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segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Conto de Reinos de Ferro: Defensores da Trácia

A seguinte ficção e cenário retratam a luta desesperada entre os antigos Menitas, que se estabeleceram no que hoje é o centro de Cygnar, e as tribos selvagens dos bárbaros Molgur, que habitavam essa região selvagem e indomada. A história se concentra no guerreiro-sacerdote Menita Valent Thrace, que posteriormente construiria o grandioso Escudo de Thrace.

Por Aeryn Rudel e DAVID “DC” CARL Conto lançando na NoQuarter N°45.

Montanhas da Muralha da Serpente, 2815 AR (Antes da Rebelião)

Valent, filho de Varus, permanecia sobre as muralhas terrosas da Thracia, apoiando-se pesadamente em seu escudo surrado. Seu olhar se estendia por uma terra desolada que se espalhava por 94 metros, desde as rústicas paredes de madeira da paliçada da vila até a linha das árvores da densa floresta que os circundava. A área tinha sido limpa pelo fogo e pela lâmina, as imponentes lanças dos altos pinheiros foram derrubadas para o uso de sua madeira e para deixar o inimigo sem lugar para se esconder.
Ao redor dos tocos queimados, o solo estava coberto de hastes de flechas, armas quebradas e dezenas de corpos. Os aldeões haviam recolhido seus próprios mortos, mas os corpos de seus inimigos foram deixados para apodrecer. Agora, o cheiro de decomposição estava sempre em seu nariz, e ele observava os corpos diante da paliçada se desintegrarem lentamente sob a atenção de carniceiros e enxames de vermes.
Valent acreditava ter se acostumado a tais visões, que a morte violenta não continha mais mistério ou choque para ele. Valent já não sentia um desconforto visceral ao testemunhar a
brutalidade com que inocentes eram desmembrados e parcialmente devorados. Seu coração não mais ardia de fúria diante dos apelos sufocados por misericórdia, ecoando de homens amarrados a uma estaca e agonizando enquanto eram lentamente esfolados vivos.
A mão que empunhava a espada não se contraia mais automaticamente apenas com o
pensamento daqueles responsáveis por tais atrocidades: os demônios Molgur que espreitavam além das modestas muralhas da sua fortaleza.
Essa estoicidade que alguns poderiam rotular como insensibilidade foi adquirida ao longo
de anos combatendo um inimigo que, embora parecesse humano, demonstrava estar desprovido de qualquer humanidade. Ele repetia a si mesmo e às cem ou mais pessoas sob
sua proteção que as terríveis crueldades infligidas a eles eram a vontade inerrante de
Menoth, um teste de fé e perseverança justa. No entanto, ultimamente, essas palavras

tinham sabor de cinzas em sua língua e pareciam mais e mais uma mera formalidade
prestada a um deus que já não se importava.
Afastou, com algum esforço, os pensamentos blasfemos. Percebeu que ficar imerso em
reflexões desse tipo não traria benefício algum. Balançou a cabeça, deslizou as mãos pelos
fios emaranhados de seus cabelos negros e, então, virou-se para contemplar a vila cercada
pelas muralhas. O assentamento, batizado por seu pai como Trácia, consistia em trinta
casas de barro e vime que circundam o templo de Menoth, uma construção de pedra sólida
no coração da vila. Duas largas vias de terra, com residências dos aldeões ao longo delas,
estendiam-se de norte a sul e de leste a oeste, convergindo na praça em frente ao templo.
Uma paliçada de madeira envolvia todo o vilarejo, apoiada por muros de terra.
Os habitantes de Trácia perambulavam sem rumo entre as construções, parando
ocasionalmente para erguer seus rostos carentes e pálidos em direção às muralhas e aos
poucos homens armados sobre elas. Varus, o pai de Valent, os havia conduzido até aqui há
cinco invernos, abandonando a relativa segurança dos assentamentos Menitas mais
estabelecidos em troca da selvageria, porém fértil, nos sopés das grandes montanhas a
noroeste. A região era habitada pelos Molgur, tribos de humanos bárbaros que adoravam
uma entidade terrível conhecida como Devorador Wurm. As tribos eram pequenas e mal
organizadas, e os Menitas, equipados com armas e armaduras de bronze, rapidamente
haviam abatido ou expulsado aqueles Molgur que viviam próximo ao local onde Trácia seria
construída.
Os moradores de Trácia vagavam sem rumo entre as construções, ocasionalmente parando
para erguer seus rostos carentes e pálidos em direção às muralhas, observando os poucos
homens armados posicionados sobre elas. Há cinco invernos, Varus, o pai de Valent, os
conduziu até aqui, deixando para trás a relativa segurança dos assentamentos Menitas
Para em troca desbravar a selvageria e fertilidade das regiões nos sopés das grandes e
desafiadoras montanhas a noroeste. Essa escolha colocou-os em contato com os Molgur,
tribos de humanos bárbaros que veneravam uma entidade terrível conhecida como A
Serpente Devoradora. As tribos eram pequenas e mal organizadas, e os Menitas,
equipados com armas e armaduras de bronze, prontamente haviam eliminado ou expulsado
aqueles Molgur que viviam nas proximidades do local onde Trácia seria construída.
As casas e a paliçada foram construídas logo em seguida, e a Trácia desfrutou de um ano
de relativa paz e prosperidade.
Mas então, os Molgur retornaram.
Valent lembrava-se claramente do primeiro ataque.
Uma dúzia de guerreiros bestiais havia chegado durante a noite, deslizando pela escuridão
sem lua com a intenção de matar. Os sentinelas da paliçada estavam negligentes, e os
Molgur já estavam dentro de suas muralhas, seus machados já haviam bebido sangue,
quando o primeiro toque de chifre do alarme soou. O caos que se seguiu ceifou a vida de
vinte aldeões, incluindo o pai de Valent. E devido ao tumulto gerado levou horas para Valent
reunir os guerreiros de Trácia, e revidar com uma caçada para destruir cada Molgur que
havia invadido suas muralhas.

Com Varus morto, seu manto e autoridade passaram para Valent, que imediatamente
direcionou seu povo para fortalecer a paliçada e limpar a floresta ao redor. Nos dois anos
seguintes, os ataques se intensificaram à medida que múltiplas tribos Molgur se uniram
para atacar os colonos Menitas. A ameaça era constante, exigindo que homens armados
escoltassem os aldeões até os campos além das muralhas, mas não foi suficiente. A cada
semana, homens e mulheres morriam, e, não importava quantos Molgur fossem abatidos,
seus números pareciam inesgotáveis. Eventualmente, o terror do inimigo superou os
habitantes de Trácia, e eles se recolheram completamente atrás de suas muralhas. Suas
colheitas murcharam, e quando Valent enviava seus homens para caçar, eles
frequentemente eram capturados e empalados à vista na borda da linha das árvores, e
torturados até a morte como parte de algum vil ritual para A Serpente Devoradora. Os
Molgur não conseguiam romper a paliçada, mas sua segurança era de duas faces.
Protegia-os dos machados Molgur, mas provavelmente condenava os poucos Meninas que
restaram à agonia lenta da fome e da doença.
O repentino e agudo som do chifre de guerra Molgur arrancou Valent da melancolia dentro
de suas muralhas, direcionando sua atenção para o horror que se desenhava além delas.
Ele girou para observar um grupo de imponentes figuras emergindo das árvores à beira da
clareira, bem além do alcance dos arcos dos Menitas.
Embora nominalmente humanos, os guerreiros Molgur pareciam mais bestiais do que
homens; moviam-se rapidamente e mantinham-se rentes ao solo, como predadores em
busca de sua presa. Estavam nus, vestindo apenas retalhos de couro e pele ao redor da
cintura, além de algumas peças de armadura saqueadas dos mortos. Sua pele exposta
exibia padrões e símbolos giratórios, pintados em tons suaves de vermelho e preto,
representando a iconografia sagrada da Serpente Devoradora. A maioria dos Molgur estava
enfeitada com diversos amuletos e penduricalhos amarrados em tiras de couro rústicas nos
pulsos, pescoço e tornozelo, esses adornos eram feitos de chifre, osso e troféus macabros
retirados de inimigos caídos. Eles não portavam escudos, nem estavam armados com
projéteis; em vez disso, cada um empunhava um maciço machado de duas mãos,
confeccionado em pedra lascada ou, em raros casos, cobre ou bronze grosseiramente
forjado.
Valent pegou seu escudo, passou o braço por suas alças e agarrou a trompa de caça
pendurada em seu cinto. Colocou a trompa nos lábios e soprou um chamado longo e
sinuoso. O som das trombetas de cifre dos Molgur já havia dispersado os aldeões para suas
casas; e o chamado de Valent era como um sinal para seus guerreiros se reunirem nas
muralhas.
Os Molgur continuavam a surgir da floresta, e agora dezenas deles se posicionavam em um
semicírculo irregular à beira do campo de batalha aberto diante da paliçada. No entanto,
eles não esboçaram nenhum sinal de avanço em direção à clareira nem mesmo em direção
às muralhas, assim como não demonstraram nenhuma reação ao som do chifre de caça de
Valent.
Valent ouviu o ruído metálico dos homens de armadura se movendo em sua direção.
Momentos depois, catorze Menitas armados e equipados com armaduras ficaram ao seu

lado esquerdo e direito, cada um segurando um dos preciosos arcos que trouxeram do sul.
Ele observou as figuras magras e com olhos fundos ao seu redor, cujas cotas de malha
opacas pendiam sobre estruturas desgastadas. Esses eram todos os que restavam dos
cinquenta homens de combate que seu pai trouxe para proteger o assentamento. Além de
seus arcos, cada um carregava um aljava de flechas, um machado de cabo curto com uma
pesada cabeça de bronze e um pequeno escudo redondo feito de tábuas de madeira
cobertas com couro. Apenas ele e o senescal da vila, Ternius, portavam espadas.
“O que eles estão fazendo?”
Perguntou Ternius, abrindo caminho entre os homens para ficar ao lado de Valent. Ternius
era um homem magro e lupino na casa dos cinquenta, com cabelos e barba grisalhos,
embora ainda fosse um lutador capaz.
“Não é do feitio deles anunciar sua presença ou nos atacar em tão grande número em plena
luz do dia.”
Valent assentiu, mas não disse nada. Ternius estava certo. Algo estava diferente, e isso o
enchia de um terrível pressentimento. Os homens nas muralhas olhavam para ele, seus
olhos implorando por algumas palavras para fortalecê-los contra o terror além do muro. Mas
ele não tinha nada para dar a eles. Em vez disso, sacou sua espada e apontou para a
esquerda e depois para a direita.
"Espalhem-se ao longo da parede norte"
Rugiu em comando.
"Quero flechas preparadas e a passagem para o portão norte coberta. Baeren, Orthus,
posicionem-se no portão sul; eles podem nos atacar de ambas as direções."
Enquanto os homens se moviam para assumir suas posições, Valent acrescentou:
"Menoth esteja com vocês."
As palavras ecoaram secas, e ele sentiu pouco conforto ao pronunciá-las, assim como seus
homens devem ter sentido pouco conforto ao ouvi-las.
Ternius permaneceu ao seu lado, com uma mão no cabo de sua espada. Seu rosto áspero
era impossível de ler.
"Eles estão se consumindo, Valent"
Ele disse finalmente. Enquanto acenava com a mão da espada para a multidão crescente
de Molgur.
"Nenhum homem, não importa quão forte seja sua fé, pode suportar essa loucura. Sem
eventualmente se perder para ela."

