domingo, 23 de março de 2014

Senhores Arcanos da Guerra

A Besta de Quatro Disparos




Arma Exótica
Preço
Dano
Critico
Distancia
Peso
Tipo
Besta de Quatro disparos
1000 TO
1d10
19-20 (x2)
24m
6kg
Perfurante
Virotes (10)
1 TO
-
-
-
0,5kg
-


 A besta de Quatro disparos é uma arma exótica obra-prima, que pode ser carregada com até quatro virotes ao mesmo tempo. A arma consiste de quatro canaletas esculpidas em um robusto corpo de madeira de lei, com quatro arcos  independentes presos a este corpo. Possuidora de um sistema de Gatilhos que pode ser usados de forma independente ou de forma conjunta em um único disparo.  Cada virote ao ser disparado de forma independente permite quatro disparos sem recarregar. Ainda, pode se disparar os quatro disparos com uma penalidade de -2 no ataque e os quatro virotes serão lançados simultaneamente conta o mesmo alvo, causando 4d10 de dano.

A arma ainda  possui um sistema que facilita a recarga, um sistema de estribo móvel na parte inferior  permite armar os quatro arcos de uma vez. Para isso é necessário  prender o pé no estribo dianteiro inferior da arma, apoiando a arma no chão e permitindo que o sistema de roldanas retese as cordas, puxando para cima as cordas, retesando os arcos  até que  as cordas fiquem presas em seus respectivos  gatilhos. Esses sistema permite que A besta de quatro disparos seja totalmente recarregada  em uma ação padrão. Recarregar individualmente as canaletas requer uma ação de movimento. De qualquer uma das duas formas, recarregar a besta exige o uso das duas mãos. O talento Rapidez de recarga torna a recarga de uma canaleta uma ação livre e a recarga dos quatro virotes uma ação de movimento. O detalhe é que  considera que a besta de quatro disparos esteja sendo usada por  alguém com força  14 ou maior, personagens com força inferior a 14  demoram o dobro do tempo para recarregar as  quatro canaletas com virotes por não terem força o suficiente pra  usar o sistema de roldanas precisando retesar cada corda individualmente. Se possuírem o talento rapidez de recarga e  não possuírem força 14 o talento e a falta de força  se anulam permitindo a recarga com o tempo normal.

Meus  agradecimentos a G.C.A. &  GIOIELLI, a Besta de quatro disparos surgiu na Dragão Brasil numero 6, 1995, editora TRAMA. 

A besta de quatro disparos, originalmente uma arma produzida pra GURPS, surgiu na Dragão Brasil numero 6 em 1995, com arte de André Valle. A revista  muito anterior ao Trio Tormenta, Era uma das primeiras revistas de RPG no Brasil e Alem do Paladino (Marcello Cassaro) possuía um grande numero de colaboradores. È desta Revista que surgiu o Pterodraco (criado pelo próprio paladino) para Gurps. Era o segundo Simbionte, o primeiro as famosas bioarmaduras.



terça-feira, 18 de março de 2014

Em Busca por Lenora: Capitulo V

O Festival de Benthos
(Parte 1 – A Morte de Thomas Lendilkar)




Fogos de artifício estouraram nos céus, alguns mágicos moldavam-se na forma de grandes dragões que voavam sobre a turba cercados por ondas multicoloridas de estalos antes de se dissiparem. Havia barracas por todos os cantos, com guloseimas, artesanatos, frutas e diversões. Não era raro ver a imagem dracônica presente em bonecos de pelúcia ou madeira, em tapeçarias ou trajes vendidos nas barracas de tecidos, ou mesmo feitos de açúcar. Havia dezenas de crianças que corriam fantasiados de colonos e monstros marinhos, havia até competição da melhor imitação. Era incrível como os comerciantes eram capazes de transformar a catástrofe em produtos, e os políticos transformar em lembrança vívida por séculos.

Na avenida principal da grande capital Roschfallen uma parada de Cavaleiros da Ordem da Luz prosseguia como um cortejo portando tochas em memória aos inocentes mortos na grande catástrofe de quatro séculos atrás. Eles seguiam de olhar sério e queixo erguido em nome de seus ancestrais enquanto os clérigos de Tanna-toh entoavam a ladainha melancólica pelo caminho das almas que pereceram em nome da antiga missão civilizadora. Os nobres seguiam às varandas e terraços de suas grandes e luxuosas casas admirando a parada de longe, em meio à suas famílias e intrigas. O sentimento do arrependimento, da tristeza e do grande erro cometido pelos ancestrais misturava-se a bebidas, risadas e todo tipo de diversão. Era no mínimo…

- Deveras curioso! – disse Vladislav com as mãos dentro das grandes mangas do manto negro enquanto descia as escadas de pedra da destacada Biblioteca de Aurinos, aonde estivera desde que chegara fazendo anotações em dezenas de pergaminhos que Tarso carregava às costas.

O necromante e seu serviçal morto-vivo eram uma atração na grande festa, primeiro pela raridade de conjuradores arcanos no reino, em segundo que normalmente eram mais conhecidos nas histórias infantis ou lendas, e aparecendo geralmente como vilões combatidos pelos Cavaleiros da Ordem... E em terceiro, por que a maioria desses magos malignos eram necromantes. As mães afastavam os filhos para longe do homem de negro que ali andava. Vlad achava aquilo engraçado, muitos ali de fato sequer o conheciam e deviam saber da Grande Academia Arcana apenas por rumores contados por bardos blefadores. Simplesmente manteve-se em seu porte, em um passo contínuo enquanto usava seu cetro de maneira nobre. Seus olhos admiravam e guardavam cada imagem e cena que lhe permitia assistir. Seguia a busca de Katabrok e Tasloi que estavam pelo grande festival.

...

Roshfallen foi o ponto que o necromante resolveu iniciar a busca, não só por ter a Biblioteca de Aurinos, extremamente conceituada no reino aonde poderia buscar informações acerca de Lendilkar, como também era ali que ocorreria o Grande Festival de Lendilkar, uma festa popular organizada anualmente no mesmo dia em que há quatro séculos a antiga capital foi engolida pelo mar durante a ira do Rei dos Dragões Marinhos, Benthos. O festival relembrava a toda a população o peso da tragédia como uma conseqüência à invasão sem precedentes que Bielefeld tentara contra o reino arquipélago de Khubar. Naquele dia, Benthos, protetor das ilhas, foi desperto de um profundo sono, e afundou toda a antiga capital junto a parte da costa, embarcações e o próprio fundador do reino.

Não demorou muito e logo a primeira peça de teatro encenando os momentos trágicos apareceu, várias crianças e casais reuniam-se ali para ver a história de seus antepassados, comentando as novidades e erros dos próprios artistas. Enquanto torres eram colocadas de um lado e halflings de preto balançavam um lençol azul de outro para similarizar o mar, um homem pegou uma cadeira de almofadas e sentou-se na ponta do palco trazendo um alaúde no colo. Era um homem nobre, de trajes elegantes, barba curta e branca, cabelos grisalhos em ondulações belas, farto bigode, usando um peitoral de aço com o símbolo da ordem da luz, e com a espada embainhada a cintura. Ele preparava-se para a nova encenação. Vlad de pronto encontrou o corpanzil de Katabrok misturado a todos com o Tasloi sentado em seus ombros para assistir sobre toda aquela multidão.

- Evidentemente interessante… - disse o necromante se aproximando do bárbaro – Após a verificação em alguns tomos, subjeto que seja conveniente uma encenação acerca! Só me indago das proposições desse cavaleiro da Ordem estar ali pronto a entoar a história!

Meia dúzia de palavras não foram compreendidas por Katabrok, como normalmente acontecia, mas sorriu para o mago, cruzou os braços e voltou a atenção para o grupo circense que começava a encenar enquanto o cavaleiro nobre começava a narração.

- Senhoras e senhores! Meninos e meninas… A história que vêm ouvindo até agora é de como nosso reino sofreu tal catástrofe e como a antiga capital foi levada ao fundo do mar! Eu vos trago uma nova… Esta narrará a história de meu tataravô e seu companheiro anão, dois grandes amigos que sobreviveram ao grande desastre… Nossa história começa no ano de 1037, no amanhecer do mesmo dia de hoje… Quando há 363 anos atrás a maior frota de colonos jamais vista em Arton, e liderada por nosso herói Thomas Lendilkar tomou a frente do mar para a conquista do mundo que acreditávamos ser bárbaro!

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As nuvens se fechavam sobre o grande cenário. Uma névoa sorrateira cobria as águas enquanto o clima quente fazia os homens suarem correndo disparados pelo grande porto. As enormes torres de pedra da capital Lendilkar eram testemunhas da formação de uma das maiores frotas que seriam enviadas para as ilhas bárbaras, de maneira a estabelecer feitoria em seu centro. Navios pequenos e grandes eram preparados para a navegação iminente. Os ferreiros traziam em grandes carroças barris e caixotes repletos de armas que seriam usadas na grande infiltração que iniciava aquele dia. Vários navios já estavam em alto-mar, iniciando a primeira frente. Enquanto isso o jovem anão Thombardin e o paladino de Tanna-toh, sir. John Merle, aprontavam-se no grande navio que levaria os principais heróis fundadores do reino e seu séquito mais confiável. À frente, na proa estava Thomas, o lendário fundador que guiou a caravana de colonos de Valkaria àquela costa que chamavam de Bielefield, tornando-o um dos reinos mais desenvolvidos até então.

