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quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Nunca foi um Leão de aço


Weibe Haare Zurick Haut olhou pela janela de seu castelo. Ele nasceu nobre, mas não fora o único nobre que em sua juventude se uniu a grupos de aventureiros. Weibe participara e lutara ao lado dos leões de aço. E apesar de todas as aventuras eles nunca o viram como um deles.  Weibe sangrara ao lado deles, arriscou a vida por eles, combateu o mago Kaltra, quando ele tentou o seu plano de conquistar Arton. Ele sangrou ao lado deles ao combater o assassino elfo que trabalhava para o mago. Ele chorou no funeral de Olminster do Vale Sombrio, e mesmo assim Morion, Galtran, Keef e Mark Silver nunca o viram como um Leão de Aço.
Anos se passaram desde que deixou Galtran e Mark Silver em Malpetrim. Ainda se lembrava do momento. Nenhum sorriso ou palavra amiga, apenas meio sorriso e uma frase vindo de Mark Silver. -Boa sorte.
 Por um momento, Weibe se lembrou de quando enfrentaram os Devoradores de cérebros, e de quando ao entrar em um ninho, os Leões de Aço foram atingidos por uma dezena de bolas de fogo. O teleporte no ultimo momento não impediu os ferimentos, Weibe passou semanas se recuperando mesmo sendo assistido pelos clérigos de Khalmyr em Norm. Mesmo tendo sido ferido por eles, pela ação estúpida do Druida (nunca soube o nome do jovem), de lançar um relâmpago revelando aos Devoradores sua posição. Atitude temerária inspirada por Mark Silver, o líder do grupo, que até aquele momento portava a preciosa marreta Trovão de Khalmyr, que fora abençoada pelo próprio deus. Malditos monstros com caras de polvos...
Um arrepio correu pelas costas de Weibe. A lembrança de Trovão de Khalmyr era forte, a marreta tinha o cabo alternado em dourado e platina, sua cabeça possuía a imagem da balança dos dois lados e era composta de adamante com runas em ouro. Mark Silver nunca mais empunhou aquela arma, mas foram necessários alguns milhares de moedas para ressuscitar Galtran e Olminster.
Galtran e Olminster eram opostos, o jovem bardo e o jovem guerreiro tinham personalidades distintas. Galram era sedutor, risonho até mulherengo. Depois de sua primeira morte Galram criou o grupo dos lobos de prata. Olminster por outro lado era mais fechado e taciturno, ria raramente, mas quando em batalha gargalhava. Seus olhos castanhos e cabelo curto contrastavam com a violência que se via quando sacava sua espada. Sempre letal.
Weibe sorriu.
- Estou ficando velho. – uma pequena gargalhada. Ao longe um grande temporal se aproximava.  Da janela de seu castelo na Samburdia, observava sempre a sua fronteira com as Montanhas Saguinárias.
- Meu lorde? – A voz grossa de Therwald preencheu a sala. O jovem ruivo, de cabelos curtos e barba bem feita, estava vestindo uma armadura completa de cor prata, com um tabardo vermelho com um tigre verde entrou na sala. – Os Cavaleiros do Tigre Verde pedem audiência, meu lorde.
- Eles sempre desejam audiência Therwald, são bons cavaleiros, leais, mas ainda são jovens e buscam aprovação. Falo com eles logo.  Weibe sorriu para Therwald. O jovem se retirou, e Weibe se viu nele. Mais um jovem que desejava aprovação de seu líder. Assim como Weibe desejava a aprovação de Mark Silver.
Weibe suspirou e olhou para sua imagem no espelho. Já não era jovem, havia rugas em seu rosto e sabedoria em seus olhos.  Uma bem aparada barba branca cobria a sua face, seus olhos verdes demonstravam um cansaço que outrora não estava ali. Os longos e volumosos cabelos  brancos continuavam. Weibe sempre tivera o Cabelo branco, desde criança, sua pele era clara, e agora estava manchada pela idade. Weibe chegara aos 40 anos de idade, mas aparentava mais, talvez por causa dos inúmeros ferimentos que passou. Weibe escolheu viver na Samburdia, porque era o lugar mais distante de Malpetrim, exceto pelo reino de Skarshantallas... Weibe riu. O reino do dragão vermelho era um desafio. Um desafio que abraçaria no dia que desejasse a morte. Não desejava a velhice, a fraqueza que impede de se locomover, a mente que se esvai, o poder e a força que se perdem, até que você se torna uma casca vazia e perdida. Tinha visto o avô passar por isso e não desejava pra si. Mas tinha homens leais, que o seguiriam, mesmo que fosse em direção a morte. E não desejava liderá-los para a boca do dragão rei.
Weibe lembrou de como conheceu os Leões de aço, lembrou de um jovem elfo torturado com as mãos destruídas que perdeu os dedos do meio. Lembrou se da batalha contra um contigente de orcs, nas fronteiras de Petrynia. Lembrou de tentar proteger Galtran naquela primeira batalha. A primeira de muitas batalhas, e mesmo assim ele nunca fora aceito realmente como  um Leão de aço.
 Em sua vida Weibe tinha poucos arrependimentos, poucas coisas o desafiavam, poucos objetivos havia deixado pra trás. Tinha conquistado um belo castelo, uma bela família, tinha homens que o respeitavam e até amavam. Mas se sentia vazio. O fato é que  sempre desejou pertencer aos leões de aço.  Não apenas andar com eles, mas fazer parte do grupo. Desejava a amizade deles, o respeito deles. E ele não os tinha.
Lágrimas correram da face do velho Lorde Guerreiro.  Havia uma missão na qual ele havia falhado, e  nessa missão ele não tinha como mudar, os Leões de Aço haviam se separado, ou ao menos ele acreditava nisso. Ele não mais iria encontrar Morion, Galtram, Olminster, Keef ou Mark. Certas derrotas  nos marcam por toda a vida e certas batalhas são impossíveis de  serem vencidas. Ninguém pode ser obrigado a ser seu amigo, e mesmo que você  ande com alguém, isso não necessariamente liga essa pessoa a você pelos laços da amizade, não importando o quanto você deseje, ou se existe algum parentesco entre vocês...
Weibe enxugou uma outra lágrima. Fez uma breve oração a Khalmyr - o deus da justiça - e Tanna Tot - deusa do conhecimento. suspirou e lembrou de todas as suas vitórias.  Tentou se apegar  em suas vitórias como forma de esquecer as derrotas. Mas certas derrotas ficam gravadas a ferro e fogo na sua alma.Virou-se e foi encontrar os tigres verdes.
Por que os leões de aço nunca o viram como um deles e nunca o verão...

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