Valent apertou os dentes, sentindo a voz sombria de seu pai ecoar com a análise.
"Estou profundamente ciente da nossa situação, Ternius"
Disse amargamente, virando-se para encarar o homem mais velho.
"Você não acha que a cada momento que estou acordado eu não sou consumido por isso?
Em nenhum momento você considerou que rezo todas as noites por algum sinal, por uma
salvação?"
Valent então se aproximou, trazendo seu rosto a centímetros do de Ternius.
“Há apenas o silêncio Ternius”
Murmurou ferozmente.
"Fomos abandonados ao nosso destino."
Com uma pausa se deixou tomar pela raiva e a desesperança, e então deixou sair de sua
boca aquilo que o assombrava a cada momento de sua vigília ao longo dos últimos anos.
"Isso é um castigo do Criador pela loucura de meu pai."
Ternius deu um passo para trás, com a boca cerrada de raiva. Ele tinha sido amigo e
seguidor de Varus desde antes do nascimento de Valent, e, como muitos na vila,
considerava o homem um modelo de fé Menita. Valent notou as mãos de Ternius se
fechando em punhos ao lado do corpo, e por um momento, ele se perguntou se chegariam
às vias de fato.
O momento então foi interrompido pelos Molgur que estavam além da paliçada. Um coro de
gritos agudos ecoou pela clareira, e Valent virou-se para ver cinco mulheres Molgur
emergindo da floresta, seus corpos nus pintados com padrões em espiral de preto e
vermelho. Ele já tinha visto mulheres assim antes. Eram as xamãs dos Molgur, e eram suas
facas de pedra que derramavam o sangue de seu povo para alimentar o apetite de seu
deus blasfemo. Elas pulavam e se contorciam, em suas demonstrações rítmicas sugerindo
alguma dança ritualizada e selvagem. No centro dos xamãs caminhava um homem sem
camisa, com seu peito magro coberto de vermelho ao qual Valent não conseguia entender
se era tinta Molgur ou o próprio sangue do homem.
"Menoth nos proteja”
Valent ouviu Ternius sussurrar atrás de si, com uma voz grave e repleta de horror.
“Não pode ser... é Neras.”
Valent respirou fundo, sentindo o peso do desespero sobre ele. Neras estava entre os
últimos do grupo de caça que ele havia enviado. Há duas semanas o grupo foi surpreendido
por Molgur a alguns quilômetros da vila, mas conseguiu lutar de volta para até Trácia.
Todos, exceto Neras.

Ele foi ferido no confronto inicial, e os outros foram obrigados a deixá-lo para trás. Todos
acreditavam e na verdade, esperavam que Neras tivesse sucumbido aos ferimentos antes
que os Molgur o encontrassem. A ideia do que poderia vir a acontecer ao homem fez o
estômago de Valent se revirar.
Das muralhas Menitas, todos os olhos estavam fixos no espetáculo que se desenrolava à
beira da floresta. Um Molgur macho forçou Neras a ajoelhar-se enquanto as xamãs
dançavam e uivavam ao seu redor. Os guerreiros flanqueavam o grupo em duas linhas
escalonadas e adicionavam seu próprio cântico gutural, profundo e retumbante, ao grito
ululante das fêmeas. Neras ajoelhou-se imóvel, de cabeça baixa, a imagem perfeita de um
homem que aceitou o seu destino.
Valent viu que uma das mulheres segurava uma lâmina em sua mão direita uma das finas e
brutalmente afiadas facas de pedra que todas as xamãs Molgur carregavam. Ele sabia o
que aconteceria em seguida e olhou para os homens ao longo das muralhas. Seus arcos
não tinham alcance para derrubar os Molgur ou proporcionar a Neras uma morte rápida. Ele
se forçou a assistir enquanto o cântico selvagem se intensificava, crescendo mais alto e
frenético. Seus homens precisavam vê-lo aceitar sem pestanejar o que aconteceria em
seguida. Se ele hesitasse, como ele poderia esperar que seus homens permanecessem
firmes?
As xamãs pararam subitamente de dançar, e seus uivos estridentes desvaneceram-se no
trovão surdo do cântico dos guerreiros Molgur. Duas das mulheres avançaram para segurar
Neras pelos braços, enquanto aquela que empunhava a faca de pedra aproximava-se por
trás agarrando-lhe pelos cabelos. Então, sem cerimônia, com um puxão colocou a cabeça
de Neras para trás, estendeu a mão direita e passou a faca pela garganta dele com um
único movimento selvagem.
Mesmo de onde Valent estava no topo das muralhas, era possível ver o sangue jorrar.
Neras se debatia e lutava e sua aparente apatia foi esquecida à medida que sua vida
jorrava de seu corpo. As mulheres Molgur o seguraram firmemente até que seus últimos
momentos de angústia cessassem, e ele desabou em suas mãos.
Ao longo da muralha, Valent pôde ver seus homens agrupados em duplas ou trios,
esquecendo suas ordens em busca do conforto das palavras uns dos outros. Ele não os
repreendeu; não havia ameaça imediata, e eles ainda estavam seguros atrás de suas
muralhas. Os Molgur haviam realizado rituais semelhantes com Menitas capturados no
passado, embora ele não se lembrasse de tantos desses selvagens presentes antes.
Os xamãs Molgur ergueram novamente as vozes em um grito estridente, e aqueles que
seguravam Neras recuaram, deixando seu corpo sem vida cair no chão. As cinco mulheres
viraram as costas para a vila e encararam a floresta com os braços erguidos. Seu canto
estridente adquiriu uma qualidade de melodia à medida que se harmonizou com o canto
mais profundo dos guerreiros.
Valent percebeu algo se acumulando no ar, algo antigo e inominável, uma energia que o

fazia sentir-se vulnerável mesmo atrás de suas muralhas. Ele viu as árvores na floresta
começarem a balançar diretamente no caminho das xamãs Molgur e ouviu o grito gemido
de troncos se partindo sob algo imensuravelmente grande e pesado.
Quando a criatura emergiu da floresta, erguendo-se sobre os Molgur diante dela, mal
parecia real, um fragmento de algum terrível pesadelo desperto. Ele percebeu uma
respiração coletiva entre seus homens e tomou consciência de sua própria boca
movendo-se involuntariamente em uma prece desesperada ao Criador.
A criatura que os Molgur tinham invocado se erguia tão alta quanto a parede ao redor da
vila. Mantinha-se sobre duas pernas,e seus longos e poderosos braços terminavam em
mãos com dedos achatados. Pelos brancos e ásperos cobriam seu corpo e pendiam em
tufos longos de seus braços e ao redor de seus cascos fendidos. Sua cabeça de focinho
reduzido, que se erguia a 5 metros do chão, era coroada com um espiral de chifres,
semelhante ao de um carneiro, mas coberto por densas placas ósseas.
Ao lado de Valent, Ternius sacou sua espada enquanto agarrava o topo da paliçada com a
outra mão; a força era tanta que seus dedos estavam completamente brancos de tensão.
Ternius voltou seu olhar para Valent, seus olhos arregalados e a garganta se movendo em
puro terror mudo. Valent nunca tinha o visto tão assustado, e sentiu que o medo do homem
era contagioso, por um instante Valent sentiu como se uma serpente de horror se
entranhasse em seu coração e vísceras, devorando sua coragem.
Nesse momento de desespero, Valent agradecia pelos os aldeões não poderem ver o que
estava acontecendo além das muralhas. Ele mal podia imaginar o pânico que uma visão
assim causaria.
Os Molgur haviam cessado os cânticos, e um silêncio mortal pairou sobre a clareira. A
criatura encarava os xamãs à sua frente, arranhando o solo com um casco maciço. As
mulheres recuaram, afastando-se do corpo de Neras, enquanto os guerreiros flanqueavam
o monstro em duas linhas, apontando diretamente para o portão norte da paliçada da vila. A
besta avançou, com cada passo seu fazendo a terra tremer, e então se abaixou para cheirar
o corpo de Neras. Após um momento, ergueu-se à sua altura total, e virou a sua cabeça
maciça semelhante a de um mamute na direção da vila. Valent sentiu que algo havia
ocorrido entre a criatura e os Molgur, mesmo sem palavras sendo proferidas. Uma oferta foi
feita e aceita.
Ele sabia em seus ossos o que viria a seguir, mesmo antes que a grande besta abaixasse a
cabeça e começasse a pisotear a planície aberta em direção à vila, Valent gritou às suas
ordens.
"Arqueiros! Abatam-na antes que alcance o portão!"
Sua voz sacudiu os homens de sua paralisia de terror, e eles se apressaram em formar uma
linha ao longo das muralhas no norte.

A besta se movia rapidamente, suas patas onde tocava transformava a terra queimada em
adubo. Os Molgur se moviam atrás de seu campeão em uma multidão dispersa, suas vozes
elevadas em um coro de uivos de guerra.
Valent ergueu sua espada e mais uma vez bradou em ordem.
"Preparem e soltem!"
Ao lado dele, quatorze homens puxaram seus arcos e lançaram suas flechas com pontas de
ferro na besta que avançava. A maioria das flechas assobiou passando por ela ou afundou
em sua pele sem efeito aparente; e aquelas que atingiram seu crânio e chifres
ricochetearam, quebradas e inúteis.
“É muito grande!"
Disse Ternius, agarrando o braço de Valent.
"Deixe-o chegar mais perto. Talvez o portão aguente."
Valent assentiu, embora ele não acreditasse de verdade nas palavras de Ternius.
"Concentrem-se nos Molgur!"
Ternius gritou, e sem demora os homens puxaram seus arcos mais uma vez.
Desta vez, suas flechas voaram sobre a besta e encontraram alvos muito mais macios.
Valent observou com satisfação sombria enquanto quatro guerreiros Molgur e uma das
xamãs caíam no chão, com uma flecha Menita alojada em seu peito, torso e crânio.
A besta estava a apenas 18 metros do portão agora, e não diminuía a velocidade. Avançava
como uma força da natureza, um furacão ou terremoto em forma física. Saltou a vala rasa
na base da parede e colidiu com o portão sem diminuir a velocidade. Valent sentiu toda a
parede tremer e ouviu o som terrível de vigas pesadas se partindo sob o ataque.
"Continuem atirando!"
Valent gritou para os homens ao seu redor. E então, voltou-se para Ternius e com um puxão
o conduziu por um declive de terra em direção à vila.
Os habitantes de Trácia foram expulsos de suas casas pelo som da besta no portão, e
estavam se movendo em uma multidão dispersa longe da parede norte. Quando Valent e
Ternius chegaram à base do declive, Valent puxou Ternius para perto e lhe ordenou.
“Preciso que você pegue Baeren, Orthus e mais seis dos nossos guerreiros e conduza
nosso povo para fora pelo portão sul.”
“O quê?!”