  A embarcação rangia como um monstro sedento por carne enquanto ia se afastando do porto, balançando bastante pelas ondas revoltas daquele dia. O anão apertou o punho entorno do grande machado de guerra e abaixou o elmo dourado com formato da cabeça de um lobo de maneira a proteger-se da água salgada que toda hora respingava em seus olhos. Cofiou a densa barba negra falando temeroso ao companheiro humano que terminara suas preces.

- Sinto minhas juntas doerem… Isso é um mal sinal, humano!

O mesmo deu algumas tossidas e firmou os pés encarando o mar que sumia sob os cascos de tantos navios. O paladino mirou a grande capital, de torres e muralhas que iam ficando para trás, enquanto a névoa sorrateira que flutuava sobre a água do mar começava a adensar e envolver a nau. Sabia que as juntas do companheiro era um oráculo, sempre anunciando maus presságios, como quando os bárbaros organizaram uma armadilha e quase renderam toda capital… ou quando estavam nas florestas e o troll invadiu a gruta que estavam, por pouco não levando suas pernas à mordidas.

- Deve ser essa névoa esquisita e esse calor que está lhe causando isso! Estamos indo para o meio de selvagens, não iríamos querer um mau agouro, neh? – disse ponderando e tentando esquecer as palavras do companheiro para que não se preocupasse mais.

O paladino ajeitou nas mãos suadas as luvas feitas do couro de um búfalo selvagem, e caminhou com o companheiro até diante do navio. Thomas, um homem de idade madura, olhar desafiador e digno, trazendo seus dois martelos de guerra pequenos e encantados presos à cintura, encarava o horizonte.

- Vamos voltar!

Sua voz grossa foi como um soco em seus companheiros aventureiros, inclusive para Thombardin que escutou sonoramente.

- M-mas porque? Estamos quase lá, é a maior frota já enviada neste continente… - a sua própria prima, uma poderosa arcana que fazia também parte do grupo, protestou. Era uma mulher linda, principalmente para o anão, pois ela tinha um corpo gordo, ainda que de simetrias perfeitas, olhos brilhantes de felina e cabelos fogo. A mesma mostrava-se indignada - …Não é só porque minha adivinhação previu ondas e tempestade que devemos voltar! Se o tempo virar eu ainda posso proteger ao menos nosso nav…

- Não, Morian… Não sinto boas energias hoje, ser teimoso contra esse tempo pode nos causar problemas! Consultei os oráculos sagrados da Grande Fênix antes que seguissem para o norte e nós embarcássemos! Eles viram uma arma poderosa que seria usada pelos selvagens! Não sei o que pode ser tão perigoso, mas todas as noites acordo por causa de pesadelos em que homens usando máscaras de ossadas de baleia cantam algo blasfemico… Lendilkar tem comerciantes capazes de comprar sua alma e cobrá-la a todo momento, ou navegadores capazes de atravessar um redemoinho sem fazer uma curva, mas não temos clérigos suficientes para espantar uma praga ou uma maldição!

A maga emburrou, odiava ser contestada. Abruptamente encostou na murada do navio e apontou o dedo gordo na cara do primo herói.

- Mesmo que nós voltássemos…

- Não discuta! Nossa família…

- Está segura em Lendilkar! Os deuses Hedryll e Tanna-toh guardarão nossa capital e civilização! Eles nos deram uma missão, estão do nosso lado… A Justiça e a Razão! Pare de temer o futuro que nunca foste disso, e vamos montar as feitorias que irão dispersar a civilização nas ilhas que nos serão grandes portos!

Thomas calou-se, o resto do grupo não pensava em se colocar entre os primos. Brigas e discussões entre os dois eram comuns, mas normalmente era Thomas que convencia.

...

Cerca de meia hora havia passado, e já estavam na metade do mar que divide o continente das ilhas. A nau em que Thomas, Morian, Thombardin e Sir John Merle estavam já estava na metade do caminho, as ilhas maiores destacavam-se com seus imensos vulcões em erupção ininterrupta, as montanhas titânicas elevavam-se como as costas de um grande crocodilo que dormia oculto na grande mata fechada de coqueiros e estilos tropicais. Os ventos não estavam bons, nem a água. Os marujos corriam afobados para todo canto, fatigados pelo calor inoportuno daquele dia e tentando dar o melhor para os navios chegarem com segurança.

- As correntes estão mudando a cada segundo… Os ventos sopram aleatoriamente! Eu não estou entendendo este clima!

Isso era escutado em todos os navios, não havia uma única embarcação que vez ou outra não se via virada para direções inversas ao do arquipélago. Seriam os povos de Khubar capazes de manipular o clima? Possivelmente não, nunca o fizeram. Talvez arquipélago adentro até houvesse xamãs poderosos, mas não ali na borda. Thombardin secou a barba negra encostado no mastro, suas juntas chegavam a arder de dor. Não era para estar assim, não era tão velho para tal. Sua preocupação aumentou foi quando os ventos pararam, assim como o mar. Não havia um sopro ou uma corrente em todo o mar, os navios ficaram a deriva instantaneamente.

- Será alguma maldição? – proferiu o clérigo de Khalmyr magrelo do grupo de Thomas Lendilkar, era um homem que mais aparentava com um abutre, servindo à justiça desarmado. Apesar do físico de minhoca era capaz de socos capazes de quebrar paredes graças a seus treinamentos em monastérios.

- Eles estão escapando! – na torre de vigia, o tripulante no ninho do corvo usava sua luneta espiando as diversas canoas que escapavam da ilha mais próxima – E tem ilhéus enfileirados na costa olhando para nós!

- Ai, minhas juntas! – o anão tombou.

Ao ver o parceiro, o paladino veio correndo assisti-lo. O anão tremia intensamente, logo sir John o envolveu com a própria capa.

- Quer me matar de calor, humano burro! Tire essa capa… - se debateu tirando a capa - …Seja o que for, virá agora! Minhas juntas não deixam eu nem fic… Ué! Passou…

O anão levantou sem problemas e pegou o machado, não sentia mais nada.

- Seja o que for, creio não ter volta, companheiro! Não sei que praga esses tribais lançaram sobre nossas embarcações, contudo, eles serão dizimados por isso, eu juro! Acham que nos deixar a deriva os salvará!? Pois sabemos nadar.

Os dois seguiram até a proa e tentaram avistar a praia ao longe, mas era quase impossível. A névoa quente que corria sobre as águas ficara para trás no continente, mas também envolvia as ilhas, só viam com clareza os outros barcos envolta, de pessoas confusas. Alguns já pegavam canoas para desembarcar e seguir até a ilha em missões aventurescas para impedir a possível magia. Foi quando uma corrente começou a puxar os navios de novo, dessa vez para o lado. Algumas embarcações mais próximas colidiram.

- Mas o que agora? – Thomas irritou-se e adiantou pegando um grande cabo de madeira usado para afastar o barco do píer e colocou em histe sobre a murada do navio, entendendo, os outros repetiram pegando alguns também ou segurando o mesmo para aumentar a força e assim distribuíram-se por todo navio. Quando se aproximava uma embarcação os cabos batiam no casco do mesmo, de maneira a manter uma distância segura.

Cada vez a corrente aumentava sua velocidade, e logo foi percebido quando de um navio a outro bradavam.

- REDEMOINHO!!!!!!!!!!!!!

O desespero foi total, alguns homens começaram a jogar-se direto na água para tentarem escapar com os próprios braços. Em cada navio os homens desciam aos decks para pegar grandes remos usados para emergências como essa. Tentavam com a força dos seus braços escapar, mas era quase inexpugnável a corrente. O redemoinho apresentou-se, enorme, grandioso como uma boca sem dentes sugando os navios para seu interior como se fosse uma besta faminta. Lendilkar ao longe tocava sinos de alarme que eram escutados abafados nos navios. O som da água sugada para dentro do oceano era algo medonho, como se tivessem despertado uma grande fera que chupava a água e engolia as enormes embarcações com o brasão de Bielefeld como se fossem pequenos grãos.

- Oh, santo Heredrimm! – disse Thombardin golpeando o casco do convés de maneira a não escorregar nas poças de água para fora do navio.

O paladino companheiro segurava-se a uma corda grossa ao mastro enquanto o navio virava perigosamente para o lado como se fosse virar.

- Será este Caribdes? A fera devoradora de navios???

Um marujo escorregou, agarrou em um barril de puxou. A cena não foi das melhores. O engradado caiu abrindo a tampa e dezenas de lanças pontiagudas penetraram-lhe o rosto, pescoço e ombros, e assim seu corpo caiu batendo na murada do navio e desabando na água. Morian colocou o pé direito no mastro central, concentrou-se e proferiu antigas palavras que fizeram ventos saltarem da mesma, deslocando-se para as velas e empurrando-as para longe das correntes.

