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terça-feira, 18 de março de 2014

Em Busca por Lenora: Capitulo V

O Festival de Benthos
(Parte 1 – A Morte de Thomas Lendilkar)




Fogos de artifício estouraram nos céus, alguns mágicos moldavam-se na forma de grandes dragões que voavam sobre a turba cercados por ondas multicoloridas de estalos antes de se dissiparem. Havia barracas por todos os cantos, com guloseimas, artesanatos, frutas e diversões. Não era raro ver a imagem dracônica presente em bonecos de pelúcia ou madeira, em tapeçarias ou trajes vendidos nas barracas de tecidos, ou mesmo feitos de açúcar. Havia dezenas de crianças que corriam fantasiados de colonos e monstros marinhos, havia até competição da melhor imitação. Era incrível como os comerciantes eram capazes de transformar a catástrofe em produtos, e os políticos transformar em lembrança vívida por séculos.

Na avenida principal da grande capital Roschfallen uma parada de Cavaleiros da Ordem da Luz prosseguia como um cortejo portando tochas em memória aos inocentes mortos na grande catástrofe de quatro séculos atrás. Eles seguiam de olhar sério e queixo erguido em nome de seus ancestrais enquanto os clérigos de Tanna-toh entoavam a ladainha melancólica pelo caminho das almas que pereceram em nome da antiga missão civilizadora. Os nobres seguiam às varandas e terraços de suas grandes e luxuosas casas admirando a parada de longe, em meio à suas famílias e intrigas. O sentimento do arrependimento, da tristeza e do grande erro cometido pelos ancestrais misturava-se a bebidas, risadas e todo tipo de diversão. Era no mínimo…

- Deveras curioso! – disse Vladislav com as mãos dentro das grandes mangas do manto negro enquanto descia as escadas de pedra da destacada Biblioteca de Aurinos, aonde estivera desde que chegara fazendo anotações em dezenas de pergaminhos que Tarso carregava às costas.

O necromante e seu serviçal morto-vivo eram uma atração na grande festa, primeiro pela raridade de conjuradores arcanos no reino, em segundo que normalmente eram mais conhecidos nas histórias infantis ou lendas, e aparecendo geralmente como vilões combatidos pelos Cavaleiros da Ordem... E em terceiro, por que a maioria desses magos malignos eram necromantes. As mães afastavam os filhos para longe do homem de negro que ali andava. Vlad achava aquilo engraçado, muitos ali de fato sequer o conheciam e deviam saber da Grande Academia Arcana apenas por rumores contados por bardos blefadores. Simplesmente manteve-se em seu porte, em um passo contínuo enquanto usava seu cetro de maneira nobre. Seus olhos admiravam e guardavam cada imagem e cena que lhe permitia assistir. Seguia a busca de Katabrok e Tasloi que estavam pelo grande festival.

...

Roshfallen foi o ponto que o necromante resolveu iniciar a busca, não só por ter a Biblioteca de Aurinos, extremamente conceituada no reino aonde poderia buscar informações acerca de Lendilkar, como também era ali que ocorreria o Grande Festival de Lendilkar, uma festa popular organizada anualmente no mesmo dia em que há quatro séculos a antiga capital foi engolida pelo mar durante a ira do Rei dos Dragões Marinhos, Benthos. O festival relembrava a toda a população o peso da tragédia como uma conseqüência à invasão sem precedentes que Bielefeld tentara contra o reino arquipélago de Khubar. Naquele dia, Benthos, protetor das ilhas, foi desperto de um profundo sono, e afundou toda a antiga capital junto a parte da costa, embarcações e o próprio fundador do reino.

Não demorou muito e logo a primeira peça de teatro encenando os momentos trágicos apareceu, várias crianças e casais reuniam-se ali para ver a história de seus antepassados, comentando as novidades e erros dos próprios artistas. Enquanto torres eram colocadas de um lado e halflings de preto balançavam um lençol azul de outro para similarizar o mar, um homem pegou uma cadeira de almofadas e sentou-se na ponta do palco trazendo um alaúde no colo. Era um homem nobre, de trajes elegantes, barba curta e branca, cabelos grisalhos em ondulações belas, farto bigode, usando um peitoral de aço com o símbolo da ordem da luz, e com a espada embainhada a cintura. Ele preparava-se para a nova encenação. Vlad de pronto encontrou o corpanzil de Katabrok misturado a todos com o Tasloi sentado em seus ombros para assistir sobre toda aquela multidão.

- Evidentemente interessante… - disse o necromante se aproximando do bárbaro – Após a verificação em alguns tomos, subjeto que seja conveniente uma encenação acerca! Só me indago das proposições desse cavaleiro da Ordem estar ali pronto a entoar a história!

Meia dúzia de palavras não foram compreendidas por Katabrok, como normalmente acontecia, mas sorriu para o mago, cruzou os braços e voltou a atenção para o grupo circense que começava a encenar enquanto o cavaleiro nobre começava a narração.

- Senhoras e senhores! Meninos e meninas… A história que vêm ouvindo até agora é de como nosso reino sofreu tal catástrofe e como a antiga capital foi levada ao fundo do mar! Eu vos trago uma nova… Esta narrará a história de meu tataravô e seu companheiro anão, dois grandes amigos que sobreviveram ao grande desastre… Nossa história começa no ano de 1037, no amanhecer do mesmo dia de hoje… Quando há 363 anos atrás a maior frota de colonos jamais vista em Arton, e liderada por nosso herói Thomas Lendilkar tomou a frente do mar para a conquista do mundo que acreditávamos ser bárbaro!

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As nuvens se fechavam sobre o grande cenário. Uma névoa sorrateira cobria as águas enquanto o clima quente fazia os homens suarem correndo disparados pelo grande porto. As enormes torres de pedra da capital Lendilkar eram testemunhas da formação de uma das maiores frotas que seriam enviadas para as ilhas bárbaras, de maneira a estabelecer feitoria em seu centro. Navios pequenos e grandes eram preparados para a navegação iminente. Os ferreiros traziam em grandes carroças barris e caixotes repletos de armas que seriam usadas na grande infiltração que iniciava aquele dia. Vários navios já estavam em alto-mar, iniciando a primeira frente. Enquanto isso o jovem anão Thombardin e o paladino de Tanna-toh, sir. John Merle, aprontavam-se no grande navio que levaria os principais heróis fundadores do reino e seu séquito mais confiável. À frente, na proa estava Thomas, o lendário fundador que guiou a caravana de colonos de Valkaria àquela costa que chamavam de Bielefield, tornando-o um dos reinos mais desenvolvidos até então.

  A embarcação rangia como um monstro sedento por carne enquanto ia se afastando do porto, balançando bastante pelas ondas revoltas daquele dia. O anão apertou o punho entorno do grande machado de guerra e abaixou o elmo dourado com formato da cabeça de um lobo de maneira a proteger-se da água salgada que toda hora respingava em seus olhos. Cofiou a densa barba negra falando temeroso ao companheiro humano que terminara suas preces.

- Sinto minhas juntas doerem… Isso é um mal sinal, humano!

O mesmo deu algumas tossidas e firmou os pés encarando o mar que sumia sob os cascos de tantos navios. O paladino mirou a grande capital, de torres e muralhas que iam ficando para trás, enquanto a névoa sorrateira que flutuava sobre a água do mar começava a adensar e envolver a nau. Sabia que as juntas do companheiro era um oráculo, sempre anunciando maus presságios, como quando os bárbaros organizaram uma armadilha e quase renderam toda capital… ou quando estavam nas florestas e o troll invadiu a gruta que estavam, por pouco não levando suas pernas à mordidas.