Ternius exclamou, afastando-se de Valent.
”'Abandonar a Trácia? Seremos massacrados lá fora! Seu pai...”
“Chega!”
Valent em tom de desaprovação o interrompeu.
“Meu pai não estava seguindo a vontade do Legislador quando nos liderou para o norte,
Ternius. Ele estava seguindo a própria vontade. Nosso povo está morrendo. Não há futuro
aqui.”
A parede tremeu novamente quando a besta se chocou contra o portão, enfatizando a
declaração de Valent.
“Preciso que você conduza nosso povo para longe disso”
Disse Valent, com um tom mais suave, quase suplicante.
Ternius o encarou por um momento e então assentiu e perguntou.
“'Eu farei isso. Mas para onde iremos?”
"Vá para o sul. Leve-os para casa. Uma das colônias os acolherá."
Respondeu Valent. Mas Ternius franzia o cenho em resposta.
"Você não pretende nos seguir"
Disse ele gravemente.
Valent balançou a cabeça em sinal de negação.
“Pecados plantados pelo pai são colhidos pelos filhos"
Disse suavemente, citando o Cânone da Verdadeira Lei.
"Eu conseguirei algum tempo para vocês."
Disse Valent.
Ternius então estendeu a mão e segurou o ombro do jovem.
"Que Menoth lhe dê forças, Valent. Nos encontraremos novamente em Urcaen."
Em seguida, virou-se e começou a gritar os nomes dos guerreiros que o acompanhariam.
Valent observou o grupo descer das muralhas e se apressar em direção ao portão sul. Os

homens restantes haviam esgotado suas flechas e o observavam em busca de mais
ordens.
Ele olhou para cima e apontou sua espada para o portão, que agora se curvava para dentro
e que poderia desabar a qualquer momento.
"Peguem seus machados!"
Ele gritou para a meia dúzia de homens que ainda resistiam nas muralhas.
“Juntem-se a mim no portão! Que o Criador seja testemunha de seu sacrifício hoje!"
Ele sentiu surgir um forte orgulho quando cada homem pegou o machado do cinto, fixou o
escudo no braço e começou a descer as muralhas. Valent avançou em direção ao portão,
seus poucos guerreiros seguindo atrás. Ele podia ouvir as vozes ásperas dos Molgur do
lado de fora das paredes, que eram silenciadas apenas pelos profundos gritos retumbantes
da besta. Ele e seus homens pararam a cerca de 18 metros do portão já danificado, no
meio da estrada que dividia as metades leste e oeste da vila. Atrás deles, os habitantes da
Trácia fugiam em direção ao portão sul, e Valent conseguia ouvir a voz de Ternius sobre o
tumulto, gritando ordens e palavras de encorajamento.
"Formem uma cunha atrás de mim"
Disse Valent, e os homens obedeceram, criando um triângulo irregular com Valent à frente.
Ele posicionou seu grande escudo oval à frente do corpo, apresentando o Menofix o
símbolo de Menoth estampado em sua superfície ao inimigo. Então, ele olhou para a
paliçada de madeira, que agora parecia tão frágil, e ofereceu uma oração silenciosa a
Menoth.
“Que minha morte tenha algum significado”
Ele implorou ao Legislador.
“Não puna meu povo pelo orgulho de meu pai.”
Ele esperava que sua oração simplesmente se dissolvesse no éter, como aconteceu todas
as vezes anteriores, mas desta vez seu apelo não foi recebido com silêncio.
Valent sentiu o súbito peso sufocante de uma presença que sua mente mal conseguia
compreender; ela avançou por ele, preenchendo cada fibra de seu ser com uma vontade
vasta e indomável. Ele tinha uma vaga consciência do portão se despedaçando diante dele
enquanto a besta avançava. Como se através de uma névoa, ele viu quatro de seus
homens largarem suas armas e fugirem, enquanto dois soltavam gritos de batalha roucos e
investiam para sua certa perdição. Mas então, o portão, seus homens e a besta
simplesmente desapareceram, e ele viu um muro de pedra imponente, tão imenso que não
conseguia ver onde começava ou terminava. Sobre essa poderosa barricada pendiam
enormes tapeçarias com o Menofix, e no topo, ele viu muitos soldados, seus escudos
também ostentavam o símbolo do Criador.

Foi uma visão gloriosa, e ele sentiu lágrimas arderem-lhe nos olhos.
A visão continuou, e Valent viu um grande sol amarelo se erguendo atrás do muro, tão
brilhante e puro quanto a vontade de Menoth. Quando então, uma voz falou em sua mente,
uma voz tão gloriosa e terrível que ele pensou que sua cabeça se partiria, incapaz de conter
sua enormidade.
“VEJA O MURO”
Ecoou a voz.
“VOCÊ É MEU ESCUDO. E VOCÊ CUIDARÁ DA CHAMA QUE FICA ENTRE A
ESCURIDÃO E AQUELES QUE OBEDECEM À VERDADEIRA LEI.”
Então, tão subitamente quanto havia vindo, a presença o deixou, levando consigo a visão
do magnífico muro. As visões e sons da condenada Trácia rugiram de volta através de seus
sentidos, e Valent se viu de joelhos diante do portão destruído. Viu a besta agachada sobre
o cadáver esmagado de um de seus homens, enquanto outro Menita estava agarrado em
um dos punhos enormes da besta. Em resposta a besta golpeava o corpo em sua mão
contra o chão repetidamente, deixando uma mancha sangrenta na terra que se alargava a
cada golpe.
Valent se levantou lentamente e mais uma vez colocou seu escudo à sua frente.
"Eu sou o escudo"
Disse suavemente, seu corpo vibrando com poder.
"Eu permanecerei de pé!"
Esse último ele gritou, fazendo com que a besta girasse sua cabeça com chifres em sua
direção. Atrás dela, os Molgur fluíam pelo o portão quebrado, embora não avançassem
muito. Eles não tinham pressa. A vila era deles, e pararam para assistir ao monstro que
haviam solto contra seus inimigos fazer seu trabalho.
A besta se endireitou à sua altura total e deixou cair o cadáver arruinado de sua mão. Ela
raspou o chão e encarou o humano que ousou desafiá-la, depois baixou a cabeça e
avançou.
Valent apoiou seu escudo contra o corpo e firmou os pés, se preparando para o impacto
terrível. Sentiu um calor repentino em seu braço direito e olhou para baixo, vendo chamas
amarelas deslumbrantes tremulando ao longo da longa lâmina de ferro da espada de seu
pai. Ele não sentiu medo, nem arrependimento. Era um recipiente vazio no qual Menoth
havia derramado sua vontade.
A besta cruzou o espaço entre o portão e Valent no intervalo de um piscar de olhos e
golpeou seu escudo com sua cabeça maciça e nodosa, como um verdadeiro aríete vivo. Ele

deveria ter sido arremessado para longe, esmagado pela terrível força da besta Molgur ou
transformado em uma pasta vermelha sob seus cascos. No entanto, no momento do
impacto, o Menofix em seu escudo brilhou com uma luz dourada brilhante, e ele não sentiu
mais do que um empurrão forte contra as tábuas de madeira robustas. A besta, no entanto,
reagiu como se tivesse se chocado diretamente contra o grande muro de pedra que Valent
vira em sua visão, recuando da pancada em um escudo absurdamente pequeno com um
mugido dolorido e cambaleando de volta em direção ao portão.
Valent avançou com ímpeto, esquivou-se de um golpe desajeitado do punho maciço da
besta e enfiou sua espada flamejante até o cabo embaixo de suas costelas do monstro. A
criatura soltou um grito gutural espesso e recuou, quase arrancando a lâmina da mão de
Valent. Mas ele a segurou firmemente, e a espada deslizou para fora do corpo da besta
enquanto ela cambaleava para longe. Fumaça subia da lâmina, já que as chamas ao longo
de seu comprimento consumiam o sangue da criatura.
A besta deu alguns passos, agarrando a ferida no torso, e então caiu de joelhos, sangue
escorrendo por seu corpo e formando poças no chão. Valent levantou seu escudo e
avançou em direção à besta. Ela o observou se aproximar, seus olhos negros turvados pela
dor e fúria. Quando ele estava a uma distância para atacar, ela levantou um braço
fracamente para se proteger, mas Valent desviou o golpe com seu escudo e se aproximou,
trazendo sua espada em um borrão de ferro flamejante. A lâmina cortou o pescoço espesso
da besta como se fosse feita de cera, e a enorme cabeça chifrada rolou para o chão aos
seus pés. O corpo da criatura desabou para trás e se chocou contra a terra.
Valent virou-se para enfrentar os Molgur reunidos e viu em seus rostos uma mistura de
horror e admiração. Apontou a lâmina ardente para eles, colocou seu escudo e o símbolo
sagrado do Legislador à frente do corpo e esperou. Eles o encararam em silêncio, mas não
fizeram menção de para atacar. Longos momentos se passaram, e ainda assim os Molgur
não avançaram. Finalmente, um dos guerreiros corpulentos simplesmente virou-se e
atravessou o portão destruído. Outro o seguiu, e então mais um. Os Molgur deixaram a
Thracia aos poucos, até que apenas Valent permaneceu.
Ele deixou sua espada cair ao lado, e as chamas tremulantes ao longo da lâmina
desapareceram. Seu escudo parecia muito pesado, e o cansaço dominava seus membros.
Atrás dele, ouviu pessoas se aproximando, e lentamente virou-se para ver aqueles
guerreiros que haviam fugido retornando, com vergonha estampada em seus rostos. Um
deles, um homem de cabelos escuros chamado Caleon, caiu de joelhos diante de Valent.
“Meu senhor”
Disse Caleon, usando o título de honra geralmente associado aos sacerdotes-reis da Antiga
Icthier.
"O que faremos agora?"
Valent embainhou sua espada e olhou para as paredes de madeira da vila de seu pai.

