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quarta-feira, 23 de maio de 2018

Testemunha

     "Faz alguns anos que venho treinando, afiando minha espada e mente. Testemunhei a morte de meus pais nas mãos de goblinóides. Testemunhei a morte de amigos nas mãos das centúrias táuricas durante as invasões. E não posso, sob nenhuma hipótese, dizer que todos os goblinóides e minotauros são assim. Já ví o que os goblins podem fazer nas favelas em Valkaria, suas invenções incríveis, e vi minotauros em plácidos campos cultivados, levando uma vida tão comum quanto foi a de meus pais. Por mais que o ódio ainda ferva em meu sangue, e que não mais levante as mãos em preces aos supostos deuses, por deixar meus entes queridos morrerem em terrível injustiça, sei que mesmo eles - os tais 'deuses' - não são responsáveis pelas calamidades que se abateram em minha vida, e que a justiça é apenas uma esperança, para que possamos afastar o medo de conviver com os monstros que se avizinham. Os deuses não me darão forças ou meios para enfrentar o mundo.

Meus braços e minha mente vão.

     Os monstros estão em todos os lugares. Uma parte, apenas bestas. Mas a maior parte sabe bem o que quer.

Poder.

     E não importa a raça, eles sempre querem mais. Reis, chefes de estado, não importa quem sejam, o poder os corrompe e é importante que haja gente para controlá-los, confrontá-los e lembrá-los que não podem fazer o que bem entendem.
     Os puristas são o que há de mais indigno entre os yudenianos. São justamente os mais viciados em poder, mais torpes que os mais viciados em achbuld. Eles ditam, eles destróem, eles afirmam serem os donos da verdade. E enquanto houver quem deponha tiranos, haverá também quem coloque representantes legítimos e quem os deponha também, mesmo que sejam quem os elegeram.
     O que quero dizer com tudo isso? Ora, que não há nada permanente na vida, que tudo é suscetível a mudança e que nada é unanime no mundo provável. Mesmo os finais felizes, que podem mudar no foco inicial da felicidade, na melhor das hipóteses. Que nada garante que sua desgraça seja permanente, ou sempre a mesma desgraça - ou mesmo a única desgraça - em um mundo tão cheio de possibilidades.
     O mais importante que quero dizer com minhas palavras, é que é importante ponderar o saque da espada antes que ocorra, pois, uma vez sacada, provavelmente não haverá volta. E se quer se diferenciar dos tiranos, ao sacar sua espada, deve possuir o discernimento de um simples jardnineiro, que remove ervas daninhas e poda as árvores e arbustos antes que se tornem um grande problema, e remove os galhos, plantas e árvores podres, para que nova vida, e vida mais forte, possa existir. E no mundo, aqueles que lutam para fazê-lo melhor, são seus jarnineiros."

Excertos do livro "O Saque da Espada - Filosofia e Modo de Vida do Guerreiro Sábio".

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