantes. Parecia verdadeiramente ridículo a Josidiah que ele tivesse duas vezes a idade deste homem; ele desejou que pudesse ter algumas rugas como testamento de suas experiências.
"Você deveria saber que estaria protegida", Anders riu. "Claro que você sabia! Há, ha, estava apenas fazendo um espetáculo, então. Dando a um velho homem uma boa risada antes de ele morrer!".
"Você viverá mais que eu, eu receio, meu velho", disse o espada cantante.
“De fato, isso é uma distinta possibilidade se você continuar atravessando minhas portas sem se anunciar”.
"Eu temi por você", Josidiah explicou, dando uma olhada na enorme sala - pareceu enorme para se ajustar dentro da torre, até mesmo se tivesse consumido um nível inteiro da mesma. O espada cantante suspeitou um pouco de magia extradimensional em trabalho no lugar, mas ele nunca poderia descobrir e o frustrante Anders certamente não o deixaria.
Tão grande quanto era, o laboratório de alquimia de Anders ainda era um lugar desordenado, com altas pilhas de caixas e mesas e gabinetes sujos em uma confisão sem fim.
"Eu ouvi um rosnado", o elfo continuou. "Um gato e caça". Sem olhar para alguns frascos que estava manejando, Anders acenou com a cabeça na direção de um grande recipiente coberto por um cobertor. "Veja se você não chega muito perto", o velho mago disse com um cacarejo maldoso. 
"O velho Bigodes irá agarrá-lo pelo braço e o arrastará para dentro, não tenha dúvida!".
"E então você precisará mais do que suas espadas brilhantes", Anders cacarejou.
Josidiah nem mesmo estava escutando, pois se aproximava quietamente da manta, movendo-se em silêncio para não perturbar o gato. Ele agarrou a extremidade da manta e, movendo-se para trás por segurança, puxou-a. E então o espada cantante ficou de boca aberta.
Era um gato, como havia suspeitado, uma grande pantera negra, duas vezes - não, três vezes – o tamanho do maior gato que Josidiah já tivesse visto ou ouvido. E o gato era uma fêmea, e fêmeas eram normalmente muito menores do que os machos. Ela se aproximou da gaiola lentamente, metodicamente, como se procurando por alguma fraqueza, alguma escapatória na mesma, seus músculos ondulantes guiando-a com graça incomparável.
"Como você encontrou tal magnífica besta?", o lâmina cantante perguntou. A voz dele aparentemente alarmou a pantera, fazendo-a parar em seu caminho. Ela encarou Josidiah com uma intensidade que roubou quaisquer palavras da boca do espada cantante.
"Oh, eu tenho meus meios, elfo", o velho mago disse. "Eu tenho procurado pelo gato certo durante muito, muito tempo, procurando por todo o mundo conhecido - e pedaços dele ainda não são conhecidos por qualquer um, a não ser por mim!".
"Mas por que?" Josidiah perguntou, sua voz não mais do que um sussurro. Sua pergunta foi direcionada tanto para a magnífica pantera, como para o velho mago e, verdadeiramente, o espada cantante não poderia pensar em nenhuma razão para justificar a presença de tal criatura em um gaiola.
"Você se lembra do meu conto do canyon em caixa", Anders replicou, "de como meu mentor e eu voamos nas costas de uma coruja pra fora das garras de mil goblins?".
Josidiah acernou com a cabeça e sorriu, lembrando bem daquela divertida história. Um momento depois, entretanto, quando as implicações das palavras de Anders o acertaram, o elfo virou em direção ao mago, uma carranca que nublava sua face bela. "A estatueta", Josidiah murmurou, pois a coruja tinha sido não mais que uma estatueta, encantada para produzir um grande pássaro em tempos de necessidade de seu mestre. Havia muitos de tais objetos no mundo, muitos em Cormanthor, e Josidiah não estava ciente dos seus métodos de construção (no entanto, suas próprias magias não eram fortes o bastante ao longo das linhas de encantamento).
Ele olhou para a grande pantera, viu uma tristeza distinta, então se voltou para Anders. “O gato deve ser morto no momento da preparação”, o espada cantante protestou. “Assim sua energia vital será atraída para a estatueta que você terá criado”.
"Estou trabalhando nisso agora mesmo", Anders disse ligeiramente. "Eu contratei o mais excelente anão artíficie para criar a estatueta da pantera. O melhor artesão… er, artíficie, em toda a área. Não tema, a estatueta fará jus ao gato".
"Justiça?", o espada cantante ecoou ceticamente, olhando mais uma vez nos intensos, inteligentes olhos amarelo-esverdeados da enorme pantera. "Você matará o gato?".
"Eu vou oferecer a imortalidade ao gato", Anders disse indignantemente.