"Nosso povo está disperso para o sul"
Ele disse após uma longa pausa.
"Uniremos todos aqueles que seguem a Verdadeira Lei sob a vontade do Criador. Eu vi uma
fortaleza contra as trevas ainda maior do que Icthier."
Ele estendeu a mão, colocou-a no ombro de Caleon e sorriu.
"Siga-me, irmão, e juntos construiremos o Muro."

Texto traduzido por Silvio Rodrigues Gouvêa do Crônicas do Bardo.
OBS. Não sou um tradutor profissional e não tenho o intuito de ganhar dinheiro com esse
material.
Por isso a tradução foi feita com calma e cautela porém foi necessário acrescentar
pequenas palavras e frases para que pudesse ser compreendido como um todo mas sem
mudar a história oficial.
Espero que esse texto e muitos outros possam vir para que mais pessoas possam ter
acesso a essas incríveis histórias que se passam no meu atual cenário favorito, o
Reinos de Ferro.
A seguinte ficção e cenário retratam a luta desesperada entre os antigos Menitas, que se estabeleceram no que hoje é o centro de Cygnar, e as tribos selvagens dos bárbaros Molgur, que habitavam essa região selvagem e indomada. A história se concentra no guerreiro-sacerdote Menita Valent Thrace, que posteriormente construiria o grandioso Escudo de Thrace.

Por Aeryn Rudel e DAVID “DC” CARL
Conto lançando na NoQuarter N°45.

Montanhas da Muralha da Serpente, 2815 AR (Antes da Rebelião)

Valent, filho de Varus, permanecia sobre as muralhas terrosas da Thracia, apoiando-se
pesadamente em seu escudo surrado. Seu olhar se estendia por uma terra desolada que se
espalhava por 94 metros, desde as rústicas paredes de madeira da paliçada da vila até a
linha das árvores da densa floresta que os circundava. A área tinha sido limpa pelo fogo e
pela lâmina, as imponentes lanças dos altos pinheiros foram derrubadas para o uso de sua
madeira e para deixar o inimigo sem lugar para se esconder.
Ao redor dos tocos queimados, o solo estava coberto de hastes de flechas, armas
quebradas e dezenas de corpos. Os aldeões haviam recolhido seus próprios mortos, mas
os corpos de seus inimigos foram deixados para apodrecer. Agora, o cheiro de
decomposição estava sempre em seu nariz, e ele observava os corpos diante da paliçada
se desintegrarem lentamente sob a atenção de carniceiros e enxames de vermes.
Valent acreditava ter se acostumado a tais visões, que a morte violenta não continha mais
mistério ou choque para ele. Valent já não sentia um desconforto visceral ao testemunhar a
brutalidade com que inocentes eram desmembrados e parcialmente devorados. Seu
coração não mais ardia de fúria diante dos apelos sufocados por misericórdia, ecoando de
homens amarrados a uma estaca e agonizando enquanto eram lentamente esfolados vivos.
A mão que empunhava a espada não se contraia mais automaticamente apenas com o
pensamento daqueles responsáveis por tais atrocidades: os demônios Molgur que
espreitavam além das modestas muralhas da sua fortaleza.
Essa estoicidade que alguns poderiam rotular como insensibilidade foi adquirida ao longo
de anos combatendo um inimigo que, embora parecesse humano, demonstrava estar
desprovido de qualquer humanidade. Ele repetia a si mesmo e às cem ou mais pessoas sob
sua proteção que as terríveis crueldades infligidas a eles eram a vontade inerrante de
Menoth, um teste de fé e perseverança justa. No entanto, ultimamente, essas palavras

tinham sabor de cinzas em sua língua e pareciam mais e mais uma mera formalidade
prestada a um deus que já não se importava.
Afastou, com algum esforço, os pensamentos blasfemos. Percebeu que ficar imerso em
reflexões desse tipo não traria benefício algum. Balançou a cabeça, deslizou as mãos pelos
fios emaranhados de seus cabelos negros e, então, virou-se para contemplar a vila cercada
pelas muralhas. O assentamento, batizado por seu pai como Trácia, consistia em trinta
casas de barro e vime que circundam o templo de Menoth, uma construção de pedra sólida
no coração da vila. Duas largas vias de terra, com residências dos aldeões ao longo delas,
estendiam-se de norte a sul e de leste a oeste, convergindo na praça em frente ao templo.
Uma paliçada de madeira envolvia todo o vilarejo, apoiada por muros de terra.
Os habitantes de Trácia perambulavam sem rumo entre as construções, parando
ocasionalmente para erguer seus rostos carentes e pálidos em direção às muralhas e aos
poucos homens armados sobre elas. Varus, o pai de Valent, os havia conduzido até aqui há
cinco invernos, abandonando a relativa segurança dos assentamentos Menitas mais
estabelecidos em troca da selvageria, porém fértil, nos sopés das grandes montanhas a
noroeste. A região era habitada pelos Molgur, tribos de humanos bárbaros que adoravam
uma entidade terrível conhecida como Devorador Wurm. As tribos eram pequenas e mal
organizadas, e os Menitas, equipados com armas e armaduras de bronze, rapidamente
haviam abatido ou expulsado aqueles Molgur que viviam próximo ao local onde Trácia seria
construída.
Os moradores de Trácia vagavam sem rumo entre as construções, ocasionalmente parando
para erguer seus rostos carentes e pálidos em direção às muralhas, observando os poucos
homens armados posicionados sobre elas. Há cinco invernos, Varus, o pai de Valent, os
conduziu até aqui, deixando para trás a relativa segurança dos assentamentos Menitas
Para em troca desbravar a selvageria e fertilidade das regiões nos sopés das grandes e
desafiadoras montanhas a noroeste. Essa escolha colocou-os em contato com os Molgur,
tribos de humanos bárbaros que veneravam uma entidade terrível conhecida como A
Serpente Devoradora. As tribos eram pequenas e mal organizadas, e os Menitas,
equipados com armas e armaduras de bronze, prontamente haviam eliminado ou expulsado
aqueles Molgur que viviam nas proximidades do local onde Trácia seria construída.
As casas e a paliçada foram construídas logo em seguida, e a Trácia desfrutou de um ano
de relativa paz e prosperidade.
Mas então, os Molgur retornaram.
Valent lembrava-se claramente do primeiro ataque.
Uma dúzia de guerreiros bestiais havia chegado durante a noite, deslizando pela escuridão
sem lua com a intenção de matar. Os sentinelas da paliçada estavam negligentes, e os
Molgur já estavam dentro de suas muralhas, seus machados já haviam bebido sangue,
quando o primeiro toque de chifre do alarme soou. O caos que se seguiu ceifou a vida de
vinte aldeões, incluindo o pai de Valent. E devido ao tumulto gerado levou horas para Valent
reunir os guerreiros de Trácia, e revidar com uma caçada para destruir cada Molgur que
havia invadido suas muralhas.

Com Varus morto, seu manto e autoridade passaram para Valent, que imediatamente
direcionou seu povo para fortalecer a paliçada e limpar a floresta ao redor. Nos dois anos
seguintes, os ataques se intensificaram à medida que múltiplas tribos Molgur se uniram
para atacar os colonos Menitas. A ameaça era constante, exigindo que homens armados
escoltassem os aldeões até os campos além das muralhas, mas não foi suficiente. A cada
semana, homens e mulheres morriam, e, não importava quantos Molgur fossem abatidos,
seus números pareciam inesgotáveis. Eventualmente, o terror do inimigo superou os
habitantes de Trácia, e eles se recolheram completamente atrás de suas muralhas. Suas
colheitas murcharam, e quando Valent enviava seus homens para caçar, eles
frequentemente eram capturados e empalados à vista na borda da linha das árvores, e
torturados até a morte como parte de algum vil ritual para A Serpente Devoradora. Os
Molgur não conseguiam romper a paliçada, mas sua segurança era de duas faces.
Protegia-os dos machados Molgur, mas provavelmente condenava os poucos Meninas que
restaram à agonia lenta da fome e da doença.
O repentino e agudo som do chifre de guerra Molgur arrancou Valent da melancolia dentro
de suas muralhas, direcionando sua atenção para o horror que se desenhava além delas.
Ele girou para observar um grupo de imponentes figuras emergindo das árvores à beira da
clareira, bem além do alcance dos arcos dos Menitas.
Embora nominalmente humanos, os guerreiros Molgur pareciam mais bestiais do que
homens; moviam-se rapidamente e mantinham-se rentes ao solo, como predadores em
busca de sua presa. Estavam nus, vestindo apenas retalhos de couro e pele ao redor da
cintura, além de algumas peças de armadura saqueadas dos mortos. Sua pele exposta
exibia padrões e símbolos giratórios, pintados em tons suaves de vermelho e preto,
representando a iconografia sagrada da Serpente Devoradora. A maioria dos Molgur estava
enfeitada com diversos amuletos e penduricalhos amarrados em tiras de couro rústicas nos
pulsos, pescoço e tornozelo, esses adornos eram feitos de chifre, osso e troféus macabros
retirados de inimigos caídos. Eles não portavam escudos, nem estavam armados com
projéteis; em vez disso, cada um empunhava um maciço machado de duas mãos,
confeccionado em pedra lascada ou, em raros casos, cobre ou bronze grosseiramente
forjado.
Valent pegou seu escudo, passou o braço por suas alças e agarrou a trompa de caça
pendurada em seu cinto. Colocou a trompa nos lábios e soprou um chamado longo e
sinuoso. O som das trombetas de cifre dos Molgur já havia dispersado os aldeões para suas
casas; e o chamado de Valent era como um sinal para seus guerreiros se reunirem nas
muralhas.
Os Molgur continuavam a surgir da floresta, e agora dezenas deles se posicionavam em um
semicírculo irregular à beira do campo de batalha aberto diante da paliçada. No entanto,
eles não esboçaram nenhum sinal de avanço em direção à clareira nem mesmo em direção
às muralhas, assim como não demonstraram nenhuma reação ao som do chifre de caça de
Valent.
Valent ouviu o ruído metálico dos homens de armadura se movendo em sua direção.
Momentos depois, catorze Menitas armados e equipados com armaduras ficaram ao seu