- Lufa arthan embagh!

Thomas Lendilkar imediatamente correu e salvou um guerreiro que atrapalhado com a armadura, tropeçara nos próprios pés e por pouco não caíra na água aonde afundaria sem chance de retorno. A embarcação afastou-se da corrente que engolia a frota e levou o impacto de vários outros navios próximos.

- Maldição! – Sir John Merle proferiu assim que a corrente destruiu os remos do navio em que estavam.

- Morian, leve com seus ventos mágicos para a ilha! Vamos parar essa loucura com as próprias…

Tudo parara novamente. Silêncio letal, ou assim parecera brevemente. Então algo que nunca haviam escutado, ainda que diversas vezes nas missões colonizadoras em alto mar tenham ouvido os mais guturais cantos das baleias, esse foi terrível. Um rugido como que vindo de um inferno d’água ressoou por todo o mar estremecendo o convés e incomodando os ouvidos. Em resposta, no exato local em que estava o redemoinho, implodiu um forte estouro d’água salgada do mar que ergueu-se como uma lança ou coluna azul que subiu com pressão em direção aos céus voltando a puxar os navios próximos.

- Praga! O que é isso? Esses bárbaros não possuem tanto poder para tal! – proferiu o ladino do grupo de Thomas que tomava a frente.



A água perfurava as nuvens e giravam-nas tornando-as de um cinza claro a um negro forte. Logo em seguida a água arremessada nos céus chovia salgada sobre os navios, ensopando ainda mais os convés dos navios que estavam a salvo da corrente da coluna d’água. Thomas mordia o próprio lábio de nervoso do que viria a seguir.

- Thombardin, retire já sua armadura! – bradou Sir John Merle em meio ao tumulto da chuva e zoeira.

- Tirar minha armadura? Tá louco homem? Aaaah! Da próxima vez dê atenção às minhas junt… CUIDADO!

O anão deu um encontrão no abdômen do companheiro tirando-o da reta de algo que se chocou contra o chão em um estrépido alto. Era um corpo de guerreiro ainda na armadura, morto, que caíra dos céus e ao chocar-se no convés espalhou sangue e por pouco não perdeu a própria cabeça.

- Homessa! – Sir John reclamou dando um chute no corpo para a água.

- PROTEJAM-SE!!! – Thomas Lendilkar bradou correndo para as cabines dentro do castelo da popa.

Tudo que fora sugado pelo redemoinho, era arremessado agora pela coluna d’água e caía sobre as ilhas e embarcações. Fossem os próprios navios, mastros, armas, barris ou corpos. Os navios que caíam sobre outros, esmigalhavam os tripulantes no mesmo instante que afundavam a embarcação dos mesmos. Os barris caíam rasgando velas, destruindo lemes e matando pessoas. O caos estava instaurado. Logo ventos quentes assolaram junto da chuva e giraram em trombas d’água que surgiam entorno de toda a frota. Novos barcos, a remo dessa vez vinham da capital ao socorro dos sobreviventes antes que fossem levados pelos tufões d’água que estavam surgindo. Sem as armaduras Thombardin e Sir John dispararam para as canoas da embarcação. Thomas os viu e percebeu que era o modo mais rápido de deter o que quer que os nativos estivessem provocando sobre eles. Imediatamente fez um sinal a prima maga e o resto dos companheiros para que pegassem um bote. Um novo rugido, esse mais próximo fez uma taquicardia em cada um nos navios. Sentiram-se paralisados e sem fôlego por instantes, marujos foram ao chão. Alguns entregavam-se a loucura chorando desesperados por suas vidas. Novos redemoinhos vieram, menores de tamanho, mas não menos perigosos. Até que uma sombra surgiu sob todos no grande mar. Era maior que uma baleia, talvez maior que todo um grupo delas. Era titânico, colossal no mínimo.

A coisa emergiu. Era uma fera como nunca se viu igual. Uma besta gigantesca, medindo centenas de metros, reptilinea com corpo enorme e massivo com enormes barbatanas emergindo das laterais da cabeça e corpo, assim como as grandes asas com a mesma forma. A fera rugiu aos céus enquanto cada movimento criava ondas que engoliam vários navios de uma só vez. Os nativos que tinham fugido sabiam do perigo, pois a simples aparição fez com que as costas das ilhas próximas fossem lambidas pelo mar, inclusive os nativos que ficaram foram levados junto a árvores.



- Pelas barbas justas de Hedryll, é um dragão aquilo??? Nunca vi algo sequer parecido em Lamnor! – bradou Sir John que observou Thomas boquiaberto e tão vidrado no ser que sequer reparou na prima que caíra ao chão de olhos arregalados e petrificada.

- Ou em Doherimm! Não é a toa que minhas juntas doíam tanto…

Thomas ficou ajoelhado diante da sua prima por uns instantes, sem conseguir acordá-la e confuso, ergueu-a nos braços e se pôs na mesma canoa que o paladino e o anão. Sir John sobrepôs as mãos no corpo da maga rezando à velha deusa em busca de acudimento, mas nada… Não havia vida a ser restaurada. Com um aceno do rosto revelou a verdade ao herói que engoliu em seco e disse áspero.

- Sigamos para a ilha, quero que ao menos seja enterrada e não bóie como mais um corpo fruto dessa catástrofe.

Era fato que seu ódio pela fera era implacável, por sorte se mantinha em razão, afinal, o que adiantaria nadar até a criatura se sequer teria tamanho para lhe aparar a unha? Manteve-se acariciando as mechas da prima morta enquanto seguiam para a costa. A visão envolta era aterradora. A besta marinha destruía as embarcações com uma facilidade incrível, bastava um golpe da pata e grandes naus tornavam-se nada mais que um punhado de madeira. Magia foi conjurada de cada navio, bolas de fogo, correntes de raios e mísseis de pura magia vieram de todos os lados atingindo a besta, explodindo em luzes e fogo, mas sem sequer arranhá-lo. Com um movimento da cauda um pouco mais forte e golpeou o litoral de uma ilha próxima jogando areia para o alto e desfazendo todo formato do litoral. Um novo rugido, mais mortos de pavor. Maremotos, trombas e colunas d’água, redemoinhos… A frota em pouco tempo estava quase totalmente dizimada.

O grupo estava no litoral da ilha que foi lambida pelo mar e onde antes estavam os xamãs devorados pelas águas salgadas. A terra ainda estava fofa e cheia de poças, assim como troncos de árvores tropicais estavam derrubados para todos os lados misturados aos escombros das antigas moradas dos mesmos. Thombardin jogou-se na terra molhada fatigado, enquanto Thomas e seus companheiros cavavam um buraco fundo para Morian. Sir John enterrara a espada na terra enquanto orava à Tanna-toh em busca de esclarecimento do que fazer naquele momento. Enormes raios alvejaram os últimos navios, assim como eram sugados pela força da água. Praticamente toda imensa frota de Bielefeld estava aniquilada sem terem causado um arranhão sequer no dragão colossal que surgira. O grande mar em frente a Lendilkar se fazia em uma cena de devastação sem precedentes, pois entre os fenômenos climáticos típicos de um cataclismo a madeira dos navios e corpos amontoavam-se por toda parte. Um navio jogado pelos ventos girava a esmo próximo da ilhota. Thomas ergueu-se e foi até o paladino pondo-lhe a mão no ombro.

- Senhor, vossa santidade, peço perdão por interrompê-lo! Mas seguirei de canoa até aquele barco em que as poucas almas que ainda existem devem ter perdido a sanidade já… Peço que faça um funeral digno à minha pobre irmã e depois siga para o interior dessa ilha! Que haja sobreviventes! Eu morrerei neste mar, pois não deixarei meus sonhos afundarem com a capital!

Sir John cofiou o farto bigode encharcado e cheio de areia e fez uma mesura.

- Que a Mãe da Palavra seja sua diplomata perante Hedryll!

Thomas agradeceu com um meneio de cabeça e partiu com seu grupo à canoa em direção ao navio. Ele até conseguiria manejar o navio, mas o que ocorreu em seguida apenas as lendas podem narrar. Enquanto isso, um enorme estrondo foi escutado quando novos maremotos deslocaram-se. Benthos erguia-se batendo as imensas asas-nadadeiras criando lufadas de vento que provocavam as tsunamis enquanto seu corpanzil abria uma fenda no mar para deslocar-se para o alto. O demônio, como parecia aos olhos de seus pequeninos oponentes, emitiu mais um rugido. Sugou o ar por instantes e soprou um poderoso cone de jato de água superaquecida que deixava um rastro de vapor capaz de descarnar a mais resistente das criaturas. Apesar da distância, o jato destruiu as maiores torres de Lendilkar que estava ao longe. O novo alvo do Dragão Rei era a cidade portuária de onde vinha todos os males causados pelo reino continental às terras que protegia como se fossem-lhe súditos incautos.