- Deve ser essa névoa esquisita e esse calor que está lhe causando isso! Estamos indo para o meio de selvagens, não iríamos querer um mau agouro, neh? – disse ponderando e tentando esquecer as palavras do companheiro para que não se preocupasse mais.

O paladino ajeitou nas mãos suadas as luvas feitas do couro de um búfalo selvagem, e caminhou com o companheiro até diante do navio. Thomas, um homem de idade madura, olhar desafiador e digno, trazendo seus dois martelos de guerra pequenos e encantados presos à cintura, encarava o horizonte.

- Vamos voltar!

Sua voz grossa foi como um soco em seus companheiros aventureiros, inclusive para Thombardin que escutou sonoramente.

- M-mas porque? Estamos quase lá, é a maior frota já enviada neste continente… - a sua própria prima, uma poderosa arcana que fazia também parte do grupo, protestou. Era uma mulher linda, principalmente para o anão, pois ela tinha um corpo gordo, ainda que de simetrias perfeitas, olhos brilhantes de felina e cabelos fogo. A mesma mostrava-se indignada - …Não é só porque minha adivinhação previu ondas e tempestade que devemos voltar! Se o tempo virar eu ainda posso proteger ao menos nosso nav…

- Não, Morian… Não sinto boas energias hoje, ser teimoso contra esse tempo pode nos causar problemas! Consultei os oráculos sagrados da Grande Fênix antes que seguissem para o norte e nós embarcássemos! Eles viram uma arma poderosa que seria usada pelos selvagens! Não sei o que pode ser tão perigoso, mas todas as noites acordo por causa de pesadelos em que homens usando máscaras de ossadas de baleia cantam algo blasfemico… Lendilkar tem comerciantes capazes de comprar sua alma e cobrá-la a todo momento, ou navegadores capazes de atravessar um redemoinho sem fazer uma curva, mas não temos clérigos suficientes para espantar uma praga ou uma maldição!

A maga emburrou, odiava ser contestada. Abruptamente encostou na murada do navio e apontou o dedo gordo na cara do primo herói.

- Mesmo que nós voltássemos…

- Não discuta! Nossa família…

- Está segura em Lendilkar! Os deuses Hedryll e Tanna-toh guardarão nossa capital e civilização! Eles nos deram uma missão, estão do nosso lado… A Justiça e a Razão! Pare de temer o futuro que nunca foste disso, e vamos montar as feitorias que irão dispersar a civilização nas ilhas que nos serão grandes portos!

Thomas calou-se, o resto do grupo não pensava em se colocar entre os primos. Brigas e discussões entre os dois eram comuns, mas normalmente era Thomas que convencia.

...

Cerca de meia hora havia passado, e já estavam na metade do mar que divide o continente das ilhas. A nau em que Thomas, Morian, Thombardin e Sir John Merle estavam já estava na metade do caminho, as ilhas maiores destacavam-se com seus imensos vulcões em erupção ininterrupta, as montanhas titânicas elevavam-se como as costas de um grande crocodilo que dormia oculto na grande mata fechada de coqueiros e estilos tropicais. Os ventos não estavam bons, nem a água. Os marujos corriam afobados para todo canto, fatigados pelo calor inoportuno daquele dia e tentando dar o melhor para os navios chegarem com segurança.

- As correntes estão mudando a cada segundo… Os ventos sopram aleatoriamente! Eu não estou entendendo este clima!

Isso era escutado em todos os navios, não havia uma única embarcação que vez ou outra não se via virada para direções inversas ao do arquipélago. Seriam os povos de Khubar capazes de manipular o clima? Possivelmente não, nunca o fizeram. Talvez arquipélago adentro até houvesse xamãs poderosos, mas não ali na borda. Thombardin secou a barba negra encostado no mastro, suas juntas chegavam a arder de dor. Não era para estar assim, não era tão velho para tal. Sua preocupação aumentou foi quando os ventos pararam, assim como o mar. Não havia um sopro ou uma corrente em todo o mar, os navios ficaram a deriva instantaneamente.

- Será alguma maldição? – proferiu o clérigo de Khalmyr magrelo do grupo de Thomas Lendilkar, era um homem que mais aparentava com um abutre, servindo à justiça desarmado. Apesar do físico de minhoca era capaz de socos capazes de quebrar paredes graças a seus treinamentos em monastérios.

- Eles estão escapando! – na torre de vigia, o tripulante no ninho do corvo usava sua luneta espiando as diversas canoas que escapavam da ilha mais próxima – E tem ilhéus enfileirados na costa olhando para nós!

- Ai, minhas juntas! – o anão tombou.

Ao ver o parceiro, o paladino veio correndo assisti-lo. O anão tremia intensamente, logo sir John o envolveu com a própria capa.

- Quer me matar de calor, humano burro! Tire essa capa… - se debateu tirando a capa - …Seja o que for, virá agora! Minhas juntas não deixam eu nem fic… Ué! Passou…

O anão levantou sem problemas e pegou o machado, não sentia mais nada.

- Seja o que for, creio não ter volta, companheiro! Não sei que praga esses tribais lançaram sobre nossas embarcações, contudo, eles serão dizimados por isso, eu juro! Acham que nos deixar a deriva os salvará!? Pois sabemos nadar.

Os dois seguiram até a proa e tentaram avistar a praia ao longe, mas era quase impossível. A névoa quente que corria sobre as águas ficara para trás no continente, mas também envolvia as ilhas, só viam com clareza os outros barcos envolta, de pessoas confusas. Alguns já pegavam canoas para desembarcar e seguir até a ilha em missões aventurescas para impedir a possível magia. Foi quando uma corrente começou a puxar os navios de novo, dessa vez para o lado. Algumas embarcações mais próximas colidiram.

- Mas o que agora? – Thomas irritou-se e adiantou pegando um grande cabo de madeira usado para afastar o barco do píer e colocou em histe sobre a murada do navio, entendendo, os outros repetiram pegando alguns também ou segurando o mesmo para aumentar a força e assim distribuíram-se por todo navio. Quando se aproximava uma embarcação os cabos batiam no casco do mesmo, de maneira a manter uma distância segura.

Cada vez a corrente aumentava sua velocidade, e logo foi percebido quando de um navio a outro bradavam.

- REDEMOINHO!!!!!!!!!!!!!

O desespero foi total, alguns homens começaram a jogar-se direto na água para tentarem escapar com os próprios braços. Em cada navio os homens desciam aos decks para pegar grandes remos usados para emergências como essa. Tentavam com a força dos seus braços escapar, mas era quase inexpugnável a corrente. O redemoinho apresentou-se, enorme, grandioso como uma boca sem dentes sugando os navios para seu interior como se fosse uma besta faminta. Lendilkar ao longe tocava sinos de alarme que eram escutados abafados nos navios. O som da água sugada para dentro do oceano era algo medonho, como se tivessem despertado uma grande fera que chupava a água e engolia as enormes embarcações com o brasão de Bielefeld como se fossem pequenos grãos.

- Oh, santo Heredrimm! – disse Thombardin golpeando o casco do convés de maneira a não escorregar nas poças de água para fora do navio.

O paladino companheiro segurava-se a uma corda grossa ao mastro enquanto o navio virava perigosamente para o lado como se fosse virar.

- Será este Caribdes? A fera devoradora de navios???

Um marujo escorregou, agarrou em um barril de puxou. A cena não foi das melhores. O engradado caiu abrindo a tampa e dezenas de lanças pontiagudas penetraram-lhe o rosto, pescoço e ombros, e assim seu corpo caiu batendo na murada do navio e desabando na água. Morian colocou o pé direito no mastro central, concentrou-se e proferiu antigas palavras que fizeram ventos saltarem da mesma, deslocando-se para as velas e empurrando-as para longe das correntes.