lado esquerdo e direito, cada um segurando um dos preciosos arcos que trouxeram do sul.
Ele observou as figuras magras e com olhos fundos ao seu redor, cujas cotas de malha
opacas pendiam sobre estruturas desgastadas. Esses eram todos os que restavam dos
cinquenta homens de combate que seu pai trouxe para proteger o assentamento. Além de
seus arcos, cada um carregava um aljava de flechas, um machado de cabo curto com uma
pesada cabeça de bronze e um pequeno escudo redondo feito de tábuas de madeira
cobertas com couro. Apenas ele e o senescal da vila, Ternius, portavam espadas.
“O que eles estão fazendo?”
Perguntou Ternius, abrindo caminho entre os homens para ficar ao lado de Valent. Ternius
era um homem magro e lupino na casa dos cinquenta, com cabelos e barba grisalhos,
embora ainda fosse um lutador capaz.
“Não é do feitio deles anunciar sua presença ou nos atacar em tão grande número em plena
luz do dia.”
Valent assentiu, mas não disse nada. Ternius estava certo. Algo estava diferente, e isso o
enchia de um terrível pressentimento. Os homens nas muralhas olhavam para ele, seus
olhos implorando por algumas palavras para fortalecê-los contra o terror além do muro. Mas
ele não tinha nada para dar a eles. Em vez disso, sacou sua espada e apontou para a
esquerda e depois para a direita.
"Espalhem-se ao longo da parede norte"
Rugiu em comando.
"Quero flechas preparadas e a passagem para o portão norte coberta. Baeren, Orthus,
posicionem-se no portão sul; eles podem nos atacar de ambas as direções."
Enquanto os homens se moviam para assumir suas posições, Valent acrescentou:
"Menoth esteja com vocês."
As palavras ecoaram secas, e ele sentiu pouco conforto ao pronunciá-las, assim como seus
homens devem ter sentido pouco conforto ao ouvi-las.
Ternius permaneceu ao seu lado, com uma mão no cabo de sua espada. Seu rosto áspero
era impossível de ler.
"Eles estão se consumindo, Valent"
Ele disse finalmente. Enquanto acenava com a mão da espada para a multidão crescente
de Molgur.
"Nenhum homem, não importa quão forte seja sua fé, pode suportar essa loucura. Sem
eventualmente se perder para ela."

Valent apertou os dentes, sentindo a voz sombria de seu pai ecoar com a análise.
"Estou profundamente ciente da nossa situação, Ternius"
Disse amargamente, virando-se para encarar o homem mais velho.
"Você não acha que a cada momento que estou acordado eu não sou consumido por isso?
Em nenhum momento você considerou que rezo todas as noites por algum sinal, por uma
salvação?"
Valent então se aproximou, trazendo seu rosto a centímetros do de Ternius.
“Há apenas o silêncio Ternius”
Murmurou ferozmente.
"Fomos abandonados ao nosso destino."
Com uma pausa se deixou tomar pela raiva e a desesperança, e então deixou sair de sua
boca aquilo que o assombrava a cada momento de sua vigília ao longo dos últimos anos.
"Isso é um castigo do Criador pela loucura de meu pai."
Ternius deu um passo para trás, com a boca cerrada de raiva. Ele tinha sido amigo e
seguidor de Varus desde antes do nascimento de Valent, e, como muitos na vila,
considerava o homem um modelo de fé Menita. Valent notou as mãos de Ternius se
fechando em punhos ao lado do corpo, e por um momento, ele se perguntou se chegariam
às vias de fato.
O momento então foi interrompido pelos Molgur que estavam além da paliçada. Um coro de
gritos agudos ecoou pela clareira, e Valent virou-se para ver cinco mulheres Molgur
emergindo da floresta, seus corpos nus pintados com padrões em espiral de preto e
vermelho. Ele já tinha visto mulheres assim antes. Eram as xamãs dos Molgur, e eram suas
facas de pedra que derramavam o sangue de seu povo para alimentar o apetite de seu
deus blasfemo. Elas pulavam e se contorciam, em suas demonstrações rítmicas sugerindo
alguma dança ritualizada e selvagem. No centro dos xamãs caminhava um homem sem
camisa, com seu peito magro coberto de vermelho ao qual Valent não conseguia entender
se era tinta Molgur ou o próprio sangue do homem.
"Menoth nos proteja”
Valent ouviu Ternius sussurrar atrás de si, com uma voz grave e repleta de horror.
“Não pode ser... é Neras.”
Valent respirou fundo, sentindo o peso do desespero sobre ele. Neras estava entre os
últimos do grupo de caça que ele havia enviado. Há duas semanas o grupo foi surpreendido
por Molgur a alguns quilômetros da vila, mas conseguiu lutar de volta para até Trácia.
Todos, exceto Neras.

Ele foi ferido no confronto inicial, e os outros foram obrigados a deixá-lo para trás. Todos
acreditavam e na verdade, esperavam que Neras tivesse sucumbido aos ferimentos antes
que os Molgur o encontrassem. A ideia do que poderia vir a acontecer ao homem fez o
estômago de Valent se revirar.
Das muralhas Menitas, todos os olhos estavam fixos no espetáculo que se desenrolava à
beira da floresta. Um Molgur macho forçou Neras a ajoelhar-se enquanto as xamãs
dançavam e uivavam ao seu redor. Os guerreiros flanqueavam o grupo em duas linhas
escalonadas e adicionavam seu próprio cântico gutural, profundo e retumbante, ao grito
ululante das fêmeas. Neras ajoelhou-se imóvel, de cabeça baixa, a imagem perfeita de um
homem que aceitou o seu destino.
Valent viu que uma das mulheres segurava uma lâmina em sua mão direita uma das finas e
brutalmente afiadas facas de pedra que todas as xamãs Molgur carregavam. Ele sabia o
que aconteceria em seguida e olhou para os homens ao longo das muralhas. Seus arcos
não tinham alcance para derrubar os Molgur ou proporcionar a Neras uma morte rápida. Ele
se forçou a assistir enquanto o cântico selvagem se intensificava, crescendo mais alto e
frenético. Seus homens precisavam vê-lo aceitar sem pestanejar o que aconteceria em
seguida. Se ele hesitasse, como ele poderia esperar que seus homens permanecessem
firmes?
As xamãs pararam subitamente de dançar, e seus uivos estridentes desvaneceram-se no
trovão surdo do cântico dos guerreiros Molgur. Duas das mulheres avançaram para segurar
Neras pelos braços, enquanto aquela que empunhava a faca de pedra aproximava-se por
trás agarrando-lhe pelos cabelos. Então, sem cerimônia, com um puxão colocou a cabeça
de Neras para trás, estendeu a mão direita e passou a faca pela garganta dele com um
único movimento selvagem.
Mesmo de onde Valent estava no topo das muralhas, era possível ver o sangue jorrar.
Neras se debatia e lutava e sua aparente apatia foi esquecida à medida que sua vida
jorrava de seu corpo. As mulheres Molgur o seguraram firmemente até que seus últimos
momentos de angústia cessassem, e ele desabou em suas mãos.
Ao longo da muralha, Valent pôde ver seus homens agrupados em duplas ou trios,
esquecendo suas ordens em busca do conforto das palavras uns dos outros. Ele não os
repreendeu; não havia ameaça imediata, e eles ainda estavam seguros atrás de suas
muralhas. Os Molgur haviam realizado rituais semelhantes com Menitas capturados no
passado, embora ele não se lembrasse de tantos desses selvagens presentes antes.
Os xamãs Molgur ergueram novamente as vozes em um grito estridente, e aqueles que
seguravam Neras recuaram, deixando seu corpo sem vida cair no chão. As cinco mulheres
viraram as costas para a vila e encararam a floresta com os braços erguidos. Seu canto
estridente adquiriu uma qualidade de melodia à medida que se harmonizou com o canto
mais profundo dos guerreiros.
Valent percebeu algo se acumulando no ar, algo antigo e inominável, uma energia que o

fazia sentir-se vulnerável mesmo atrás de suas muralhas. Ele viu as árvores na floresta
começarem a balançar diretamente no caminho das xamãs Molgur e ouviu o grito gemido
de troncos se partindo sob algo imensuravelmente grande e pesado.
Quando a criatura emergiu da floresta, erguendo-se sobre os Molgur diante dela, mal
parecia real, um fragmento de algum terrível pesadelo desperto. Ele percebeu uma
respiração coletiva entre seus homens e tomou consciência de sua própria boca
movendo-se involuntariamente em uma prece desesperada ao Criador.
A criatura que os Molgur tinham invocado se erguia tão alta quanto a parede ao redor da
vila. Mantinha-se sobre duas pernas,e seus longos e poderosos braços terminavam em
mãos com dedos achatados. Pelos brancos e ásperos cobriam seu corpo e pendiam em
tufos longos de seus braços e ao redor de seus cascos fendidos. Sua cabeça de focinho
reduzido, que se erguia a 5 metros do chão, era coroada com um espiral de chifres,
semelhante ao de um carneiro, mas coberto por densas placas ósseas.
Ao lado de Valent, Ternius sacou sua espada enquanto agarrava o topo da paliçada com a
outra mão; a força era tanta que seus dedos estavam completamente brancos de tensão.
Ternius voltou seu olhar para Valent, seus olhos arregalados e a garganta se movendo em
puro terror mudo. Valent nunca tinha o visto tão assustado, e sentiu que o medo do homem
era contagioso, por um instante Valent sentiu como se uma serpente de horror se
entranhasse em seu coração e vísceras, devorando sua coragem.
Nesse momento de desespero, Valent agradecia pelos os aldeões não poderem ver o que
estava acontecendo além das muralhas. Ele mal podia imaginar o pânico que uma visão
assim causaria.
Os Molgur haviam cessado os cânticos, e um silêncio mortal pairou sobre a clareira. A
criatura encarava os xamãs à sua frente, arranhando o solo com um casco maciço. As
mulheres recuaram, afastando-se do corpo de Neras, enquanto os guerreiros flanqueavam
o monstro em duas linhas, apontando diretamente para o portão norte da paliçada da vila. A
besta avançou, com cada passo seu fazendo a terra tremer, e então se abaixou para cheirar
o corpo de Neras. Após um momento, ergueu-se à sua altura total, e virou a sua cabeça
maciça semelhante a de um mamute na direção da vila. Valent sentiu que algo havia
ocorrido entre a criatura e os Molgur, mesmo sem palavras sendo proferidas. Uma oferta foi
feita e aceita.
Ele sabia em seus ossos o que viria a seguir, mesmo antes que a grande besta abaixasse a
cabeça e começasse a pisotear a planície aberta em direção à vila, Valent gritou às suas
ordens.
"Arqueiros! Abatam-na antes que alcance o portão!"
Sua voz sacudiu os homens de sua paralisia de terror, e eles se apressaram em formar uma
linha ao longo das muralhas no norte.