ASS: ANTONYWILLIANS, O MAIOR ESPADACHIM DE ARTON

domingo, 16 de março de 2014

Em Busca de Lenora: Capitulo IV

Enforcando e Esquartejando



Talinthar, uma das mais belas e pacíficas cidades portuárias em todo o Reinado. O silvo das gaivotas que vinham do mar para pairar sobre o mercado de peixes dava um sentimento no coração dos que ali estavam, de paz, sossego e aventura. Mirando através das janelas o horizonte longínquo, os residentes viajavam com seus olhares sobre as ondas querendo desbravar onde a vista não mais alcançava, desvendando as sutis siluetas das ilhas espalhadas pela conhecida Baía dos Náufragos, assim nomeada por séculos atrás os navegantes inexperientes terem seus navios afundados por negligenciarem os inúmeros corais, monstros marinhos e rochedos que assolavam aquelas terras submersas. A cidadela era bem grande para o padrão comum de Hongari, com algumas colinas cercando-a, e muitos humanos marinheiros, assim como halflings comerciantes, compondo sua população nativa. Havia pelo menos um estaleiro e duas docas principais com navios de porte médio, de possível viagem de cabotagem ou que seguiriam até as ilhas da baía, guiados por um grande farol que durante a manhã soltava fumaça da queima de madeira apropriada indicando para aqueles no horizonte a localização da costa, enquanto a noite sinalizava com luzes potentes. O comércio era reunido em uma praça cheia de barracas, frutos do mar que arduamente fediam a céu aberto, pessoas que tumultuavam-se em turba furiosa, algumas lutas informais com competições de apostas, saqueadores de sacolas de tibares incautos e toda sorte de possibilidades que se podia ter em uma cidade-porto humana em um reino próprio dos halflings.

A navegação não era uma prática muito comum nos mares lestes de Arton, havendo poucos marujos e pesquisadores navais, levando muitos amadores desbravarem as ondas apenas como simples comerciantes que iam e vinham com mercadorias e pessoas. O grupo estava sentado no segundo andar de uma taverna bastante badalada por estes escassos aventureiros dos mares, a Cova do John Morto. Lendas locais diziam que o dono da taverna ergueu sobre a tal cova este estabelecimento, o que levava às noites ouvirem passos do navegante John nos corredores, mal sabendo que na verdade eram ratos que faziam barulho, a madeira que rangia e os morcegos agitando-se sob o telhado. Luigi terminou a última nota sob aplausos das raparigas sorridentes e dos homens do mar embriagados que assistiam sua performance, feita em troca de um desconto para a noite a todos os membros caso fosse necessário, pois mesmo tendo a recompensa do prefeito de Lappuh por ter capturado Anne, a peste que vinha aterrorizando a comunidade e carregando algumas crianças que por pouco não formavam um bando de saqueadores, era bom economizar nos gastos.

- Hunc! Então guria… Hic! Que merda passa na tua cabeça para ficar… Hic! Aterrorizando aquela pobre vila? – Tork indagou em meio a seus soluços e goles demorados de cerveja.

- Você sabe… Meu irmãozinho vive me expulsando do barco, agora havia me entregue àquele prefeito quando visitou essa cidade pela última vez, ia me fazer casar com aquele baixinho velho e esquisito que vive em cima de uma tartaruga! Me revoltei, fugi e comecei a reunir uma tripulação para pegar um barco e ter meu primeiro navio! – ela torce o nariz – Hunf! Mas não passavam de bebês chorões, não tinham espírito pirata!

- Vendida como escrava… Entregue para casar com um estranho… Realmente não gosto disso! Que Nimb esteja rolando dados para um caminho bom! – disse Leon terminando sua segunda caneca – Tem certeza que ele voltará para este porto não é?

- Sem dúvidas, desde que viemos parar neste lado do mundo ele fez aliança de proteção à cidade em troca de porto livre, descontos e impostos! Ele deve vir pelo menos uma vez ao mês, e hoje equivale ao dia em que ele aportou e me vendeu há dois meses…

Então veio o som do sino. Um badalar alto, breve, rítmico e poderoso.

Indicava o quanto o sol havia andado naquele dia, marcando os horários,vindo da Igreja da Paz no Mar, união de Grande Oceano e Marah. Rapidamente alguns marujos levantaram-se e saíram para as ruas, enquanto outros se entreolharam e dispersaram-se mais pela taverna examinando cada cliente minuciosamente, o próprio taverneiro os focou sutilmente analisando os movimentos estranhos. Leon Galtran percebeu que algo estava para começar.



A brisa do mar esvoaçavam os longos cabelos roxos presos por uma bandana listrada e uma trança. O sobretudo agitava-se violentamente com o vento, enquanto isso os homens movimentavam-se ágeis por trás da figura daquele grande homem que descansava um pé na proa do navio. Seus olhos miravam sua vítima, e seu sorriso sádico zombava dela. O convés estava até vazio, uns três cuidavam das cordas e velas, enquanto outro aguardava no ninho do corvo e o navegador cuidava do timão. Os outros dez homens estavam um deck abaixo, organizando a pólvora e canhões. Nada poderia, nem iria falhar naquele dia. O capitão pirata ergueu-se ajeitando o sobretudo vermelho posto sobre os ombros e andou pelo imenso deck de seu navio.

- Hoje é o dia de lembrar a essa cidade quem somos! Não quero falhas, pois se alguém o fizer irei fazer andar na prancha mais podre das que usamos para apoiar na carga, mas não antes de arrancar-lhe os olhos! A reputação desta tripulação nunca será manchada, então preparem-se! AMAINAR! GIRAR MEIA ONDA EM SENTIDO BORESTE PELA BUJARRONA! EXAMINAR BOMBORDO!

Neptunio Wood se aproximou do capitão com seu sonoro som da perna esquerda de pau batendo contra a madeira do casco. Era baixo, com sangue anão em gerações passadas, bem constituído, bigode farto, bochechas cheias, sobrancelhas praticamente ligadas e usando uma toca de lã. Era o imediato do navio, cão fiel do capitão e um de seus maiores amigos, adquirindo sua posição na tripulação após demonstrar sagacidade incomparável em liderar combates navais e salvar dezenas de vezes a grande nau de rochedos iminentes. O capitão o observou, aumentando o sorriso malicioso que parecia blasfemar a honra da cidade a sua frente.

- Capitão, a pólvora já foi socada, os homens estão começando a mirar! Aguardamos seu comando!



James K. vertia sangue por dentro de sua íris brilhante. O sangue de suas vítimas.

- Lembrem-se, velho, apenas de prestar atenção aonde ordenei que atirassem! Não quero exageros, nem que destruam outros pontos vitais da cidade!

O som do sino soou pelas ondas e o capitão segurou uma gargalhada, entregando-a em uma ordem.

- ATIRAR!!!!!!!!!!!!
O imediato avisou ao deck abaixo dando três pancadas no chão do convés com sua prótese.



 

Enquanto isso, no cais principal da cidadela portuária, sequer era percebido o movimento do pirata. O fiscal responsável pelas docas, Breno Buffavino, continuou caminhando e anotando o nome dos navios que recém-chegavam. Era um halfling robusto, de meia idade, cabelos ralos e parcialmente grisalhos, usando uma boina e trajes do mar desbotados com um colar de prata cravado por uma esmeralda, revelando sua posição ali. Apesar do tamanho, sua voz elevava-se bem alto e mantinha respeito dos humanos milicianos. Seus pés ágeis o transportavam pela madeira gasta do píer, chapinhando nas poças de água salgada e por entre as centenas de pernas que iam e vinham de marujos e viajantes que embarcavam e desembarcavam, tudo sem escapar de seus olhos. Ele gesticulava, apontava, bradava e corria. Era sua vida, movimentada, como poucos de sua raça gostavam, mas que fornecia bons lucros. Graças a ele que os milicianos podiam cobrar as taxas de ancorados com perfeição, prender embarcações que tentavam burlar as regras do porto, ou enviar navios que já haviam passado da cota dos impostos. Um fiscal auxiliar, este humano, apareceu, era mais um especialista em avisar os navios que se aproximavam, vigiando o horizonte com uma luneta. Ele sorriu enquanto espiava a nau ao longe.

- O que encontrou de engraçado, Jophann? – o halfling indagou anotando algo na prancheta e apontando de um miliciano para um homem que se esgueirava suspeito na turba.

- Ele voltou na hora, chefe Breno, a Bravado está no horizonte! – o jovem fiscal humano de não mais que vinte invernos e cabelos revoltos sorria com seus dentes podres pelo mal trato que tinha com eles.

Breno Buffavino respondeu à alegria, sempre recebera gorjetas muito boas daquele pirata. Bárbaros escravizados, especiarias, famílias com grana escoltadas das ilhas da baía, mercadorias, tudo que levava ao tal bucaneiro ser bem recebido naquele lugar, mesmo apesar do título e fama dos mares distantes. Breno mal podia acreditar que aquele homem pudesse ser um demônio. Defendia a cidade de males vindos do mar que antes cobravam grandes custos com heróis, agora só pela oferta de benefícios em trocas comerciais na cidade e porto seguro tinham mais eficiência e possibilidade de financiar o mercado que só crescia, boatos levavam a crer que o capitão James K. do belíssimo galeão encanhonado se tornara um dos melhores corsários da história. Não sabiam o quanto estavam enganados…

O halfling correu até a ponta do píer junto a seu auxiliar, examinou com a própria luneta a nau ao longe e disse:

- Ela pode ancorar no píer 5! Está livre e reformado! Mas… Esper… Por que a Bravado parece estar virando? E o que é aquela coisa vindo em nossa… Pelo Grande Oceano! ESTAMOS SOB ATAQUE!!!!!!!