"Você oferece morte à sua vontade, e escravidão para o seu corpo", Josidiah rebateu, mais bravo do que jamais esteve com o velho Anders. O espada cantante tinha visto estatuetas e as achava artefatos maravilhosos, apesar do sacrifício do animal em questão. Até mesmo Josidiah matara cervos e porcos selvagem para sua mesa, afinal de contas. Então, por que um mago não deveria criar algum artigo útil a partir de um animal?
Mas dessa vez era diferente, Josidiah sentia em seu coração. Este animal, este gato grandioso e livre, não deveria ser escravizado assim. "Você fará a pantera…" Josidiah começou.
"Bigodes", Anders explicou.
"A pantera…" o espada cantante reiterou vigorosamente, incapaz de discutir por causa de tal tolo nome dado a este animal. "Você fará da pantera uma ferramenta, uma animação que funcionará conforme a vontade de seu mestre".
"O que alguém mais esperaria?", o velho mago argumentou. "O que mais uma pessoa iria querer?".
Josidiah encolheu os ombros e suspirou indefeso. "Independência", ele murmurou. "Senão qual seria o ponto de meus aborrecimentos?". A expressão de Josidiah claramente demostrou seu pensamento. Um companheiro mágico independente poderia não ser de muito uso a um aventureiro em uma situação perigosa, mas seria seguramente preferível do ponto de vista do animal sacrificado.
"Você escolheu errado, espada cantante", Anders replicou. "Você deveria ter estudado para ser um ranger. Seguramente sua compaixão segue naquela direção!".
"Um ranger", o espada cantante perguntou, "como Anders Cinturão de Jardins já foi certa vez?".
O velho mago soou um longo e desamparado suspiro.
"Você já desistiu dos preceitos de seu ofício anterior em troca do doente fascinio dos mistérios mágicos?".
"Oh, e teria sido um ranger muito bom", Anders respondeu secamente.
Josidiah encolheu os ombros. "A profissão que escolhi não é tão diferente", ele argumentou.
Anders concordou silenciosamente. Realmente, o homem viu muito do jovem e idealista que tinha sido nos olhos de Josidiah Starym. Isso era o curioso sobre os elfos, ele notou que este aqui, que era duas vezes a presente idade de Anders, fazia lembrar-se tanto dele mesmo quando tinha um terço de sua presente idade.
"Quando você começará?", Josidiah perguntou.
"Começar?", ridicularizou Anders. “Por que, eu estive trabalhando em cima da besta durante quase três semanas e gastei seis meses antes disso preparando os pergaminhos e pós, e óleos, e ervas. Este não é um processo fácil. E nem barato, eu devo acrescentar! Você sabe que preço um gnomo coloca na mais simples limalhas de metal, pedaços tão bons que poderiam ser acrescentados seguramente à comida do gato?”.
Josidiah realmente achou que não queria mais continuar nesta linha de discussão. Ele não queria saber do envenenamento próximo - e isso era realmente ele considerava que seria - da pantera magnífica. Ele olhou para o gato, olhou fundo nos seus intensos olhos, tão mais inteligentes do que ele normalmente esperaria.
"O dia está bonito dia lá fora", o espada cantante murmurou, não que ele acreditasse que Anders passasse um momento longe do seu trabalho para desfrutar o tempo. “Até mesmo meu teimoso tio Taleisin, Lorde Protetor da Casa Starym, costuma ter uma face tocada pelo sol”.
Anders bufou. "Então ele estará sorrindo este dia quando ele puser a baixo o Coronal Eltargrim com um gancho de direita?".
Isso pegou Josidiah de surpresa e ele suportou a risada infecciosa de Anders. Realmente Taleisin era um elfo teimoso e irritável e se Josidiah voltasse a Casa Starym neste dia para descobrir que seu tio tinha esmurrado o elfo Coronal, ele não seria pego de surpresa.
"É uma decisão de momento que Eltargrim tomou", Anders disse de repente, de modo sério. “E valente. Incluindo as outras raças, seu Coronal começou girar a grande roda do destino, um giro que não vai ser facilmente parado”.
"Para bem ou para o mau?".
"Isso só um vidente pode saber", Anders respondeu encolhendo os ombros. "Mas a escolha dele foi a correta, eu estou seguro, entretanto, tem seus riscos". O velho mago bufou novamente. "Uma pena", ele disse, “até mesmo eu fui jovem, duvido que visse o resultado da decisão de Eltargrim, dado o modo como os elfos medem a passagem de tempo. Quantos séculos se passarão antes que Starym se decida se eles ao menos aceitarão o decreto de Eltargrim?”.