A besta se movia rapidamente, suas patas onde tocava transformava a terra queimada em
adubo. Os Molgur se moviam atrás de seu campeão em uma multidão dispersa, suas vozes
elevadas em um coro de uivos de guerra.
Valent ergueu sua espada e mais uma vez bradou em ordem.
"Preparem e soltem!"
Ao lado dele, quatorze homens puxaram seus arcos e lançaram suas flechas com pontas de
ferro na besta que avançava. A maioria das flechas assobiou passando por ela ou afundou
em sua pele sem efeito aparente; e aquelas que atingiram seu crânio e chifres
ricochetearam, quebradas e inúteis.
“É muito grande!"
Disse Ternius, agarrando o braço de Valent.
"Deixe-o chegar mais perto. Talvez o portão aguente."
Valent assentiu, embora ele não acreditasse de verdade nas palavras de Ternius.
"Concentrem-se nos Molgur!"
Ternius gritou, e sem demora os homens puxaram seus arcos mais uma vez.
Desta vez, suas flechas voaram sobre a besta e encontraram alvos muito mais macios.
Valent observou com satisfação sombria enquanto quatro guerreiros Molgur e uma das
xamãs caíam no chão, com uma flecha Menita alojada em seu peito, torso e crânio.
A besta estava a apenas 18 metros do portão agora, e não diminuía a velocidade. Avançava
como uma força da natureza, um furacão ou terremoto em forma física. Saltou a vala rasa
na base da parede e colidiu com o portão sem diminuir a velocidade. Valent sentiu toda a
parede tremer e ouviu o som terrível de vigas pesadas se partindo sob o ataque.
"Continuem atirando!"
Valent gritou para os homens ao seu redor. E então, voltou-se para Ternius e com um puxão
o conduziu por um declive de terra em direção à vila.
Os habitantes de Trácia foram expulsos de suas casas pelo som da besta no portão, e
estavam se movendo em uma multidão dispersa longe da parede norte. Quando Valent e
Ternius chegaram à base do declive, Valent puxou Ternius para perto e lhe ordenou.
“Preciso que você pegue Baeren, Orthus e mais seis dos nossos guerreiros e conduza
nosso povo para fora pelo portão sul.”
“O quê?!”

Ternius exclamou, afastando-se de Valent.
”'Abandonar a Trácia? Seremos massacrados lá fora! Seu pai...”
“Chega!”
Valent em tom de desaprovação o interrompeu.
“Meu pai não estava seguindo a vontade do Legislador quando nos liderou para o norte,
Ternius. Ele estava seguindo a própria vontade. Nosso povo está morrendo. Não há futuro
aqui.”
A parede tremeu novamente quando a besta se chocou contra o portão, enfatizando a
declaração de Valent.
“Preciso que você conduza nosso povo para longe disso”
Disse Valent, com um tom mais suave, quase suplicante.
Ternius o encarou por um momento e então assentiu e perguntou.
“'Eu farei isso. Mas para onde iremos?”
"Vá para o sul. Leve-os para casa. Uma das colônias os acolherá."
Respondeu Valent. Mas Ternius franzia o cenho em resposta.
"Você não pretende nos seguir"
Disse ele gravemente.
Valent balançou a cabeça em sinal de negação.
“Pecados plantados pelo pai são colhidos pelos filhos"
Disse suavemente, citando o Cânone da Verdadeira Lei.
"Eu conseguirei algum tempo para vocês."
Disse Valent.
Ternius então estendeu a mão e segurou o ombro do jovem.
"Que Menoth lhe dê forças, Valent. Nos encontraremos novamente em Urcaen."
Em seguida, virou-se e começou a gritar os nomes dos guerreiros que o acompanhariam.
Valent observou o grupo descer das muralhas e se apressar em direção ao portão sul. Os

homens restantes haviam esgotado suas flechas e o observavam em busca de mais
ordens.
Ele olhou para cima e apontou sua espada para o portão, que agora se curvava para dentro
e que poderia desabar a qualquer momento.
"Peguem seus machados!"
Ele gritou para a meia dúzia de homens que ainda resistiam nas muralhas.
“Juntem-se a mim no portão! Que o Criador seja testemunha de seu sacrifício hoje!"
Ele sentiu surgir um forte orgulho quando cada homem pegou o machado do cinto, fixou o
escudo no braço e começou a descer as muralhas. Valent avançou em direção ao portão,
seus poucos guerreiros seguindo atrás. Ele podia ouvir as vozes ásperas dos Molgur do
lado de fora das paredes, que eram silenciadas apenas pelos profundos gritos retumbantes
da besta. Ele e seus homens pararam a cerca de 18 metros do portão já danificado, no
meio da estrada que dividia as metades leste e oeste da vila. Atrás deles, os habitantes da
Trácia fugiam em direção ao portão sul, e Valent conseguia ouvir a voz de Ternius sobre o
tumulto, gritando ordens e palavras de encorajamento.
"Formem uma cunha atrás de mim"
Disse Valent, e os homens obedeceram, criando um triângulo irregular com Valent à frente.
Ele posicionou seu grande escudo oval à frente do corpo, apresentando o Menofix o
símbolo de Menoth estampado em sua superfície ao inimigo. Então, ele olhou para a
paliçada de madeira, que agora parecia tão frágil, e ofereceu uma oração silenciosa a
Menoth.
“Que minha morte tenha algum significado”
Ele implorou ao Legislador.
“Não puna meu povo pelo orgulho de meu pai.”
Ele esperava que sua oração simplesmente se dissolvesse no éter, como aconteceu todas
as vezes anteriores, mas desta vez seu apelo não foi recebido com silêncio.
Valent sentiu o súbito peso sufocante de uma presença que sua mente mal conseguia
compreender; ela avançou por ele, preenchendo cada fibra de seu ser com uma vontade
vasta e indomável. Ele tinha uma vaga consciência do portão se despedaçando diante dele
enquanto a besta avançava. Como se através de uma névoa, ele viu quatro de seus
homens largarem suas armas e fugirem, enquanto dois soltavam gritos de batalha roucos e
investiam para sua certa perdição. Mas então, o portão, seus homens e a besta
simplesmente desapareceram, e ele viu um muro de pedra imponente, tão imenso que não
conseguia ver onde começava ou terminava. Sobre essa poderosa barricada pendiam
enormes tapeçarias com o Menofix, e no topo, ele viu muitos soldados, seus escudos
também ostentavam o símbolo do Criador.

Foi uma visão gloriosa, e ele sentiu lágrimas arderem-lhe nos olhos.
A visão continuou, e Valent viu um grande sol amarelo se erguendo atrás do muro, tão
brilhante e puro quanto a vontade de Menoth. Quando então, uma voz falou em sua mente,
uma voz tão gloriosa e terrível que ele pensou que sua cabeça se partiria, incapaz de conter
sua enormidade.
“VEJA O MURO”
Ecoou a voz.
“VOCÊ É MEU ESCUDO. E VOCÊ CUIDARÁ DA CHAMA QUE FICA ENTRE A
ESCURIDÃO E AQUELES QUE OBEDECEM À VERDADEIRA LEI.”
Então, tão subitamente quanto havia vindo, a presença o deixou, levando consigo a visão
do magnífico muro. As visões e sons da condenada Trácia rugiram de volta através de seus
sentidos, e Valent se viu de joelhos diante do portão destruído. Viu a besta agachada sobre
o cadáver esmagado de um de seus homens, enquanto outro Menita estava agarrado em
um dos punhos enormes da besta. Em resposta a besta golpeava o corpo em sua mão
contra o chão repetidamente, deixando uma mancha sangrenta na terra que se alargava a
cada golpe.
Valent se levantou lentamente e mais uma vez colocou seu escudo à sua frente.
"Eu sou o escudo"
Disse suavemente, seu corpo vibrando com poder.
"Eu permanecerei de pé!"
Esse último ele gritou, fazendo com que a besta girasse sua cabeça com chifres em sua
direção. Atrás dela, os Molgur fluíam pelo o portão quebrado, embora não avançassem
muito. Eles não tinham pressa. A vila era deles, e pararam para assistir ao monstro que
haviam solto contra seus inimigos fazer seu trabalho.
A besta se endireitou à sua altura total e deixou cair o cadáver arruinado de sua mão. Ela
raspou o chão e encarou o humano que ousou desafiá-la, depois baixou a cabeça e
avançou.
Valent apoiou seu escudo contra o corpo e firmou os pés, se preparando para o impacto
terrível. Sentiu um calor repentino em seu braço direito e olhou para baixo, vendo chamas
amarelas deslumbrantes tremulando ao longo da longa lâmina de ferro da espada de seu
pai. Ele não sentiu medo, nem arrependimento. Era um recipiente vazio no qual Menoth
havia derramado sua vontade.
A besta cruzou o espaço entre o portão e Valent no intervalo de um piscar de olhos e
golpeou seu escudo com sua cabeça maciça e nodosa, como um verdadeiro aríete vivo. Ele

deveria ter sido arremessado para longe, esmagado pela terrível força da besta Molgur ou
transformado em uma pasta vermelha sob seus cascos. No entanto, no momento do
impacto, o Menofix em seu escudo brilhou com uma luz dourada brilhante, e ele não sentiu
mais do que um empurrão forte contra as tábuas de madeira robustas. A besta, no entanto,
reagiu como se tivesse se chocado diretamente contra o grande muro de pedra que Valent
vira em sua visão, recuando da pancada em um escudo absurdamente pequeno com um
mugido dolorido e cambaleando de volta em direção ao portão.
Valent avançou com ímpeto, esquivou-se de um golpe desajeitado do punho maciço da
besta e enfiou sua espada flamejante até o cabo embaixo de suas costelas do monstro. A
criatura soltou um grito gutural espesso e recuou, quase arrancando a lâmina da mão de
Valent. Mas ele a segurou firmemente, e a espada deslizou para fora do corpo da besta
enquanto ela cambaleava para longe. Fumaça subia da lâmina, já que as chamas ao longo
de seu comprimento consumiam o sangue da criatura.
A besta deu alguns passos, agarrando a ferida no torso, e então caiu de joelhos, sangue
escorrendo por seu corpo e formando poças no chão. Valent levantou seu escudo e
avançou em direção à besta. Ela o observou se aproximar, seus olhos negros turvados pela
dor e fúria. Quando ele estava a uma distância para atacar, ela levantou um braço
fracamente para se proteger, mas Valent desviou o golpe com seu escudo e se aproximou,
trazendo sua espada em um borrão de ferro flamejante. A lâmina cortou o pescoço espesso
da besta como se fosse feita de cera, e a enorme cabeça chifrada rolou para o chão aos
seus pés. O corpo da criatura desabou para trás e se chocou contra a terra.
Valent virou-se para enfrentar os Molgur reunidos e viu em seus rostos uma mistura de
horror e admiração. Apontou a lâmina ardente para eles, colocou seu escudo e o símbolo
sagrado do Legislador à frente do corpo e esperou. Eles o encararam em silêncio, mas não
fizeram menção de para atacar. Longos momentos se passaram, e ainda assim os Molgur
não avançaram. Finalmente, um dos guerreiros corpulentos simplesmente virou-se e
atravessou o portão destruído. Outro o seguiu, e então mais um. Os Molgur deixaram a
Thracia aos poucos, até que apenas Valent permaneceu.
Ele deixou sua espada cair ao lado, e as chamas tremulantes ao longo da lâmina
desapareceram. Seu escudo parecia muito pesado, e o cansaço dominava seus membros.
Atrás dele, ouviu pessoas se aproximando, e lentamente virou-se para ver aqueles
guerreiros que haviam fugido retornando, com vergonha estampada em seus rostos. Um
deles, um homem de cabelos escuros chamado Caleon, caiu de joelhos diante de Valent.
“Meu senhor”
Disse Caleon, usando o título de honra geralmente associado aos sacerdotes-reis da Antiga
Icthier.
"O que faremos agora?"
Valent embainhou sua espada e olhou para as paredes de madeira da vila de seu pai.