- Lufa arthan embagh!

Thomas Lendilkar imediatamente correu e salvou um guerreiro que atrapalhado com a armadura, tropeçara nos próprios pés e por pouco não caíra na água aonde afundaria sem chance de retorno. A embarcação afastou-se da corrente que engolia a frota e levou o impacto de vários outros navios próximos.

- Maldição! – Sir John Merle proferiu assim que a corrente destruiu os remos do navio em que estavam.

- Morian, leve com seus ventos mágicos para a ilha! Vamos parar essa loucura com as próprias…

Tudo parara novamente. Silêncio letal, ou assim parecera brevemente. Então algo que nunca haviam escutado, ainda que diversas vezes nas missões colonizadoras em alto mar tenham ouvido os mais guturais cantos das baleias, esse foi terrível. Um rugido como que vindo de um inferno d’água ressoou por todo o mar estremecendo o convés e incomodando os ouvidos. Em resposta, no exato local em que estava o redemoinho, implodiu um forte estouro d’água salgada do mar que ergueu-se como uma lança ou coluna azul que subiu com pressão em direção aos céus voltando a puxar os navios próximos.

- Praga! O que é isso? Esses bárbaros não possuem tanto poder para tal! – proferiu o ladino do grupo de Thomas que tomava a frente.



A água perfurava as nuvens e giravam-nas tornando-as de um cinza claro a um negro forte. Logo em seguida a água arremessada nos céus chovia salgada sobre os navios, ensopando ainda mais os convés dos navios que estavam a salvo da corrente da coluna d’água. Thomas mordia o próprio lábio de nervoso do que viria a seguir.

- Thombardin, retire já sua armadura! – bradou Sir John Merle em meio ao tumulto da chuva e zoeira.

- Tirar minha armadura? Tá louco homem? Aaaah! Da próxima vez dê atenção às minhas junt… CUIDADO!

O anão deu um encontrão no abdômen do companheiro tirando-o da reta de algo que se chocou contra o chão em um estrépido alto. Era um corpo de guerreiro ainda na armadura, morto, que caíra dos céus e ao chocar-se no convés espalhou sangue e por pouco não perdeu a própria cabeça.

- Homessa! – Sir John reclamou dando um chute no corpo para a água.

- PROTEJAM-SE!!! – Thomas Lendilkar bradou correndo para as cabines dentro do castelo da popa.

Tudo que fora sugado pelo redemoinho, era arremessado agora pela coluna d’água e caía sobre as ilhas e embarcações. Fossem os próprios navios, mastros, armas, barris ou corpos. Os navios que caíam sobre outros, esmigalhavam os tripulantes no mesmo instante que afundavam a embarcação dos mesmos. Os barris caíam rasgando velas, destruindo lemes e matando pessoas. O caos estava instaurado. Logo ventos quentes assolaram junto da chuva e giraram em trombas d’água que surgiam entorno de toda a frota. Novos barcos, a remo dessa vez vinham da capital ao socorro dos sobreviventes antes que fossem levados pelos tufões d’água que estavam surgindo. Sem as armaduras Thombardin e Sir John dispararam para as canoas da embarcação. Thomas os viu e percebeu que era o modo mais rápido de deter o que quer que os nativos estivessem provocando sobre eles. Imediatamente fez um sinal a prima maga e o resto dos companheiros para que pegassem um bote. Um novo rugido, esse mais próximo fez uma taquicardia em cada um nos navios. Sentiram-se paralisados e sem fôlego por instantes, marujos foram ao chão. Alguns entregavam-se a loucura chorando desesperados por suas vidas. Novos redemoinhos vieram, menores de tamanho, mas não menos perigosos. Até que uma sombra surgiu sob todos no grande mar. Era maior que uma baleia, talvez maior que todo um grupo delas. Era titânico, colossal no mínimo.

A coisa emergiu. Era uma fera como nunca se viu igual. Uma besta gigantesca, medindo centenas de metros, reptilinea com corpo enorme e massivo com enormes barbatanas emergindo das laterais da cabeça e corpo, assim como as grandes asas com a mesma forma. A fera rugiu aos céus enquanto cada movimento criava ondas que engoliam vários navios de uma só vez. Os nativos que tinham fugido sabiam do perigo, pois a simples aparição fez com que as costas das ilhas próximas fossem lambidas pelo mar, inclusive os nativos que ficaram foram levados junto a árvores.



- Pelas barbas justas de Hedryll, é um dragão aquilo??? Nunca vi algo sequer parecido em Lamnor! – bradou Sir John que observou Thomas boquiaberto e tão vidrado no ser que sequer reparou na prima que caíra ao chão de olhos arregalados e petrificada.

- Ou em Doherimm! Não é a toa que minhas juntas doíam tanto…

Thomas ficou ajoelhado diante da sua prima por uns instantes, sem conseguir acordá-la e confuso, ergueu-a nos braços e se pôs na mesma canoa que o paladino e o anão. Sir John sobrepôs as mãos no corpo da maga rezando à velha deusa em busca de acudimento, mas nada… Não havia vida a ser restaurada. Com um aceno do rosto revelou a verdade ao herói que engoliu em seco e disse áspero.

- Sigamos para a ilha, quero que ao menos seja enterrada e não bóie como mais um corpo fruto dessa catástrofe.

Era fato que seu ódio pela fera era implacável, por sorte se mantinha em razão, afinal, o que adiantaria nadar até a criatura se sequer teria tamanho para lhe aparar a unha? Manteve-se acariciando as mechas da prima morta enquanto seguiam para a costa. A visão envolta era aterradora. A besta marinha destruía as embarcações com uma facilidade incrível, bastava um golpe da pata e grandes naus tornavam-se nada mais que um punhado de madeira. Magia foi conjurada de cada navio, bolas de fogo, correntes de raios e mísseis de pura magia vieram de todos os lados atingindo a besta, explodindo em luzes e fogo, mas sem sequer arranhá-lo. Com um movimento da cauda um pouco mais forte e golpeou o litoral de uma ilha próxima jogando areia para o alto e desfazendo todo formato do litoral. Um novo rugido, mais mortos de pavor. Maremotos, trombas e colunas d’água, redemoinhos… A frota em pouco tempo estava quase totalmente dizimada.

O grupo estava no litoral da ilha que foi lambida pelo mar e onde antes estavam os xamãs devorados pelas águas salgadas. A terra ainda estava fofa e cheia de poças, assim como troncos de árvores tropicais estavam derrubados para todos os lados misturados aos escombros das antigas moradas dos mesmos. Thombardin jogou-se na terra molhada fatigado, enquanto Thomas e seus companheiros cavavam um buraco fundo para Morian. Sir John enterrara a espada na terra enquanto orava à Tanna-toh em busca de esclarecimento do que fazer naquele momento. Enormes raios alvejaram os últimos navios, assim como eram sugados pela força da água. Praticamente toda imensa frota de Bielefeld estava aniquilada sem terem causado um arranhão sequer no dragão colossal que surgira. O grande mar em frente a Lendilkar se fazia em uma cena de devastação sem precedentes, pois entre os fenômenos climáticos típicos de um cataclismo a madeira dos navios e corpos amontoavam-se por toda parte. Um navio jogado pelos ventos girava a esmo próximo da ilhota. Thomas ergueu-se e foi até o paladino pondo-lhe a mão no ombro.