Isso trouxe outro riso por parte de Josidiah, mas não um duradouro. Anders tinha falado de riscos e certamente havia muitos. Várias famílias proeminentes e não só os Starym, se enfureceram pela imigração de pessoas que muitos elfos arrogantes consideraram ser de raças inferiores. Havia alguns casamentos misturados, elfos e humanos, dentro de Cormanthor, mas qualquer descendência de tais uniões foi seguramente banida.
"Meu povo irá aceitar o sábio conselho de Eltargrim", o elfo disse determinado.
"Eu rezo para que você tenha razão", disse Anders, "pois seguramente Cormanthor enfrentará maiores perigos do que a disputa de elfos teimosos".
Josidiah olhou para ele curiosamente.
"Humanos e halflings, gnomos e, mais importante, anões, caminhando entre os elfos, vivendo em Cormanthor", Anders murmurou. "Por que, eu penso, que os goblins saboreiam a idéia de tal ocorrência, que todos seus odiados inimigos sejam misturados juntos em um guisado delicioso!".
"Junto nós somos muitas vezes mais poderosos", o espada cantante argumentou. "Magos humanos excedem muitas vezes até mesmo nosso próprio povo. Anões forjam armas poderosas e gnomos criam artigos maravilhosos e úteis e halflings, sim, até mesmo os halflings, são aliados espertos e adversários perigosos".
"Eu não discordo de você", Anders disse, acenando sua bronzeada e coureácea mão direita, com três dedos, pois havia sido mordida por um goblin, no ar para acalmar o elfo. "E como eu disse, Eltargrim escolheu corretamente. Mas ore para que as disputas internas sejam resolvidas, ou as dificuldades de Cormanthor virão dez vezes pior".
Josidiah acalmou-se e acernou com a cabeça; ele realmente não podia discordar com o argumento do velho Anders e, na realidade, tinha abrigado esses mesmos medos por muitos dias. Com a união de todas as raças debaixo do mesmo telhado, os caóticos goblins teriam causa para se unir em maior número do que antes. Se o povo variado de Cormanthor ficasse junto, ganhando força na sua diversidade, esses goblins, qualquer que fosse seu número, seriam seguramente repelidos. Mas se o povo de Cormanthor não pudesse enxergar um caminho para tal dia de unidade…
Josidiah deixou o pensamento vagar pela sua consciência, deixou de lado para um outro dia, um dia de chuva e névoa, talvez. Ele olhou para a pantera e suspirou até mais tristemente, sentindo-se realmente desamparado. "Trate bem o gato, Anders Cinturão de Jardins", ele disse e soube que o velho homem, uma vez um ranger, realmente faria assim.
Josidiah então partiu, fazendo seu caminho mais lentamente enquanto retornava à cidade élfica. Ele viu Felicity novamente na sacada, usando uma leve roupa de seda e um sorriso travesso e convidativo, mas ele passou por ela como uma onda. O espada cantante não se sentia disposto para jogos.
Muitas vezes nas próximas semanas Josidiah voltou à torre de Anders e sentou-se quietamente em frente à gaiola, comungando silenciosamente com a pantera enquanto o mago fazia seu trabalho.
"Ela será sua quando eu terminar", Anders anunciou inesperadamente, um dia quando a primavera tinha se tornado verão.
Josidiah encarou inexpressivamente o velho homem.
"O gato, eu quero dizer", disse Anders. "Bigodes será seu quando meu trabalho for terminado".
Os olhos azuis de Josidiah se abriram largos em horror, entretanto Anders interpretou o olhar como uma exaltação suprema.
"Ela me será de pouco uso", explicou o mago. "Eu raramente me aventuro ao ar livre estes dias, e na verdade, tenho pouca fé que viverei muito mais de que alguns invernos. Quem melhor para ter minha maior criação, digo eu, do que Josidiah Starym, meu amigo, que deveria ter sido um ranger?".
"Eu não aceitarei", Josidiah disse abruptamente, sério.
Os olhos de Anders se alargaram em surpresa.
"Eu me lembraria para sempre o que o gato foi", disse o elfo, "e o que ela deveria ser. Sempre que eu chamasse seu corpo escravo a meu lado, sempre que esta criatura magnífica se sentasse, esperando meu comando para trazer vida aos seus membros, eu sentiria que teria ultrapassado meus limites como um mortal, que eu teria jogado como um deus, como um indigno de minha tola intervenção".
"É apenas um animal!" Anders protestou.
Josidiah estava alegre em ver que ele tinha atingido o velho mago, um homem, que o elfo sabia, era muito sensível para este presente empreendimento.
"Não", disse o elfo, virando-se para fitar profundamente os olhos sábios da pantera. "Não esta aqui". Ele se calou, então, e Anders, irado em protesto, voltou para o seu trabalho, deixando o elfo sentar-se e fitá-la, compartilhando silenciosamente seus pensamentos com a pantera.

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