"Nosso povo está disperso para o sul"
Ele disse após uma longa pausa.
"Uniremos todos aqueles que seguem a Verdadeira Lei sob a vontade do Criador. Eu vi uma
fortaleza contra as trevas ainda maior do que Icthier."
Ele estendeu a mão, colocou-a no ombro de Caleon e sorriu.
"Siga-me, irmão, e juntos construiremos o Muro."

Texto traduzido por Silvio Rodrigues Gouvêa do Crônicas do Bardo.
OBS. Não sou um tradutor profissional e não tenho o intuito de ganhar dinheiro com essematerial.
Por isso a tradução foi feita com calma e cautela porém foi necessário acrescentar pequenas palavras e frases para que pudesse ser compreendido como um todo mas sem mudar a história oficial. Espero que esse texto e muitos outros possam vir para que mais pessoas possam ter acesso a essas incríveis histórias que se passam no meu atual cenário favorito, o Reinos de Ferro.

sábado, 14 de abril de 2018

Mago Pistoleiro


Magos-pistoleiros são tipos imprevisíveis: sua magia vem cm explosões inconstantes, e poucos realmente entendem o estranho vínculo que formam com suas pistolas. Como os
feiticeiros, os magos-pistoleiros parecem nascer com este dom, mas ele exige treinamento e prática mais intensos.
Devido ao seu forte desejo de empunhar pistolas c às suas horas de treinamento com elas, sua magia é mais limitada do que a dos feiticeiros ou magos. Contudo, são combatentes muito melhores, embora sua ênfase na pistola limite seu conhecimento de outras armas.
 Quase todos são expostos a pistolas durante sua infância e desenvolveram uma estranha predileção por essas dispendiosas armas. Por instinto, começam a gravar runas místicas no cabo da pistola e ao longo da estrutura de metal e do cano, reforçando misticamente a pistola para o uso com seu talento arcano. Através de horas de foco e treinamento mental intensos, eles formam um laço estranho com a pistola, desenvolvendo sua própria magia arcana única, que incorpora essa arma de fogo. O processo pelo qual o mago-pisloleiro canaliza energia mágica através da pistola fica óbvio para o indivíduo com o dom, e os magos·pistoleiros têm dificuldade em entender por que os outros  consideram essa idéia e prática tão alienígenas. A medida que o mago-pistoleiro cresce e se desenvolve, através de prática constante ele ap rende as limitações do simples aço e passa a entender como reforçar o metal para suportar potentes energias arcanas. Através desse treinamento e dedicação, a pistola se torna uma extensão de sua alma. Muitos magos-pistoleiros são solitários, incompreendidos ou temidos pelos estranhos poderes que manifestam. E esta tendência, ao lado da natureza livre de muitos magos pistoleiros, leva--os a se meterem em problemas com muita freqüencia. Alguns se tornam pouco mais que armas contraladas ou bandidos, mas outros continuam a forçar e desenvolver seus talentos. E caso tenham sorte, eles encontram seu caminho, ou encontram alguém que os levc, e acabam em uma das novas ordens militares que começaram a recrutar e treinar esses indivíduos. Magos-pistoleiros estão mais à vontade entre outras pessoas livres. Estudiosos e ratos de biblioteca tendem a ser puritanos e austeros para o gosto do mago-pistoleiro, e regularmente se encontram em conflito com as pessoas mais ordeiras, como clérigos de divindades ordeiras, e monges. Magos, em particular, tendem a olhar os magos pistoleiros com condescendência.  Mais de um já foi ouvido dizendo que a confiança de um mago-pistoleiro em uma arma física é uma muleta e que eles são simplesmente feiticeiros aleijados, eternamente necessitando de um foco material para manifestar seus poderes. Magos·pistoleiros, por sua vez, dizem nessa dança que seus colegas arcanos têm ciúmes de suas habilidades e de seu talento inato para a magia.

Aventuras: muitos magos-pistoleiros aventuram-se para testar suas habilidades, pois apenas através de treinamento constante e tentativa e erro podem expandir suas capacidades e desenvolver o foco mental necesario para esta exigente rotina de magia.
Eles também se aventuram por lucro. Muitos precisam sentir a presença fria, pesada e reconfortante de uma pislola arcana, pois o estranho aço destas armas é adequado à sua forma de magia, e pode agüentar forças mágicas maiores que o aço comum.

Tendência: magos-pisloleiros tendem a ser espíri tos livres. Sua magia é um dom, uma paixão. Não é o treinamento em livros comum às ordcns de magos, ou mesmo a arte intuitiva do feiticeiro. Ela exige foco e treinamento intensivo, mas também rapidez de pensamento e detenninação que vêm apenas com uma confiança completa em suas habilidades. Em geral, eles são menos ordeiros e bem mais caóticos que seus colegas arcanos.

Nível
BBA
Habilidades
Magia
1
+0
Foco arcano,
Ligação com pistola arcana
Circulo 0
2
+1
Runa de Reforço
1 Circulo
3
+2
Forjar balas runicas

4
+3


5
+3
Talentos Adicional
2 circulo
6
+4


7
+5


8
+6

3 circulo
9
+6


10
+7
Talentos Adicional

11
+8

4 circulo
12
+9


13
+9


14
+10

5 circulo
15
+11
Talentos Adicional

16
+12


17
+12

6 circulo
18
+13


19
+14


20
+15
Talentos Adicional

 INFORMAÇÕES DE JOGO
Habilidades: o Carisma determina a magia mais poderosa que um mago·pistoleiro é capaz de conjurar, a quantidade de magias disponíveis a cada dia e a dificuldade para resistir às suas magias. A Inteligência é importante para diversas perícias de classe do mago-pistoleiro, e a Destreza determina a habilidade do mago-pistoleiro com sua pistola.
Tendência: qualquer uma.
Pontos de Vida: 12 + 4 PV por nível
Ouro Inicial: 50 PO, mais uma pistola arcana.
Pericias de Classe: As perícias de classe de um mago-pistoleiro (e habilidade para cada perícia) são: Blefar (Car), Conhecimento (arcano) (lnt), Atletismo (For), Identificar Magia (Int), Intimidação (Car), Percepção (Sab), Ofícios  (armas de fogo) (Int) .
Pericias Treinadas: (2 + mod, de Inteligência)

Habilidades:
Usar Armas e Armaduras: um mago-pistoleiro sabe usar todas as armas simples, todas as pistolas, e todas as armaduras leves, mas não escudos.
Um mago-pistoleiro que esteja segurando uma pistola funcional é capaz de conjurar suas magias enquanto estiver usando armaduras leves sem sofrer a chance de falha de
magia arcana. No entanto, um mago-pistoleiro que use armaduras médias ou pesadas, ou escudos, sofrerá a chance de falha de magia arcana quando conjurar uma magia com componentes gestuais.
Foco Arcano: Um mago-pistoleiro é capaz de canalizar magia arcana através de sua pistola. Com uma pistola em condições de funcionamento, o mago-pistoleiro sempre
tem o foco arcano necessário para conjurar suas magias. Ele também pode dispensar componentes materiais baratos. Embora qualquer componente que custe 100 PO ou mais deva ser obtido pelo mago-pistoleiro.
Além disso, quaisquer magias de raio (eletricidade) que o mago-pistoleiro conjurar podem ser focalizadas através do cano de sua pistola. permitindo que ele use seu bônus de ataque à distância com a pistola para realizar o ataque de toque à distância da magia de raio. Contudo, o mago-pisto leiro nào pode conjurar uma magia e disparar sua pistola ao mesmo tempo.
Infelizmente, pistolas normais não são construídas para suportar as forças arcanas canalizadas por um mago pistoleiro. Para cada dois níveis de magia conjurados através
de uma pistola, ela perde 1 ponto de dureza, arredondado para cima para magias de nível ímpar. Quando a dureza da pistola chega a 0, ela é desnuída, consumida pelas forças arcanas canalizadas através de si.. Ou seja magias de 1 e 2 circulo removem um 1 ponto de dureza, magias de nivel 8 e 9 consomem 4 pontos de dureza.
Uma pistola comum tem dureza 10 e 5 Pv. Este dano se aplica apenas a magias diretameme canalizadas através da pistola (magias de raio e magias ligadas a runas mágicas). Pistolas arcanas são imunes a este dano.

Ligação com Pistola Arcana: um mago-pistoleiro é capaz de formar uma ligação com o estranho metal usado para criar pistolas arcanas. Fazê-lo leva um dia inteiro e consome materiais alquímicos no valor de 100 PO. A arma ligada se torna uma extensão do mago-pistoleiro e, embora muitos magos-pistoleiros carreguem uma segunda, terceira ou até quarta pistola, nem todos podem se ligar a mais de uma pistola arcana. O mago-pisLOleiro pode se ligar apenas a um número de pistolas arcanas igual ao seu modificador de Carisma.

Magias: os magos-pistoleiros conjuram magias arcanas. Magos-pistoleiros têm um número limitado de magias que podem conjurar por dia e que conhecem.
O mago-pistoleiro conjura essas magias sem a necessidade de preparar com antecedência. Para aprender ou conjurar uma magia, um mago pistoleiro deve ter um valor de Carisma igual ou superior a 10 + o nível da magia. A Classe de Dificuldade para os testes de resistência contra essas magias equivalente a 10 + nível da magia + modificador de Carisma do mago-pistoleiro.
Um mago-pistoleiro de 1 nível conhece quatro magias de nível 0, a escolha do jogador.   A cada nivel ale aprende uma nova magia de qualquer circulo que ele disponha.
Pontos  de magia:  No segundo nível o mago  pistoleiro recebe um numero de pontos de magia igual ao seu modificador de carisma+1, nos níveis seguintes ele recebe 2 pontos de magia por nível. No primeiro nível ele  apenas pode conjurar as magias de  circulo 0.