Em seguida ao alarme do fiscal, que chamou a atenção de todos quando largou a prancheta e começou a correr no meio da turba, uma bola imensa de chumbo vinda em alta velocidade atingiu a doca, destroçando o píer, o casco de um navio, esmagando várias pessoas e explodindo em alto e bom som ao atingir uma estrutura. James K. iniciara seu ataque, seja lá por que motivo fosse. O caos tomou conta do porto, caixotes foram jogados a esmo, navios começaram a partir, às vezes chocando-se a outros também apressados, a milícia confusa e inexperiente, típico do interior, apenas fugiu em direção a cidade e logo a doca era atingida por mais três balas de canhão atiradas pela Bravado.


A mão azulada bateu contra a mesa de madeira envernizada com um estrondo alto. Os olhos do humanóide escamoso de descendência marítima tinha seu semblante contorcido em uma irritação profunda pela idiotice daqueles à sua volta. Fidalgos, não valorizavam as ações de seus antepassados e eram uma ofensa à inteligência de qualquer um.

- Volto a reafirmar-lhes, não podemos aceitar novamente que ele entre e saia desta vila como se fosse qualquer um! Vocês do mundo seco podem pensar naquelas coisas douradas, contudo, para mim não são nada além de um pedaço de coral sem vida, e assim posso enxergar a verdade!
Os outros riram das palavras do elfo-do-mar que voltou a sentar-se frustrado com a falta de noção dos demais que se reuniam envolta da grande mesa pentangular de madeira. Os que estavam ali eram netos dos cinco aventureiros que fundaram aquela cidadela portuária, e portanto, os conselheiros regentes: Andriäa, a meio elfa, filha da arqueira élfica vinda de Lenórienn, Bellemarriï, com Rother, o Paladino; Juramanttes, descendente do casal guerreiro anão Balder e Dreyah; e Conde Pupknot, um humano pequeno pelo sangue do halfling do grupo que fundara a cidadela. Os três haviam há muito aceitado o elfo-do-mar para ajudar na proteção costeira já que seus antepassados convidaram-no para tal, contudo, não viam nele a ambição necessária para participar do conselho.

- Ora ora, Conselheiro Unnil, talvez seja exatamente isso o que lhe falta… - Pupknot sorriu por baixo de seu denso bigode negro enquanto ajeitava o monóculo de prata - …A ambição de nosso mundo para então assistir ao progresso!

- Mesmo que estejamos comerciando com um profanador dos Oceanos? – Unnil grunhiu com os olhos vermelhos de nervoso, sentia sua ira lhe escapar pelos poros. Os milicianos destacados para zelar pela segurança de cada um naquela cúpula apertavam com força suas lanças caso fosse necessário repreender o “estrangeiro do mar” – Eles não são indesejados apenas em meu mundo submerso! Lá eles lançam destroços do Mundo Seco! Mas no de vocês eles destroem! Foi pela proteção da costa que me tornei conselheiro, senhores!

Andriäa bocejou, abriu um leque para afastar o calor e o tédio enquanto um serviçal ajeitava as jóias em seu colar para manter a vaidade intacta. Juramanttes bufou, deu uma cuspidela em um vaso próprio para isso, ajeitou a roupa aristocrática e disse sem cerimônias.

- Errado, senhor Conselheiro Unnil, ao que me consta tornou-se conselheiro apenas por gratidão à construção do farol que facilitou tanto a nós quanto a vocês que tiveram menos navios naufragados em suas terras submersas! – palitou os dentes amarelados para tirar a comida que deliciara-se ainda a pouco – Uma lenda dos mares oestes protegendo nossa costa como um cão nosso, em troca de mercado, ouro e taxas é bastante vantajoso! Sabe quanta coisa esses hobbits de Hongari nos forneceram para proteção das naus que trafegam pela Baía dos Náufragos? Nada… Nada mesmo!

O elfo iria replicar quando houve um estouro provavelmente próximo da estrutura pela altura do som de explosão e o tremor que sentiram. Juramanttes caíra no desequilíbrio e resmungou erguendo-se.

- Mas o que está acontecen… - os quatro milicianos na câmara adiantaram-se para abrir a porta como meio de fuga quando algo zuniu e uma bala de canhão entrou pela porta aberta, atingindo a mesa de reuniões e explodindo, jogando os conselheiros contra as paredes que começaram a rachar e desmoronar. O elfo-do-mar conseguiu manter-se de pé com sua resistência e espiou por entre a cortina de fumaça com odor de pólvora, encontrando ao longe, no caminho de destruição da bola de chumbo, a silueta de um navio. O maldito começara como previra…

Subitamente o humanóide com traços de peixe agarrou seu tridente de aço que ficava preso à parede do conselho, mas que agora estava no chão depois da mesma desabar, saltou sobre o entulho ignorando os fidalgos soterrados ou feridos, que logo seriam socorridos por seus criados e milicianos que chegariam, e disparou a correr em direção ao porto para impedir que o local que o acolheu acabasse mais destruído.


- Estamos cercados!

- Hunc! Obrigado pela informação óbvia! – Tork incomodou-se com o comentário de Leon.

Primeiro foi o sino que fez com que alguns estranhos saíssem do estabelecimento e outros espalhassem-se lá mesmo disfarçadamente, depois veio o som de uma explosão que fez cada caneca tremer. E as lâminas brilharam quando os homens estranhos revelaram-se piratas da tripulação da Bravado. As pontas dos sabres eram ameaçadoras, principalmente para uma cidadela tão pacata quanto Talinthar aonde quase nenhum aventureiro mais experiente andava. Luigi lembrou ao grupo em sussurros a fama no lado oeste do continente que havia sobre aqueles homens, exímios em esgrima. Havia até alguns que portavam armas de pólvora e miravam nos que consideravam mais perigosos.

- Devia ter imaginado… - disse Anne que escondia o rosto nas mangas para que nenhum marujo da tripulação do flibusteiro a reconhecesse - …o Irmãozinho tem a chata mania de atacar os portos que faz aliança de tempos em tempos de maneira a deixar bem claro que não está a serviço de ninguém! Na maioria das vezes é com cidades que dependem dele de alguma maneira, como esta, que mesmo no caso dos governantes locais acharem melhor afastar-se do irmãozinho, não encontrariam grandes vantagens, por ele ser a única opção de grande proteção, e sem contar que quebrar o contrato resultaria a um saque constante e não de longos períodos!

Leon Galtran estava pasmo com a frieza e funcionalidade do plano.

- Realmente não gosto deste seu irmão!

- Hunc! Não gosta já? Então espera conhecê-lo…

- SILÊNCIO! – bradou um dos tripulantes invasores que lhes apontava uma pistola e um sorriso sádico.

Os piratas examinavam o grupo com interesse e desconfiança. Sabiam que não eram locais e sem dúvidas eram aventureiros estrangeiros pelos trajes e armas que portavam, sem denotar a presença do trog com uma foice mecanizada entre eles. Luigi de braços erguidos então disse.

- Calar um bardo? Heh! Difícil hein!

Com a perna ágil, o bardo bateu com o joelho sob a tábua de uma das mesas da taverna fazendo-a ir pra frente. Já conhecendo aquele movimento há muito tempo, Leon pegou-a e ergueu, usando para proteger-se dos tiros que vieram. Enquanto os bucaneiros recarregavam as armas de longa distancia, jogou-lhes a mesa. Anne de pronto correu em direção a uma janela, barrada por piratas de espada em punho, contudo, foram problema temporário quando a lâmina do “machado” de Tork cortou o ar a distância preso por uma corrente ferindo aqueles que puseram-se no caminho. Rapidamente Leon agarrou Anne, saltou pela janela e evadiram por ruas mais estreitas. Os piratas dentro do local então correram para cima do troglodita enquanto Luigi irrompeu pela porta de saída com uma ombrada, tendo tiros em seu encalço, mas que desviaram-se milagrosamente sem sequer raspar-lhe na roupa. Livre de afetar qualquer um do grupo, o troglodita rugiu bárbaro para todos os malditos homens do mar.

- Peguem essa lagartixa nanica!

- Hunc! Falou a palavra mágica, seus putos!

E de seus poros saltaram os fortes gases fétidos providos por sua raça, empesteando e fazendo todos caírem nauseados quando não inconscientes sobre os próprios vômitos.