- Senhor, vossa santidade, peço perdão por interrompê-lo! Mas seguirei de canoa até aquele barco em que as poucas almas que ainda existem devem ter perdido a sanidade já… Peço que faça um funeral digno à minha pobre irmã e depois siga para o interior dessa ilha! Que haja sobreviventes! Eu morrerei neste mar, pois não deixarei meus sonhos afundarem com a capital!

Sir John cofiou o farto bigode encharcado e cheio de areia e fez uma mesura.

- Que a Mãe da Palavra seja sua diplomata perante Hedryll!

Thomas agradeceu com um meneio de cabeça e partiu com seu grupo à canoa em direção ao navio. Ele até conseguiria manejar o navio, mas o que ocorreu em seguida apenas as lendas podem narrar. Enquanto isso, um enorme estrondo foi escutado quando novos maremotos deslocaram-se. Benthos erguia-se batendo as imensas asas-nadadeiras criando lufadas de vento que provocavam as tsunamis enquanto seu corpanzil abria uma fenda no mar para deslocar-se para o alto. O demônio, como parecia aos olhos de seus pequeninos oponentes, emitiu mais um rugido. Sugou o ar por instantes e soprou um poderoso cone de jato de água superaquecida que deixava um rastro de vapor capaz de descarnar a mais resistente das criaturas. Apesar da distância, o jato destruiu as maiores torres de Lendilkar que estava ao longe. O novo alvo do Dragão Rei era a cidade portuária de onde vinha todos os males causados pelo reino continental às terras que protegia como se fossem-lhe súditos incautos.


ASS: ANTONYWILLIANS, O MAIOR ESPADACHIM DE ARTON

domingo, 16 de março de 2014

Em Busca de Lenora: Capitulo IV

Enforcando e Esquartejando



Talinthar, uma das mais belas e pacíficas cidades portuárias em todo o Reinado. O silvo das gaivotas que vinham do mar para pairar sobre o mercado de peixes dava um sentimento no coração dos que ali estavam, de paz, sossego e aventura. Mirando através das janelas o horizonte longínquo, os residentes viajavam com seus olhares sobre as ondas querendo desbravar onde a vista não mais alcançava, desvendando as sutis siluetas das ilhas espalhadas pela conhecida Baía dos Náufragos, assim nomeada por séculos atrás os navegantes inexperientes terem seus navios afundados por negligenciarem os inúmeros corais, monstros marinhos e rochedos que assolavam aquelas terras submersas. A cidadela era bem grande para o padrão comum de Hongari, com algumas colinas cercando-a, e muitos humanos marinheiros, assim como halflings comerciantes, compondo sua população nativa. Havia pelo menos um estaleiro e duas docas principais com navios de porte médio, de possível viagem de cabotagem ou que seguiriam até as ilhas da baía, guiados por um grande farol que durante a manhã soltava fumaça da queima de madeira apropriada indicando para aqueles no horizonte a localização da costa, enquanto a noite sinalizava com luzes potentes. O comércio era reunido em uma praça cheia de barracas, frutos do mar que arduamente fediam a céu aberto, pessoas que tumultuavam-se em turba furiosa, algumas lutas informais com competições de apostas, saqueadores de sacolas de tibares incautos e toda sorte de possibilidades que se podia ter em uma cidade-porto humana em um reino próprio dos halflings.

A navegação não era uma prática muito comum nos mares lestes de Arton, havendo poucos marujos e pesquisadores navais, levando muitos amadores desbravarem as ondas apenas como simples comerciantes que iam e vinham com mercadorias e pessoas. O grupo estava sentado no segundo andar de uma taverna bastante badalada por estes escassos aventureiros dos mares, a Cova do John Morto. Lendas locais diziam que o dono da taverna ergueu sobre a tal cova este estabelecimento, o que levava às noites ouvirem passos do navegante John nos corredores, mal sabendo que na verdade eram ratos que faziam barulho, a madeira que rangia e os morcegos agitando-se sob o telhado. Luigi terminou a última nota sob aplausos das raparigas sorridentes e dos homens do mar embriagados que assistiam sua performance, feita em troca de um desconto para a noite a todos os membros caso fosse necessário, pois mesmo tendo a recompensa do prefeito de Lappuh por ter capturado Anne, a peste que vinha aterrorizando a comunidade e carregando algumas crianças que por pouco não formavam um bando de saqueadores, era bom economizar nos gastos.

- Hunc! Então guria… Hic! Que merda passa na tua cabeça para ficar… Hic! Aterrorizando aquela pobre vila? – Tork indagou em meio a seus soluços e goles demorados de cerveja.

- Você sabe… Meu irmãozinho vive me expulsando do barco, agora havia me entregue àquele prefeito quando visitou essa cidade pela última vez, ia me fazer casar com aquele baixinho velho e esquisito que vive em cima de uma tartaruga! Me revoltei, fugi e comecei a reunir uma tripulação para pegar um barco e ter meu primeiro navio! – ela torce o nariz – Hunf! Mas não passavam de bebês chorões, não tinham espírito pirata!

- Vendida como escrava… Entregue para casar com um estranho… Realmente não gosto disso! Que Nimb esteja rolando dados para um caminho bom! – disse Leon terminando sua segunda caneca – Tem certeza que ele voltará para este porto não é?

- Sem dúvidas, desde que viemos parar neste lado do mundo ele fez aliança de proteção à cidade em troca de porto livre, descontos e impostos! Ele deve vir pelo menos uma vez ao mês, e hoje equivale ao dia em que ele aportou e me vendeu há dois meses…

Então veio o som do sino. Um badalar alto, breve, rítmico e poderoso.

Indicava o quanto o sol havia andado naquele dia, marcando os horários,vindo da Igreja da Paz no Mar, união de Grande Oceano e Marah. Rapidamente alguns marujos levantaram-se e saíram para as ruas, enquanto outros se entreolharam e dispersaram-se mais pela taverna examinando cada cliente minuciosamente, o próprio taverneiro os focou sutilmente analisando os movimentos estranhos. Leon Galtran percebeu que algo estava para começar.



A brisa do mar esvoaçavam os longos cabelos roxos presos por uma bandana listrada e uma trança. O sobretudo agitava-se violentamente com o vento, enquanto isso os homens movimentavam-se ágeis por trás da figura daquele grande homem que descansava um pé na proa do navio. Seus olhos miravam sua vítima, e seu sorriso sádico zombava dela. O convés estava até vazio, uns três cuidavam das cordas e velas, enquanto outro aguardava no ninho do corvo e o navegador cuidava do timão. Os outros dez homens estavam um deck abaixo, organizando a pólvora e canhões. Nada poderia, nem iria falhar naquele dia. O capitão pirata ergueu-se ajeitando o sobretudo vermelho posto sobre os ombros e andou pelo imenso deck de seu navio.

- Hoje é o dia de lembrar a essa cidade quem somos! Não quero falhas, pois se alguém o fizer irei fazer andar na prancha mais podre das que usamos para apoiar na carga, mas não antes de arrancar-lhe os olhos! A reputação desta tripulação nunca será manchada, então preparem-se! AMAINAR! GIRAR MEIA ONDA EM SENTIDO BORESTE PELA BUJARRONA! EXAMINAR BOMBORDO!

Neptunio Wood se aproximou do capitão com seu sonoro som da perna esquerda de pau batendo contra a madeira do casco. Era baixo, com sangue anão em gerações passadas, bem constituído, bigode farto, bochechas cheias, sobrancelhas praticamente ligadas e usando uma toca de lã. Era o imediato do navio, cão fiel do capitão e um de seus maiores amigos, adquirindo sua posição na tripulação após demonstrar sagacidade incomparável em liderar combates navais e salvar dezenas de vezes a grande nau de rochedos iminentes. O capitão o observou, aumentando o sorriso malicioso que parecia blasfemar a honra da cidade a sua frente.