Runas de Reforço: no 2° nível, o mago-pistoleiro aprende segredos arcanos que ele usa para reforçar suas pistolas, para que elas agüen tem os maus-tratos que a canalização de energias mágicas lhes infligem. Para cada 50 PO em materiais e um dia de trabalho no qual ele fica cuidadosamente gravando runas em uma pistola, o mago-pistoleiro pode aumentar a dureza da pistola em 1 ponto, até um máximo de dureza 15.
Para cada 100 PO e um dia, os PV da pistola podem ser aumentados em 1, até um máximo de 16 pontos. Estas runas de reforço somam-se com os bônus de uma pistola arcana ligada.

Forjar Bala Alquímica: quando atinge o 3° nível, o mago-pistoleiro aprende a construir balas especiais, que canalizam energia mágica. Quando dispara uma bala rúnica, o mago-pistoleiro pode, como uma ação livre, canalizar uma magia na bala. Ele fica limitado ao circulo mais alto de magia que possua para os pontos de magia que pode adicionar na bala. Caso a bala acerte seu alvo, causa ld6 pontos de dano de força adicionais por ponto de magia canalizada na bala. Magias de nível 0 adicionam apenas + 1d3 de dano. Um pistoleiro de terceiro nível é capas de conjurar magias do segundo circulo portanto pode  acrescentar dois pontos de magia a bala  adicionando 2d6.
Além disso, ao chegar ao 6° nível, ás balas rúnicas do mago-pistoleiro são tratadas como possuindo +1 de bônus de melhoria quando níveis de magia são canalizados na bala. Este bônus aumenta em +1 para cada 6 níveis na classe mago-pistoleiro; +2 no 12° nível, +3 no 18° nível.
O mago-pistoleiro não pode canalizar uma magia em uma bala que está fazendo um ataque de toque à distância ou carregando uma magia de ataque de toque. Veja A Pistola
Arcana do Mago-pistoleiro para mais detalhes.

Forjar balas rúnicas é um processo muito complexo, que exige metais derretidos e em pó, e trabalho arcano meticuloso. Criar balas rúnicas exige um kit de ferramentas para trabalho em armas de fogo e graduações nas perícias Alquimia e Oficios. O custo material, em adição ao custo normal de uma carga de pistola, é de 1 PO para cada bala
rúnica, que é normalmente reforçada com lascas ou pó de ouro - indispensável para suas propriedades condutoras.
Uma vez que o chumbo seja liqüefeito, o ouro é despejado no metal derretido e, enquanto os projéteis esfriam, surgem manchas douradas em sua superfície. Após isso,
o conjurador grava sua marca de assinatura - um símbolo rúnico - com lascas de ouro na bala. Esta marca funciona como o ponto receptor para as magias do mago-pistoleiro, e as manchas carregam a magia através da bala.
Magos-pistoleiros normalmente conseguem preparar 5 balas por hora, mas o trabalho. É cansativo e exige concentração. A cada hora depois da primeira, o mago pistoleiro precisa ser bem-sucedido em um teste de fortitude (CD 15 +1 por hora adicional além da primeira). Caso o teste falhe, o mago-pistoleiro está fatigado e deve esperar um dia inteiro antes de tentar fazer mais balas. Lentes de aumento e ferramentas obra primas de gravação diminuem esta CD de acordo com o julgamento do mestre. (recomendo um bonus de +2 no teste).
Gravar as runas é um processo meticuloso, especialmente dificil para os olhos, mesmo sob as melhores condições de luz. Um mago-pistoleiro que tenha falhado no teste de fortitude descrito acima também fica com os olhos cansados, e recebe -1 de penalidade nas jogadas de ataque à distância para cada hora passada preparando balas rúnicas. Esta penalidade diminui em 1 ponto a cada 2 horas, desde que o mago-pistoleiro não esteja mais gravando runas.

Talentos Adicionais: um mago-pistoleiro recebe um talento adicional no 5 nível e a cada 5 níveis subscequentes. Os ta1entos escolhidos devem ser talentos metamágicos, ou devem pertencer a seguinte lista:  Esquiva, Foco cm Arma (pistola), Foco em Magia, Foco em Magia Maior, Foco em Perícia (Oflcios [armas de fogo]), Iniciativa  Aprimorada, Magia Penetrante, Magia Penetrante Maior, Magias em Combate, Mobilidade, Recarga em Combate, Recarga em Combate Aprimorada, Saque Rápido, Tiro Certeiro, Tiro em Movimento, Tiro Longo, Tiro Preciso, Tiro Preciso Aprimorado e Tiro Rápido.
 

A PISTOLA ARCANA

Embora o mago-pistoleiro seja capaz de alguns feitos espetaculares com qualquer arma de fogo, ele é ainda mais impressionante quando tem em suas mãos uma pistola arcana à qual está ligado. Todo mago-pistoleiro iniciante deseja possuir pelo menos uma destas armas. A pistola arcana é de fabricação anã, criada de metais raros em um processo
de forja refinado pela elite dos artesãos e tem propriedades alinhadas com, por falta de um termo melhor entre os anões, "as feitiçarias malfeitas dos Magos-pistoleiros”. Magos-Pistoleiros que tenham refinado suas habilidade-mágicas são capazes de tecer magias nessas armas e através delas, conseguindo uma variedade de efeitos fantásticos e uma vez que um mago-pistoleiro tenha se alinhado com uma pistola arcana, ela passa aser uma extensão de seu ser.
A medida que os níveis de classe do pistoleiro arcano sobem a  pistola arcana  tambem cresce em seu poder.
Se a pistola ligada for destruída, o mago-pistoleiro ser bem-sucedido em um teste de resistência de Fortitude (CD 15). Caso o teste de resistência falhe, o ele perde 200 pontos de experiência por nível de classe. Um teste de resistência bem-sucedido reduz à perda a metade dessa quantia. Contudo, o total de pontos de experiência do mago pistoleiro nunca pode chegar a menos de O como resultado da destruição de uma pistola ligada
Dureza: à medida que o mago-pistoleiro avança de nível, sua pistola arcana ligada torna-se mais durável. Uma pistola arcana padrão começa com dureza 10; isto aumenta em + 1 para cada 2 níveis do mago-pistoleiro.
Pontos de Vida: uma pistola arcana padrão tem 8 pontos, de vida. A medida que o mago-pistoleiro com o qual está ligada avança de nível, os pontos de vida da pistola aumentam em 1 por nível de mago-pistoleiro.
O mago-pistoleiro e a pistola arcana compartilham magias mesmo que as magias não afetem itens normalmente. Por exemplo, Roderick conjura reflexos em si mesmo, criando quau·o imagens. Enquanto sua pistola permanecer dentro de 1,5 metro de Roderick, ela também tem quàtro imagens, tornando mais difíci l para seus oponemes acertarem Tamo Roderick quanto sua preciosa pistola arcana.
Prontidào: o toque do frio aço arcano aguça os sentidos do mago-pistoleiro. Enquanto estiver tocando sua pistola arcana ligada, O mago-pistoleiro é tratado como se tivesse o
talen to Prontidão.
Toque à Distância: se o mago-pistoleiro for do 30 vel ou superior, a pistola al·cana pode ser usada para desfelir magias de toque à distância. Usar esta habilidade exige que
uma bala rúnica já esteja carregada na pistola arcana do mago-pistoleiro. Quando ele conj ura uma magia de toque à distância, a bala túnica na mara é designada para "tocar" o alvo (o mago-pisLOleiro deve estar segurando sua pistola ao conjurar a magia). A magia de toque à distância pode então ser tratada como um ataque de toque à distância.
Caso o ataque também fosse ser bem-sucedido como um ataque corpo-a-corpo à distância normal, o dano da pistola também é aplicado ao aLaque. O ataque de toque à distância é feito com o bónus de ataque do mago-pi stoleiro com sua pistola. Conjurar uma magia de toque em uma bala rúnica e disparar a pistola arcana nunca podem ser combinados em uma única ação. A magia ainda precisa de seu tempo normal de execução, e disparar a pistola ainda é uma ação padrão separada. A bala fica "carregada" com a magia de toque até o fim do próximo turno do mago-pistoleiro.
Toque: se o mago-pistoleiro for do 50 nível ou supetior, a pistola arcana pode ser usada para carregar magias de toque.
Isto funciona exatameme como a habilidade toque à distância.
Elo Visual: devido à natureza mágica do melai arcano e à ligação que foi forjada entre a pistola e o mago-pistoleiro, o mago-pistoleiro do 70 vel ou superior pode, como uma ação livre e median te um teste bem-sucedido de Concentração (CD 15), enxergar como se estivesse vendo a partir da mira  da pistola (ou do cano, caso ela não possua mira) , ao invés de usar seus pprios olhos. Isto permite que ele mire a pistola
sem olhar, permitindo espetaculares tiros especiais.
Invocar Pistola: no 90 nível, o mago-pistoleiro recebe a habilidade de invocar sua pistola arcana para sua mão.

Quando separado de sua pistola, o mago-pistoleiro pode, com um teste bem-sucedido de identificar magia (CD 18), fazer com que sua pistola voe até sua mão, desde que ela, não esteja sendo segurada por outra pessoa e possa ser vista pelo mago-pistoleiro. Usar esta habilidade requer uma ação de movimento, embora um mago-pistoleiro com o talento Saque Rápido possa invocar, como uma ação livre, tantas pistolas ligadas quanto forem suas mãos.
Vidência na arma: se o mago-pistoleiro for do 130 vel ou superior, ele pode observar sua pistola (como se conjurasse a magia vidência) uma vez por dia. Esta é uma habilidade similar a magia que não exige componenles materiais ou foco, que permite que o mago-pistoleiro veja sua pistola ligada e o ambiente ao redor dela caso sejam separados .

A classe pistoleiro arcano é  Do livro Reinos de Ferro  guia de personagens, Marca registrada da jambo editora. O tesxto descritivo da classe pertence a  editora Jambo, todos os direitos reservados. 
O guia de personagens de reinos de ferro usava a Open Game  license do sistema d20. O novo sistema de  reinos de ferro não o usa.
Não é objetivo violar os direitos autorais apenas adaptar essa classe para que  jogadores de Tormenta RPG também pertencente a jambo editora aproveitem. 
É um trabalho de fã pra fã sem nenhum desejo econômico. Os autores do blog não recebem nenhum centavo por suas adaptações.