As ruas de Talinthar estavam uma loucura… As balas de canhão choviam sobre a cidadela, com intervalos a cada três projéteis que explodiam casas incendiando-as ou direcionadas a pontos principais como delegacia e prisão. As pessoas desesperadas buscavam socorro em meio às ruas, quando mal imaginavam que piratas já infiltrados na cidadela surgiam de todos os pontos, entradas e saídas da cidade portuária barrando fuga, roubando os cidadãos, invadindo as casas, saqueando e arrastando as mulheres mais belas pelos cabelos com sadismo enquanto perfuravam os peitos dos entes mais queridos e corajosos que se atreviam a tentar impedi-los. Gritos de desespero, o odor dos tiros de pistolas nas praças, sangue inocente sendo espalhado, as gargalhadas pérfidas, o tilintar dos butins, o choro das crianças, mulheres e maridos… todo aquele caos espalhava-se sobre a cidade que há décadas não sofria tal pesadelo.

 

O capitão James K. respirava fundo agraciado por toda aquela sinfonia que sua querida Bravado e tripulação causavam enquanto descia do bote que Neptunio remara até o porto. As pessoas e marujos dali já haviam sido expulsas dos navios e reunidas sob o fio das espadas de alguns de seus comandados que sorriram em reverencia ao capitão que trazia seu casacão sobre os ombros pelo imenso calor que estava. O lendário bucaneiro respondeu rindo e penetrando nos olhos de cada um ali com suas íris de demônio.

- Tremam, marinheiros de primeira viagem… - ele bradou com sua voz de diabo sobre os homens acuados do porto. Outra bala de canhão caiu ali próximo com alto estrondo e destroçando toda uma taverna de baixa qualidade com os que ali refugiaram-se – Não irei matá-los, quero que espalhem por todo o leste o que viram aqui! HAHAHAHAHAHAHAHAH!

E assim caminhou com seu imediato em direção ao pátio principal da cidadela, admirando o estrago que causara. Era o plano ideal. Desde que aquela praga de cajado mágico da elfa, que o assombrava a vida mesmo após estar definitivamente morta, ter teleportado sem motivo aparente todo o navio com a tripulação para aquele lado do mundo, calculara cada passo que daria tanto para solidificar seu mito por aquelas bandas, como para arrecadar cada vez mais impostos das cidadelas pacíficas. Os conselheiros de Talinthar não tinham mais a quem recorrer proteção, afinal, a única base mais próxima era Triunphus, como lhe alegaram os informantes, um meio urbano amaldiçoado e atacado por um monstro demoníaco que a fazia carecer de toda força militar possível.

Seus passos eram como os de um gigante, não que fizesse sons abomináveis, mas sua presença fazia a alma de cada um ali gelar, tanto de medo quanto de raiva por ter traído a confiança daqueles que lhe oferecera porto seguro. As ruas e seus ratos calavam-se na sua presença, as crianças que tentavam chorar eram logo silenciadas por seus pais nem que por pouco tivessem que sufocá-las. Não desejavam mais ira daquele ser que caminhava com sua aura de asas de morte. O capitão pirata cessou sua andança em frente à imensa estátua que trazia esculpida a imagem dos cinco aventureiros que há muito fundaram aquele porto, e que agora deviam estar corados tamanha desonra dos seus descendentes. O pirata ajeitou o sobretudo vermelho sobre os ombros e sentou-se de pernas cruzadas aos pés dos heróis da estátua.

Com um gesto o imediato Neptunio adiantou-se para organizar que todos os piratas que recolheram um butim, trouxessem o ouro, prata e outras preciosidades, derramando-as em monte à frente do capitão. Realmente, já recolhera mais tesouros, todavia, não podia esperar mais que um pequeno monte de moedas, castiçais, espadas e outros materiais trabalhados a ouro. Um novo gesto e as mulheres amordaçadas e amarradas, de crianças à idosas, foram levadas a ele. Ergueu-se e caminhou.

Seus olhos abomináveis corriam pervertidamente cada curva, traço e vestes das mulheres. Sentiu o aroma do pescoço de algumas crianças, acariciou mais ousadamente outras mais jovens e bateu com a parte cega de um sabre que trazia entre as pernas daquelas mais tímidas. Ao fim fez um aceno para as que lhe interessavam.

- Serão vendidas ao sul… São boas mercadorias! – as mulheres choraram, e cessaram quando lâminas quiseram arrancar suas cabeças de sobre os ombros – As outras deixem, poderão fazer mais filhos, ou seja, financiamento de mercadorias para nós! Não quero estupros, sabem que não quero almofadinhas bastardos me procurando por vingança de sangue e nem mulheres apaixonadas, pelo que têm entre as pernas, vindo se alistar para pisar em meu convés! Depois usam o ouro desses miseráveis nos inúmeros bordéis das costas!

O capitão gargalhou desumano dando as costas às reféns, até que sentiu um cuspe atingir-lhe com a força de um nojo e escorrer com o calor de um ódio. Toda a praça gelou e calou-se naquele momento, até deu-se o intervalo das explosões de bolas de canhão. A própria culpada de tal obra blasfêmica evadira o sentido das pernas levando-a ao chão, momentos antes do aço frio do sabre lépido perfurar-lhe pela traquéia destroçando todos os órgãos guardados nas costelas e depois ter a cabeça dividida no meio enquanto o capitão recolhia a arma para com um pano descartável limpar o sangue e os resíduos de carne na lâmina. Alguns tentaram dar um grito de pavor, porém, mesmo suas vozes temeram mostrar-se. James K. sentou-se novamente aonde estava antes e embainhou o sabre, em seus lábios… um sorriso.

- Que fique bem claro, beldades, e demais reféns… Qualquer um dos cativos… Se desrespeitarem o seu senhor aqui, farei-lhes de exemplo como o fiz com esta mulher corajosa… E farei isso sorrindo! – os olhos brilharam intensos e insolentes – Agora levem esta pobre mercadoria sacrificada para ser alimento dos selakos daqui, pelo menos será uma carcaça com coragem! HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH!!!

Neptunio conhecendo o capitão, pegou uma garrafa de rum, abriu a tampa com uma parte de aço sobressalente em sua perna de pau e entregou-lhe, que bebeu com sede. As mulheres foram retiradas de pronto, algumas seguradas por capangas da Bravado quando suas pernas fraquejavam ante ao medo do que acontecia e viria a acontecer em suas vidas. Então vieram os homens a serem expostos de peito nu. James K. examinou os músculos, dentes, cada parte do corpo e assim definiu aqueles que seriam os próximos a serem vendidos como escravos e quem entraria para sua tripulação.

- Este matou dois de nossa tripulação quando pegamos sua filha, capitão… - disse um dos piratas com seu sorriso banguela por anos de escorbuto.

- Hmmm… Forte, corajoso e capaz de derrotar dois de meus homens! Vai entrar para a tripulação e trabalhar pelos dois que matou!

O cidadão caiu aos pés do capitão aos prantos, aquela montanha de músculos se decompôs a sua frente como se esfarelasse à brisa do mar.

- Senhor… Não… Lhe peço… M-minha família! Sou peixeiro de meu bairro… S-sustento minha família pobre… Minha mulher e… e… e filha não têm condiç…

James K. pegou-o pelo colarinho e ergueu até seus olhos fazendo o espírito do homem escapar-lhe pelas retinas ante o pavor.

- Pssi!!! Não pedi para contar a história de sua família, seu bosta! Já pro navio! Estará a disposição de minha tripulação para o que precisar e se for nem que seja um pouco lerdo, todos têm a permissão de estripá-lo e fazê-lo andar na prancha! Não necessariamente nesta ordem!

- N-n-nã-não!!! Minha família!

- Este é o problema? Ok, sem problemas… Neptunio, quero a cabeça de cada membro da família de nosso novo tripulante pendurada no mastro central por três dias para que este homem não tenha mais pelo o que sofrer pelos outros e possa matar as saudades enquanto conhecerá a nova família dele em nosso convés cheiroso! Hahah!

E assim o imenso homem foi arrastado com resistência em direção à Bravado que ancorava no porto não muito longe dali.

- Bom, bom… Vamos lá! Vou dividir o dinheiro, preciso que esta cidade tenha o mínimo para se reerguer e assim possa vir aqui de novo daqui há alguns anos saqueá-la novamente!

Enfiou o sabre no ouro e separou um terço de tudo, chutando para longe do butim de verdade. Logo que terminou, dois corpos de piratas caíram dos céus na frente do capitão que saltou para trás já de sabre em punho. Os corpos estavam com três furos no peito e sangrando pelos olhos. O olhar de James K. seguiu para o telhado e viu o motivo daquilo. Lá estava um elfo-do-mar de olhar vingador e intimidador mirando-lhe enquanto girava um tridente sobre a cabeça.

- Hah! HAHAHAHAHAH! Então um peixinho fugiu do aquário e quer brigar…

- Prepare-se, abissal do mundo seco, estou incumbido de proteger cada cidadão, e farei pagar por cada lágrima e sangue inocente derramado!!! – Unnil bradou de cima de um telhado antes de saltar com um grito de guerra único capaz de ser reproduzido apenas por cordas vocais de sua raça.

James K. apenas lambeu os beiços molhados de sarcasmo.