- Capitão, a pólvora já foi socada, os homens estão começando a mirar! Aguardamos seu comando!



James K. vertia sangue por dentro de sua íris brilhante. O sangue de suas vítimas.

- Lembrem-se, velho, apenas de prestar atenção aonde ordenei que atirassem! Não quero exageros, nem que destruam outros pontos vitais da cidade!

O som do sino soou pelas ondas e o capitão segurou uma gargalhada, entregando-a em uma ordem.

- ATIRAR!!!!!!!!!!!!
O imediato avisou ao deck abaixo dando três pancadas no chão do convés com sua prótese.



 

Enquanto isso, no cais principal da cidadela portuária, sequer era percebido o movimento do pirata. O fiscal responsável pelas docas, Breno Buffavino, continuou caminhando e anotando o nome dos navios que recém-chegavam. Era um halfling robusto, de meia idade, cabelos ralos e parcialmente grisalhos, usando uma boina e trajes do mar desbotados com um colar de prata cravado por uma esmeralda, revelando sua posição ali. Apesar do tamanho, sua voz elevava-se bem alto e mantinha respeito dos humanos milicianos. Seus pés ágeis o transportavam pela madeira gasta do píer, chapinhando nas poças de água salgada e por entre as centenas de pernas que iam e vinham de marujos e viajantes que embarcavam e desembarcavam, tudo sem escapar de seus olhos. Ele gesticulava, apontava, bradava e corria. Era sua vida, movimentada, como poucos de sua raça gostavam, mas que fornecia bons lucros. Graças a ele que os milicianos podiam cobrar as taxas de ancorados com perfeição, prender embarcações que tentavam burlar as regras do porto, ou enviar navios que já haviam passado da cota dos impostos. Um fiscal auxiliar, este humano, apareceu, era mais um especialista em avisar os navios que se aproximavam, vigiando o horizonte com uma luneta. Ele sorriu enquanto espiava a nau ao longe.

- O que encontrou de engraçado, Jophann? – o halfling indagou anotando algo na prancheta e apontando de um miliciano para um homem que se esgueirava suspeito na turba.

- Ele voltou na hora, chefe Breno, a Bravado está no horizonte! – o jovem fiscal humano de não mais que vinte invernos e cabelos revoltos sorria com seus dentes podres pelo mal trato que tinha com eles.

Breno Buffavino respondeu à alegria, sempre recebera gorjetas muito boas daquele pirata. Bárbaros escravizados, especiarias, famílias com grana escoltadas das ilhas da baía, mercadorias, tudo que levava ao tal bucaneiro ser bem recebido naquele lugar, mesmo apesar do título e fama dos mares distantes. Breno mal podia acreditar que aquele homem pudesse ser um demônio. Defendia a cidade de males vindos do mar que antes cobravam grandes custos com heróis, agora só pela oferta de benefícios em trocas comerciais na cidade e porto seguro tinham mais eficiência e possibilidade de financiar o mercado que só crescia, boatos levavam a crer que o capitão James K. do belíssimo galeão encanhonado se tornara um dos melhores corsários da história. Não sabiam o quanto estavam enganados…

O halfling correu até a ponta do píer junto a seu auxiliar, examinou com a própria luneta a nau ao longe e disse:

- Ela pode ancorar no píer 5! Está livre e reformado! Mas… Esper… Por que a Bravado parece estar virando? E o que é aquela coisa vindo em nossa… Pelo Grande Oceano! ESTAMOS SOB ATAQUE!!!!!!!

Em seguida ao alarme do fiscal, que chamou a atenção de todos quando largou a prancheta e começou a correr no meio da turba, uma bola imensa de chumbo vinda em alta velocidade atingiu a doca, destroçando o píer, o casco de um navio, esmagando várias pessoas e explodindo em alto e bom som ao atingir uma estrutura. James K. iniciara seu ataque, seja lá por que motivo fosse. O caos tomou conta do porto, caixotes foram jogados a esmo, navios começaram a partir, às vezes chocando-se a outros também apressados, a milícia confusa e inexperiente, típico do interior, apenas fugiu em direção a cidade e logo a doca era atingida por mais três balas de canhão atiradas pela Bravado.


A mão azulada bateu contra a mesa de madeira envernizada com um estrondo alto. Os olhos do humanóide escamoso de descendência marítima tinha seu semblante contorcido em uma irritação profunda pela idiotice daqueles à sua volta. Fidalgos, não valorizavam as ações de seus antepassados e eram uma ofensa à inteligência de qualquer um.

- Volto a reafirmar-lhes, não podemos aceitar novamente que ele entre e saia desta vila como se fosse qualquer um! Vocês do mundo seco podem pensar naquelas coisas douradas, contudo, para mim não são nada além de um pedaço de coral sem vida, e assim posso enxergar a verdade!
Os outros riram das palavras do elfo-do-mar que voltou a sentar-se frustrado com a falta de noção dos demais que se reuniam envolta da grande mesa pentangular de madeira. Os que estavam ali eram netos dos cinco aventureiros que fundaram aquela cidadela portuária, e portanto, os conselheiros regentes: Andriäa, a meio elfa, filha da arqueira élfica vinda de Lenórienn, Bellemarriï, com Rother, o Paladino; Juramanttes, descendente do casal guerreiro anão Balder e Dreyah; e Conde Pupknot, um humano pequeno pelo sangue do halfling do grupo que fundara a cidadela. Os três haviam há muito aceitado o elfo-do-mar para ajudar na proteção costeira já que seus antepassados convidaram-no para tal, contudo, não viam nele a ambição necessária para participar do conselho.

- Ora ora, Conselheiro Unnil, talvez seja exatamente isso o que lhe falta… - Pupknot sorriu por baixo de seu denso bigode negro enquanto ajeitava o monóculo de prata - …A ambição de nosso mundo para então assistir ao progresso!

- Mesmo que estejamos comerciando com um profanador dos Oceanos? – Unnil grunhiu com os olhos vermelhos de nervoso, sentia sua ira lhe escapar pelos poros. Os milicianos destacados para zelar pela segurança de cada um naquela cúpula apertavam com força suas lanças caso fosse necessário repreender o “estrangeiro do mar” – Eles não são indesejados apenas em meu mundo submerso! Lá eles lançam destroços do Mundo Seco! Mas no de vocês eles destroem! Foi pela proteção da costa que me tornei conselheiro, senhores!

Andriäa bocejou, abriu um leque para afastar o calor e o tédio enquanto um serviçal ajeitava as jóias em seu colar para manter a vaidade intacta. Juramanttes bufou, deu uma cuspidela em um vaso próprio para isso, ajeitou a roupa aristocrática e disse sem cerimônias.

- Errado, senhor Conselheiro Unnil, ao que me consta tornou-se conselheiro apenas por gratidão à construção do farol que facilitou tanto a nós quanto a vocês que tiveram menos navios naufragados em suas terras submersas! – palitou os dentes amarelados para tirar a comida que deliciara-se ainda a pouco – Uma lenda dos mares oestes protegendo nossa costa como um cão nosso, em troca de mercado, ouro e taxas é bastante vantajoso! Sabe quanta coisa esses hobbits de Hongari nos forneceram para proteção das naus que trafegam pela Baía dos Náufragos? Nada… Nada mesmo!

O elfo iria replicar quando houve um estouro provavelmente próximo da estrutura pela altura do som de explosão e o tremor que sentiram. Juramanttes caíra no desequilíbrio e resmungou erguendo-se.