Os saltos do ladino eram invejáveis, mas os de Anne não ficavam para trás. Por mais que doesse em Leon ver talentos de ladinagem em crianças, tinha de reconhecer a destreza da garota. Neste momento saltavam sobre os telhados das casas de Talinthar enquanto chovia virotes de bestas e tiros das armas fedorentas de pólvora dos piratas que os perseguiam. Seus pés teimavam em querer escorregar nas telhas de barro ou espetar nas de palha, contudo, não praguejavam, sabendo que o mínimo erro lhes custaria a vida. Anne, que escondia o rosto em uma bandana, agarrou uma pedra pesada que segurava a palha e jogou na direção dos piratas para atrasá-los. Os olhos de Galtran correram pelo mar de telhados à frente até o porto, então com perícia única segurou a mão da menina e a puxou.

- Vamos despistá-los! Acho que vi uma rua sem saída!

Logo que falou Anne soltou um berro, puxou o ladino e caíram do telhado segundos antes de onde estavam ser atingido por uma imensa bola de chumbo que veio zunindo como a morte e explodiu a casa em chamas e fumaça fedorenta. Estavam em meio a um beco, encurralados por cinco piratas. Sabres, pistolas preparadas e virotes.

- É… Agorarealmentelesvãonosmataragorarealmentelesvãon… Ai! – Leon gritou de dor quando a menina aplicou um chute em seu calcanhar.

- Parece que burrice é coisa de família! – ela disse emburrada.

Ouviram um clique de uma garrucha engatilhando.

- Mas é claro… Leon Galtran, reconheceria esta sua carinha maltrapilha em qualquer canto! Heheh! – disse o pistoleiro ruivo com cabelo penteado de forma engraçada, que lhe fazia parecer ter espinhos vermelhos na cabeça – Lembra-se de mim? Desde aquela vez que matou meu companheiro ao roubar o templo principal de Tibar no Reino de Fortuna, entrei para a tripulação de James K. para no meio criminoso te achar! Agora fique quietinho enquanto pego sua cabeça para ficar rico! Gahahahah!

- Nem a pau, Menelau!

Leon olhou para trás e viu uma parede bem sólida, conseguiria escapar com facilidade se estivesse sozinho, mas a pequena Anne provavelmente ficaria para trás. Resmungou algo e com a boca ajeitou as luvas que trazia em suas mãos, estas com pouco atrito e quentes, lhe permitindo uma velocidade incrível e prestidigitação destra, assim, quando veio o primeiro disparo, agachou, enfiou a mão em seu bolso e retirou um punhado de pequenas bombas famosas pelo nome de pérolas explosivas.

- Prepare-se para correr em direção à eles!

- Mas o que… - Ela tentou saber qual era o plano, porém a ação foi feita rápida demais.

Leon jogou as pérolas em direção aos piratas que assustados atiraram a esmo. Galtran jogou-se com a menina no chão para escapar, algumas das balas, ainda com pólvora chamuscada atingiram as pérolas em pleno ar desencadeando uma enorme explosão que derrubou a casa ao lado que já havia sido abalada com a bala de canhão que atingira a estrutura vizinha. Os tripulantes da Bravado foram arremessados para trás pelo impacto da explosão, quando não explodiram eles mesmos por causa dos usuários de pólvora. Em meio a fumaça, corpos e destroços, Leon agarrou o punho de Anne e puxou-a pulando sobre as ruínas das casas e assim dando um salto para alcançar o telhado de outra próxima, despistando por completo os capangas de James K.

Após um breve momento perceberam… A Bravado não disparava mais balas de canhão, cessara plenamente, e ao longe, começava a ancorar no porto. Galtran sorriu enquanto também observava a escassa milícia local ser rendida pelos piratas.

- Vamos Anne! Temos que nos infiltrar no navio do teu irmão e esperar pelos outros!



Não demorou muito para Tork alcançar Luigi Sortudo. Os dois estavam perdidos em meio a profusão de ruas que aquela cidade portuária tinha. Não só por que não haviam passado por ali ainda nenhuma vez na vida, como por que a maioria das ruas estavam repletas de restos de construções explodidas, quando não corpos. Os piratas também amontoavam-se de todos os cantos perseguindo os dois. Eram muitos membros dentro daquela tripulação, o que já é esperado da maior nau de todo Mar Negro, capaz de rivalizar mesmo com os navios dos marinheiros peritos minotauros do reino de Tapista. O bardo tinha seu florete em mãos e brandia-o contra os sabres sob bela maestria, mirando nas mãos oponentes para desarmá-los e depois rendê-los. Eram hábeis também, bem treinados como se devia esperar daquela tripulação, contudo, Luigi fora mosqueteiro imperial da corte do Imperador Rei Thormy em tempos que lhe foram memoráveis. O bardo conseguiu alguns cortes contra seus ombros, enquanto o trog aliado apenas girava o corpo liberando a lâmina bizarra de seu “machado”, cortando as armas de pólvora. Um de sabre lançou-se contra o humanóide baixinho, mas este defendeu com o corpo de sua arma, acertou-o entre as pernas com a extremidade e aplicou-lhe uma mordida no braço direito do oponente separando-o do corpo em uma cena horrenda.

- Esses filhos da puta não param de aparecer! Já estamos chegando? Hunc!

- Não sei caro companheiro Trog! Heh! Vou tentar arrumar um guia para nós!

O bardo então correu em uma velocidade incrível, como se seus pés deslizassem pelo chão até aplicar um golpe com o punho do florete contra o abdômen do último pirata que lhes barrava a saída. Depois com o mesmo ao chão vomitando todo o rum que bebera, Luigi pegou seu bandolim e tocou duas notas que foram ecoando nas ruínas das casas envolta que se incendiavam com as crepitantes brasas das balas de canhão que atiraram antes. As notas vibraram em bela melodia que entraram nos ouvidos do homem caído que já enfraquecido mal percebeu sua consciência abandonar-lhe, sendo totalmente subjugado pelo ritmo. Luigi diminuiu o tom da música e ajoelhou-se próximo de sua vítima.

- Meu caro flibusteiro sanguinário, leve-nos pelo caminho mais rápido até o convés de sua embarcação!

E o tripulante logo se ergueu com os olhos mirando o vazio, enquanto caminhava para frente em direção ao porto. Luigi mantinha seu sorriso bobo enquanto Tork resmungava arrastando as tripas de um pirata que arrancara pra comer.

- Magias… Não quero nada com essa putaria!



O tridente zuniu e passou nem mesmo perto do capitão que com uma esquiva simples desviou e já lhe estocava o sabre. Unnil odiava batalhar no mundo seco, principalmente sob o sol quente da tarde, quando sentia as escamas que encobriam seu corpo secar e grudar desconfortavelmente. Até mesmo jogara toda roupa fora, ficando somente de tanga para o calor não lhe atrapalhar mais. Viu a lâmina vindo em sua direção, mas sempre era fácil desviar por causa da distancia que o tridente lhe permitia ficar do oponente, ainda que a agilidade do mesmo fosse incrível. James K. lançou-se para trás e ouviu os disparos de seus subordinados. As balas ricochetearam na estátua.

- IDIOTAS!!! Quem mandou se intrometerem? Andem, levem nosso butim para o navio! Eu mesmo vou chutar a carcaça desse baiacu!

Os três dentes do enorme garfo vieram em sua direção girando. Com um golpe vertical do sabre a arma de haste atingiu o chão prendendo, e logo James K. saltou sobre o oponente para perfurar-lhe a garganta com o sabre. Unnil deslizou os pés molhados caindo no chão com um baque temeroso, esquivando do homem, puxou o tridente e acertou com a haste o flanco do capitão que logo recobrou o equilíbrio com destreza.

- Belo movimento!

Unnil não achava tempo para bravatas, pois os homens da Bravado já levavam os cidadãos e o tesouro da cidade para a nau. Investiu novamente, contudo, não foi feliz no trajeto. James K. esquivou-se novamente, passou a perna sob a haste chutando-a para cima de maneira a atrapalhar o elfo e logo seu sabre fez um belo corte no ombro esquerdo do ser dos mares que deixou seu sangue vermelho e quente espirrar diante da imensa dor. O capitão pirata zombou do mesmo lambendo o sangue de sua lâmina e cuspindo depois como se fosse um catarro. Focando o olhar demoníaco saltou na direção da vítima que se não fosse bem hábil bloqueando na hora o sabre com uma pedra, teria sua cabeça trespassada. Os piratas que ficaram para dar suporte ao capitão apenas observavam o eminente massacre, seus sorrisos podres e carniceiros já percebiam que a carne do elfo-do-mar lhes seria servida ao anoitecer.

- Chega de brincadeiras, moleque azul! – disse James K. desembainhando outro sabre com a mão livre – Está na hora de levantar ancora e zarpar!

Como o vento que sopra desavisado, o capitão surgiu sobre o combatente do mar com seus sabres em lâmina cruzada como uma tesoura. O elfo impediu usando a haste do tridente aparando, empurrou contra o pirata jogando-o para trás e girou o corpo para a extremidade inferior dar uma rasteira no capitão que apenas saltou e estocou os sabres lhe abrindo a carne escamosa na face e coxa direita.