- Mas o que está acontecen… - os quatro milicianos na câmara adiantaram-se para abrir a porta como meio de fuga quando algo zuniu e uma bala de canhão entrou pela porta aberta, atingindo a mesa de reuniões e explodindo, jogando os conselheiros contra as paredes que começaram a rachar e desmoronar. O elfo-do-mar conseguiu manter-se de pé com sua resistência e espiou por entre a cortina de fumaça com odor de pólvora, encontrando ao longe, no caminho de destruição da bola de chumbo, a silueta de um navio. O maldito começara como previra…

Subitamente o humanóide com traços de peixe agarrou seu tridente de aço que ficava preso à parede do conselho, mas que agora estava no chão depois da mesma desabar, saltou sobre o entulho ignorando os fidalgos soterrados ou feridos, que logo seriam socorridos por seus criados e milicianos que chegariam, e disparou a correr em direção ao porto para impedir que o local que o acolheu acabasse mais destruído.


- Estamos cercados!

- Hunc! Obrigado pela informação óbvia! – Tork incomodou-se com o comentário de Leon.

Primeiro foi o sino que fez com que alguns estranhos saíssem do estabelecimento e outros espalhassem-se lá mesmo disfarçadamente, depois veio o som de uma explosão que fez cada caneca tremer. E as lâminas brilharam quando os homens estranhos revelaram-se piratas da tripulação da Bravado. As pontas dos sabres eram ameaçadoras, principalmente para uma cidadela tão pacata quanto Talinthar aonde quase nenhum aventureiro mais experiente andava. Luigi lembrou ao grupo em sussurros a fama no lado oeste do continente que havia sobre aqueles homens, exímios em esgrima. Havia até alguns que portavam armas de pólvora e miravam nos que consideravam mais perigosos.

- Devia ter imaginado… - disse Anne que escondia o rosto nas mangas para que nenhum marujo da tripulação do flibusteiro a reconhecesse - …o Irmãozinho tem a chata mania de atacar os portos que faz aliança de tempos em tempos de maneira a deixar bem claro que não está a serviço de ninguém! Na maioria das vezes é com cidades que dependem dele de alguma maneira, como esta, que mesmo no caso dos governantes locais acharem melhor afastar-se do irmãozinho, não encontrariam grandes vantagens, por ele ser a única opção de grande proteção, e sem contar que quebrar o contrato resultaria a um saque constante e não de longos períodos!

Leon Galtran estava pasmo com a frieza e funcionalidade do plano.

- Realmente não gosto deste seu irmão!

- Hunc! Não gosta já? Então espera conhecê-lo…

- SILÊNCIO! – bradou um dos tripulantes invasores que lhes apontava uma pistola e um sorriso sádico.

Os piratas examinavam o grupo com interesse e desconfiança. Sabiam que não eram locais e sem dúvidas eram aventureiros estrangeiros pelos trajes e armas que portavam, sem denotar a presença do trog com uma foice mecanizada entre eles. Luigi de braços erguidos então disse.

- Calar um bardo? Heh! Difícil hein!

Com a perna ágil, o bardo bateu com o joelho sob a tábua de uma das mesas da taverna fazendo-a ir pra frente. Já conhecendo aquele movimento há muito tempo, Leon pegou-a e ergueu, usando para proteger-se dos tiros que vieram. Enquanto os bucaneiros recarregavam as armas de longa distancia, jogou-lhes a mesa. Anne de pronto correu em direção a uma janela, barrada por piratas de espada em punho, contudo, foram problema temporário quando a lâmina do “machado” de Tork cortou o ar a distância preso por uma corrente ferindo aqueles que puseram-se no caminho. Rapidamente Leon agarrou Anne, saltou pela janela e evadiram por ruas mais estreitas. Os piratas dentro do local então correram para cima do troglodita enquanto Luigi irrompeu pela porta de saída com uma ombrada, tendo tiros em seu encalço, mas que desviaram-se milagrosamente sem sequer raspar-lhe na roupa. Livre de afetar qualquer um do grupo, o troglodita rugiu bárbaro para todos os malditos homens do mar.

- Peguem essa lagartixa nanica!

- Hunc! Falou a palavra mágica, seus putos!

E de seus poros saltaram os fortes gases fétidos providos por sua raça, empesteando e fazendo todos caírem nauseados quando não inconscientes sobre os próprios vômitos.



As ruas de Talinthar estavam uma loucura… As balas de canhão choviam sobre a cidadela, com intervalos a cada três projéteis que explodiam casas incendiando-as ou direcionadas a pontos principais como delegacia e prisão. As pessoas desesperadas buscavam socorro em meio às ruas, quando mal imaginavam que piratas já infiltrados na cidadela surgiam de todos os pontos, entradas e saídas da cidade portuária barrando fuga, roubando os cidadãos, invadindo as casas, saqueando e arrastando as mulheres mais belas pelos cabelos com sadismo enquanto perfuravam os peitos dos entes mais queridos e corajosos que se atreviam a tentar impedi-los. Gritos de desespero, o odor dos tiros de pistolas nas praças, sangue inocente sendo espalhado, as gargalhadas pérfidas, o tilintar dos butins, o choro das crianças, mulheres e maridos… todo aquele caos espalhava-se sobre a cidade que há décadas não sofria tal pesadelo.

 

O capitão James K. respirava fundo agraciado por toda aquela sinfonia que sua querida Bravado e tripulação causavam enquanto descia do bote que Neptunio remara até o porto. As pessoas e marujos dali já haviam sido expulsas dos navios e reunidas sob o fio das espadas de alguns de seus comandados que sorriram em reverencia ao capitão que trazia seu casacão sobre os ombros pelo imenso calor que estava. O lendário bucaneiro respondeu rindo e penetrando nos olhos de cada um ali com suas íris de demônio.

- Tremam, marinheiros de primeira viagem… - ele bradou com sua voz de diabo sobre os homens acuados do porto. Outra bala de canhão caiu ali próximo com alto estrondo e destroçando toda uma taverna de baixa qualidade com os que ali refugiaram-se – Não irei matá-los, quero que espalhem por todo o leste o que viram aqui! HAHAHAHAHAHAHAHAH!

E assim caminhou com seu imediato em direção ao pátio principal da cidadela, admirando o estrago que causara. Era o plano ideal. Desde que aquela praga de cajado mágico da elfa, que o assombrava a vida mesmo após estar definitivamente morta, ter teleportado sem motivo aparente todo o navio com a tripulação para aquele lado do mundo, calculara cada passo que daria tanto para solidificar seu mito por aquelas bandas, como para arrecadar cada vez mais impostos das cidadelas pacíficas. Os conselheiros de Talinthar não tinham mais a quem recorrer proteção, afinal, a única base mais próxima era Triunphus, como lhe alegaram os informantes, um meio urbano amaldiçoado e atacado por um monstro demoníaco que a fazia carecer de toda força militar possível.

Seus passos eram como os de um gigante, não que fizesse sons abomináveis, mas sua presença fazia a alma de cada um ali gelar, tanto de medo quanto de raiva por ter traído a confiança daqueles que lhe oferecera porto seguro. As ruas e seus ratos calavam-se na sua presença, as crianças que tentavam chorar eram logo silenciadas por seus pais nem que por pouco tivessem que sufocá-las. Não desejavam mais ira daquele ser que caminhava com sua aura de asas de morte. O capitão pirata cessou sua andança em frente à imensa estátua que trazia esculpida a imagem dos cinco aventureiros que há muito fundaram aquele porto, e que agora deviam estar corados tamanha desonra dos seus descendentes. O pirata ajeitou o sobretudo vermelho sobre os ombros e sentou-se de pernas cruzadas aos pés dos heróis da estátua.