- Malditos do mundo seco! Eu fui acolhido nesta cidade quando não havia mais lar para mim nas areias submersas! Escapei de um tirano e jurei proteger este povoado! – com um brado estocou o tridente que mal deu tempo de James K. escapar, bloqueando com as duas espadas entre os dentes da arma, porém, tal foi o impacto que mesmo com toda força em seus pés, foi arrastado para trás.

- Por que a maioria dos com que luto têm a chata mania de querer contar a história de suas vidas!?

Até o momento o capitão havia só brincado com o ser marítimo, há muito não tinha uma boa batalha, e esta não era das melhores também.

Irritado com a demora, deu um chute sob o tridente, adicionando um impulso com as lâminas que prendiam o garfo do tridente, jogou a arma pro alto abrindo a guarda do elfo-do-mar que para escapar e não cair no chão pelo desequilíbrio, teve que soltar a arma, logo o capitão já estava sobre ele e com agilidade os sabres fizeram cortes profundos nos membros e no lado direito do peito do elfo em uma velocidade incrível, que apenas aquele conhecido como o maior dos espadachins em todo Mar Negro era capaz de realizar. Assim Unnil foi ao chão, derrotado e imobilizado pelos lugares atingidos. James K. deu-lhe um chute.

- Sobreviva verme! Você tem bons músculos e ótimas idéias, como a do farol que puseram nesta cidade como meus informantes me noticiaram! Você deve viver e proteger essa cidade para que ela prospere até meu retorno! Não ouse morrer…

Embainhou os sabres, fez um gesto para Neptunio e saiu andando com os piratas que ainda estavam no pátio, indo em direção ao porto. O imediato, acompanhado por dois tripulantes fortes, pegaram o elfo-do-mar e carregaram-no para os degraus do templo de Lena, aonde já estavam os outros conselheiros feridos como planejara e calculara o capitão. Unnil deixou uma lágrima escapar pela derrota. Uma lágrima de desonra… e ódio…



Os vultos apoiaram seus ombros na murada do navio e tão ágeis quanto furtivos, rolaram para o convés molhado da Bravado, ocultando-se entre baldes e cordas. Alguns piratas iam e vinham, uns deitados molengas, outros vigiando as redondezas, havia os que conversavam em palavriados e gírias do mar e outros que iam e vinham com homens e mulheres de todas as idades, quando não alguns barris cheios de ouro. Estes últimos entravam e saíam dos respiradouros com pressa, como se quisessem terminar logo o trabalho.

- São muitos! Ainda bem que a corda de ancoradouro é bem resistente, senão seria bem difícil de chegar aqui!

- Sim! Será que o bardo está chegando com o Tork?

Fungaram juntos e fizeram cara de nojo.

- Yikes! Isso não pode ser só o cheiro dele!

- Não, tio Leon… Arghh! Isso é simplesmente o cheiro de um navio cheio de homens por meses… Logo a gente se acostuma!

Leon rastejou silencioso até atrás da escada que levava pro castelo da proa, e escondido nas sombras retirou uma bandana que trouxe escondido no bolso, roubada de um dos tripulantes nocauteados quando estavam sendo perseguidos. Anne apenas manteve-se oculta enquanto o ladino erguia-se resmungando e caminhando até os demais tripulantes para disfarçado infiltrar-se.



- Heh! Da maneira que afirmei, caro companheiro Trog… nada que um bom guia não resolva!

- Hunc! Mas por que tínhamos que vir de peito aberto de frente para eles?

Os tripulantes da grande nau já estavam terminando de guardar todo o carregamento de suprimentos e butim direcionado à Bravado, quando de repente ouviram a bela melodia. Tentaram compreender de onde vinha, nenhum no navio tocava instrumento musical com tal majestade… Foi então que despertaram ao ver surgir as três figuras. Um troglodita anão, fedido, com um peitoral de aço e trazendo uma foice ensangüentada, um bardo sorridente, com os olhos cobertos por um chapéu de abas longas que lhe obscureciam os olhos e um dos próprios piratas que vinha a frente, guiando-os, sem piscar, de olhos revirados, totalmente tomado pela mente por magia. Quando alcançaram as escadarias de pedra que levavam ao píer de ancoramento os pistoleiros e manipuladores de bestas começaram a disparar seus virotes com velocidade contra os três. O tripulante foi o primeiro a ir ao chão perfurado por todas as partes, os outros dois caminhavam juntos, negligentes e intactos, por algum motivo nenhum disparo os atingia.

- Que merda é essa? Usou magia, bardo? – Tork indagou preparando a foice caso fosse necessário e já mostrando os dentes sujos de tripas e sangue abundante misturado a baba o que fez alguns piratas hesitarem.

- Heh! Digamos que agora sabe por que me chamam de Luigi… Sortudo!

O músico então puxou a última corda de seu bandolim com o dedo na casa certa, puxando a corda no momento exato para a vibração sair em um alto estrondo que tomou o ar e tornou-se uma explosão sonora que arrancou algumas tábuas do chão e lançou alguns piratas para dentro d’água.

- Homens, não temam! Capturem-nos e suas cabeças serão entregues ao capitão! SAVY????

Todos responderam com um brado desembainhando as espadas e lançando-se de todos os cantos para cima dos dois ali. Tork sentiu seus poros se abrirem, mas não tinha gás nenhum mais para gastar com os bucaneiros. Sem dúvida aquele bardo era louco. Quando os homens do mar também já haviam descido do convés, ouviram um som alto de madeira arrastando. Os inúmeros no píer olharam para trás e viram um dos seus e uma menina recolhendo a rampa de subir para convés. Alguns começaram a preparar suas armas de longa distância.

- MOTIM!!! CAPTUREM!!!!

- Heh! Tolinhos…

Aproveitando a distração, Luigi continuou a melodia e puxou novamente a última corda de maneira que o ar vibrou alto de novo ensurdecendo as dezenas de cabeças que ali estavam e arrancando alguns do chão pelo golpe. A Kailash zuniu capturando outros e jogando-os na água antes da arma mágica voltar à mão do ladino. Tork adiantou-se com fome de tripas, entretanto, Luigi parou-lhe, tinha um plano. Leon retirou a bandana e logo alguns boquiabertos bradaram.

- OLHEM!!! MALDITOS!!!! ESTAMOS SENDO ROUBADOS POR ELE!!!!

- SIM!!! RECONHEÇO ESSA CARA EM QUALQUER LUGAR!!!!

- Hunf! Kobolds me mordam… Lá vem eles de novo… Odeio me expor… - disse Leon cansado de ouvir as mesmas coisas sempre que o reconheciam.

- Pensa bem, tio! Pelo menos é famoso! – Anne riu ainda escondendo o rosto.

- É A CABEÇA POR UM MILHÃO DE TIBARES!!!!

- O MAIOR CRIMINOSO DO REINADO!!!!

- É O…

- MAS QUE BUDEGA É ESSA????







A última voz soou alta e ecoou poderosa sobre todo o porto, afrontando a resistência do vento e a alma de cada um. O silêncio tomou conta de cada canto, e assim James K. caminhou com suas botas estalando na madeira rangente e podre do porto, nada nem ninguém atrevia-se a emitir qualquer som ali. O próprio demônio dava seus passos em direção à Bravado. Observou a destruição do píer quase estilhaçado, a Bravado sem a rampa, seus tripulantes cortados e muitos jogados na água, o homem no navio, o estranho músico de chapéu emplumado e então detectou a coisa fedida.

- Espera aí sua coisa verde… Eu te conheço… Pera… Não creio…

- Hunc! Fala pirata de merda!

Um arrepio correu a espinha de cada tripulante ao ouvir o insulto ao capitão que cerrou os dentes de raiva. James olhou atentamente pra quem estava em seu convés, até que ouviu de um tripulante que falara sem agüentar o nome.



- O que? Galtran? Sério? HAHAHAHAH! Espero que seja você mesmo aí, e não outro filho bastardo! Se bem que aquele rouba nem barquinho de papel! O que vocês querem em minha nau, suas pragas?

Leon puxou Anne e colocou uma adaga em seu pescoço como combinado, a menina debateu-se nervosa, representando bem. James K. ao ver a irmã arregalou os olhos, abriu a boca e seus piratas jogaram-se na água como se ele fosse virar um dragão vermelho ali mesmo e cuspir as labaredas chamuscantes das profundezas do inferno. Seu urro de ódio foi mais gutural, sonoro e poderoso que qualquer monstro da distante ilha pré-histórica de Galrasia foi capaz de dar.

- O que queremos? Heh! – Luigi sorriu bobo – Uma pequena carona para o sul encontrar um amigo! Ah, e também que sua querida irmãzinha saia viva e você com parte do ouro que conseguirmos! Somos pessoas caridosas não é?

- Não é nada não, mas… Hunc! Pela cara dele de quem não bebe muita cerveja ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~


Ñota do autor: Tem gente lendo e não comentando, peço gentilmente que postem, mesmo comentarios não agradaveis, pois nem dou muita atenção a contos e romances com pouco comentários!

ASS: ANTONYWILLIANS, O MAIOR ESPADACHIM DE ARTON