Com um gesto o imediato Neptunio adiantou-se para organizar que todos os piratas que recolheram um butim, trouxessem o ouro, prata e outras preciosidades, derramando-as em monte à frente do capitão. Realmente, já recolhera mais tesouros, todavia, não podia esperar mais que um pequeno monte de moedas, castiçais, espadas e outros materiais trabalhados a ouro. Um novo gesto e as mulheres amordaçadas e amarradas, de crianças à idosas, foram levadas a ele. Ergueu-se e caminhou.

Seus olhos abomináveis corriam pervertidamente cada curva, traço e vestes das mulheres. Sentiu o aroma do pescoço de algumas crianças, acariciou mais ousadamente outras mais jovens e bateu com a parte cega de um sabre que trazia entre as pernas daquelas mais tímidas. Ao fim fez um aceno para as que lhe interessavam.

- Serão vendidas ao sul… São boas mercadorias! – as mulheres choraram, e cessaram quando lâminas quiseram arrancar suas cabeças de sobre os ombros – As outras deixem, poderão fazer mais filhos, ou seja, financiamento de mercadorias para nós! Não quero estupros, sabem que não quero almofadinhas bastardos me procurando por vingança de sangue e nem mulheres apaixonadas, pelo que têm entre as pernas, vindo se alistar para pisar em meu convés! Depois usam o ouro desses miseráveis nos inúmeros bordéis das costas!

O capitão gargalhou desumano dando as costas às reféns, até que sentiu um cuspe atingir-lhe com a força de um nojo e escorrer com o calor de um ódio. Toda a praça gelou e calou-se naquele momento, até deu-se o intervalo das explosões de bolas de canhão. A própria culpada de tal obra blasfêmica evadira o sentido das pernas levando-a ao chão, momentos antes do aço frio do sabre lépido perfurar-lhe pela traquéia destroçando todos os órgãos guardados nas costelas e depois ter a cabeça dividida no meio enquanto o capitão recolhia a arma para com um pano descartável limpar o sangue e os resíduos de carne na lâmina. Alguns tentaram dar um grito de pavor, porém, mesmo suas vozes temeram mostrar-se. James K. sentou-se novamente aonde estava antes e embainhou o sabre, em seus lábios… um sorriso.

- Que fique bem claro, beldades, e demais reféns… Qualquer um dos cativos… Se desrespeitarem o seu senhor aqui, farei-lhes de exemplo como o fiz com esta mulher corajosa… E farei isso sorrindo! – os olhos brilharam intensos e insolentes – Agora levem esta pobre mercadoria sacrificada para ser alimento dos selakos daqui, pelo menos será uma carcaça com coragem! HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH!!!

Neptunio conhecendo o capitão, pegou uma garrafa de rum, abriu a tampa com uma parte de aço sobressalente em sua perna de pau e entregou-lhe, que bebeu com sede. As mulheres foram retiradas de pronto, algumas seguradas por capangas da Bravado quando suas pernas fraquejavam ante ao medo do que acontecia e viria a acontecer em suas vidas. Então vieram os homens a serem expostos de peito nu. James K. examinou os músculos, dentes, cada parte do corpo e assim definiu aqueles que seriam os próximos a serem vendidos como escravos e quem entraria para sua tripulação.

- Este matou dois de nossa tripulação quando pegamos sua filha, capitão… - disse um dos piratas com seu sorriso banguela por anos de escorbuto.

- Hmmm… Forte, corajoso e capaz de derrotar dois de meus homens! Vai entrar para a tripulação e trabalhar pelos dois que matou!

O cidadão caiu aos pés do capitão aos prantos, aquela montanha de músculos se decompôs a sua frente como se esfarelasse à brisa do mar.

- Senhor… Não… Lhe peço… M-minha família! Sou peixeiro de meu bairro… S-sustento minha família pobre… Minha mulher e… e… e filha não têm condiç…

James K. pegou-o pelo colarinho e ergueu até seus olhos fazendo o espírito do homem escapar-lhe pelas retinas ante o pavor.

- Pssi!!! Não pedi para contar a história de sua família, seu bosta! Já pro navio! Estará a disposição de minha tripulação para o que precisar e se for nem que seja um pouco lerdo, todos têm a permissão de estripá-lo e fazê-lo andar na prancha! Não necessariamente nesta ordem!

- N-n-nã-não!!! Minha família!

- Este é o problema? Ok, sem problemas… Neptunio, quero a cabeça de cada membro da família de nosso novo tripulante pendurada no mastro central por três dias para que este homem não tenha mais pelo o que sofrer pelos outros e possa matar as saudades enquanto conhecerá a nova família dele em nosso convés cheiroso! Hahah!

E assim o imenso homem foi arrastado com resistência em direção à Bravado que ancorava no porto não muito longe dali.

- Bom, bom… Vamos lá! Vou dividir o dinheiro, preciso que esta cidade tenha o mínimo para se reerguer e assim possa vir aqui de novo daqui há alguns anos saqueá-la novamente!

Enfiou o sabre no ouro e separou um terço de tudo, chutando para longe do butim de verdade. Logo que terminou, dois corpos de piratas caíram dos céus na frente do capitão que saltou para trás já de sabre em punho. Os corpos estavam com três furos no peito e sangrando pelos olhos. O olhar de James K. seguiu para o telhado e viu o motivo daquilo. Lá estava um elfo-do-mar de olhar vingador e intimidador mirando-lhe enquanto girava um tridente sobre a cabeça.

- Hah! HAHAHAHAHAH! Então um peixinho fugiu do aquário e quer brigar…

- Prepare-se, abissal do mundo seco, estou incumbido de proteger cada cidadão, e farei pagar por cada lágrima e sangue inocente derramado!!! – Unnil bradou de cima de um telhado antes de saltar com um grito de guerra único capaz de ser reproduzido apenas por cordas vocais de sua raça.

James K. apenas lambeu os beiços molhados de sarcasmo.



Os saltos do ladino eram invejáveis, mas os de Anne não ficavam para trás. Por mais que doesse em Leon ver talentos de ladinagem em crianças, tinha de reconhecer a destreza da garota. Neste momento saltavam sobre os telhados das casas de Talinthar enquanto chovia virotes de bestas e tiros das armas fedorentas de pólvora dos piratas que os perseguiam. Seus pés teimavam em querer escorregar nas telhas de barro ou espetar nas de palha, contudo, não praguejavam, sabendo que o mínimo erro lhes custaria a vida. Anne, que escondia o rosto em uma bandana, agarrou uma pedra pesada que segurava a palha e jogou na direção dos piratas para atrasá-los. Os olhos de Galtran correram pelo mar de telhados à frente até o porto, então com perícia única segurou a mão da menina e a puxou.

- Vamos despistá-los! Acho que vi uma rua sem saída!

Logo que falou Anne soltou um berro, puxou o ladino e caíram do telhado segundos antes de onde estavam ser atingido por uma imensa bola de chumbo que veio zunindo como a morte e explodiu a casa em chamas e fumaça fedorenta. Estavam em meio a um beco, encurralados por cinco piratas. Sabres, pistolas preparadas e virotes.

- É… Agorarealmentelesvãonosmataragorarealmentelesvãon… Ai! – Leon gritou de dor quando a menina aplicou um chute em seu calcanhar.

- Parece que burrice é coisa de família! – ela disse emburrada.

Ouviram um clique de uma garrucha engatilhando.

- Mas é claro… Leon Galtran, reconheceria esta sua carinha maltrapilha em qualquer canto! Heheh! – disse o pistoleiro ruivo com cabelo penteado de forma engraçada, que lhe fazia parecer ter espinhos vermelhos na cabeça – Lembra-se de mim? Desde aquela vez que matou meu companheiro ao roubar o templo principal de Tibar no Reino de Fortuna, entrei para a tripulação de James K. para no meio criminoso te achar! Agora fique quietinho enquanto pego sua cabeça para ficar rico! Gahahahah!

- Nem a pau, Menelau!

Leon olhou para trás e viu uma parede bem sólida, conseguiria escapar com facilidade se estivesse sozinho, mas a pequena Anne provavelmente ficaria para trás. Resmungou algo e com a boca ajeitou as luvas que trazia em suas mãos, estas com pouco atrito e quentes, lhe permitindo uma velocidade incrível e prestidigitação destra, assim, quando veio o primeiro disparo, agachou, enfiou a mão em seu bolso e retirou um punhado de pequenas bombas famosas pelo nome de pérolas explosivas.

- Prepare-se para correr em direção à eles!

- Mas o que… - Ela tentou saber qual era o plano, porém a ação foi feita rápida demais.

Leon jogou as pérolas em direção aos piratas que assustados atiraram a esmo. Galtran jogou-se com a menina no chão para escapar, algumas das balas, ainda com pólvora chamuscada atingiram as pérolas em pleno ar desencadeando uma enorme explosão que derrubou a casa ao lado que já havia sido abalada com a bala de canhão que atingira a estrutura vizinha. Os tripulantes da Bravado foram arremessados para trás pelo impacto da explosão, quando não explodiram eles mesmos por causa dos usuários de pólvora. Em meio a fumaça, corpos e destroços, Leon agarrou o punho de Anne e puxou-a pulando sobre as ruínas das casas e assim dando um salto para alcançar o telhado de outra próxima, despistando por completo os capangas de James K.

Após um breve momento perceberam… A Bravado não disparava mais balas de canhão, cessara plenamente, e ao longe, começava a ancorar no porto. Galtran sorriu enquanto também observava a escassa milícia local ser rendida pelos piratas.

- Vamos Anne! Temos que nos infiltrar no navio do teu irmão e esperar pelos outros!



Não demorou muito para Tork alcançar Luigi Sortudo. Os dois estavam perdidos em meio a profusão de ruas que aquela cidade portuária tinha. Não só por que não haviam passado por ali ainda nenhuma vez na vida, como por que a maioria das ruas estavam repletas de restos de construções explodidas, quando não corpos. Os piratas também amontoavam-se de todos os cantos perseguindo os dois. Eram muitos membros dentro daquela tripulação, o que já é esperado da maior nau de todo Mar Negro, capaz de rivalizar mesmo com os navios dos marinheiros peritos minotauros do reino de Tapista. O bardo tinha seu florete em mãos e brandia-o contra os sabres sob bela maestria, mirando nas mãos oponentes para desarmá-los e depois rendê-los. Eram hábeis também, bem treinados como se devia esperar daquela tripulação, contudo, Luigi fora mosqueteiro imperial da corte do Imperador Rei Thormy em tempos que lhe foram memoráveis. O bardo conseguiu alguns cortes contra seus ombros, enquanto o trog aliado apenas girava o corpo liberando a lâmina bizarra de seu “machado”, cortando as armas de pólvora. Um de sabre lançou-se contra o humanóide baixinho, mas este defendeu com o corpo de sua arma, acertou-o entre as pernas com a extremidade e aplicou-lhe uma mordida no braço direito do oponente separando-o do corpo em uma cena horrenda.

- Esses filhos da puta não param de aparecer! Já estamos chegando? Hunc!

- Não sei caro companheiro Trog! Heh! Vou tentar arrumar um guia para nós!

O bardo então correu em uma velocidade incrível, como se seus pés deslizassem pelo chão até aplicar um golpe com o punho do florete contra o abdômen do último pirata que lhes barrava a saída. Depois com o mesmo ao chão vomitando todo o rum que bebera, Luigi pegou seu bandolim e tocou duas notas que foram ecoando nas ruínas das casas envolta que se incendiavam com as crepitantes brasas das balas de canhão que atiraram antes. As notas vibraram em bela melodia que entraram nos ouvidos do homem caído que já enfraquecido mal percebeu sua consciência abandonar-lhe, sendo totalmente subjugado pelo ritmo. Luigi diminuiu o tom da música e ajoelhou-se próximo de sua vítima.

- Meu caro flibusteiro sanguinário, leve-nos pelo caminho mais rápido até o convés de sua embarcação!

E o tripulante logo se ergueu com os olhos mirando o vazio, enquanto caminhava para frente em direção ao porto. Luigi mantinha seu sorriso bobo enquanto Tork resmungava arrastando as tripas de um pirata que arrancara pra comer.

- Magias… Não quero nada com essa putaria!



O tridente zuniu e passou nem mesmo perto do capitão que com uma esquiva simples desviou e já lhe estocava o sabre. Unnil odiava batalhar no mundo seco, principalmente sob o sol quente da tarde, quando sentia as escamas que encobriam seu corpo secar e grudar desconfortavelmente. Até mesmo jogara toda roupa fora, ficando somente de tanga para o calor não lhe atrapalhar mais. Viu a lâmina vindo em sua direção, mas sempre era fácil desviar por causa da distancia que o tridente lhe permitia ficar do oponente, ainda que a agilidade do mesmo fosse incrível. James K. lançou-se para trás e ouviu os disparos de seus subordinados. As balas ricochetearam na estátua.

- IDIOTAS!!! Quem mandou se intrometerem? Andem, levem nosso butim para o navio! Eu mesmo vou chutar a carcaça desse baiacu!

Os três dentes do enorme garfo vieram em sua direção girando. Com um golpe vertical do sabre a arma de haste atingiu o chão prendendo, e logo James K. saltou sobre o oponente para perfurar-lhe a garganta com o sabre. Unnil deslizou os pés molhados caindo no chão com um baque temeroso, esquivando do homem, puxou o tridente e acertou com a haste o flanco do capitão que logo recobrou o equilíbrio com destreza.

- Belo movimento!

Unnil não achava tempo para bravatas, pois os homens da Bravado já levavam os cidadãos e o tesouro da cidade para a nau. Investiu novamente, contudo, não foi feliz no trajeto. James K. esquivou-se novamente, passou a perna sob a haste chutando-a para cima de maneira a atrapalhar o elfo e logo seu sabre fez um belo corte no ombro esquerdo do ser dos mares que deixou seu sangue vermelho e quente espirrar diante da imensa dor. O capitão pirata zombou do mesmo lambendo o sangue de sua lâmina e cuspindo depois como se fosse um catarro. Focando o olhar demoníaco saltou na direção da vítima que se não fosse bem hábil bloqueando na hora o sabre com uma pedra, teria sua cabeça trespassada. Os piratas que ficaram para dar suporte ao capitão apenas observavam o eminente massacre, seus sorrisos podres e carniceiros já percebiam que a carne do elfo-do-mar lhes seria servida ao anoitecer.

- Chega de brincadeiras, moleque azul! – disse James K. desembainhando outro sabre com a mão livre – Está na hora de levantar ancora e zarpar!

Como o vento que sopra desavisado, o capitão surgiu sobre o combatente do mar com seus sabres em lâmina cruzada como uma tesoura. O elfo impediu usando a haste do tridente aparando, empurrou contra o pirata jogando-o para trás e girou o corpo para a extremidade inferior dar uma rasteira no capitão que apenas saltou e estocou os sabres lhe abrindo a carne escamosa na face e coxa direita.

- Malditos do mundo seco! Eu fui acolhido nesta cidade quando não havia mais lar para mim nas areias submersas! Escapei de um tirano e jurei proteger este povoado! – com um brado estocou o tridente que mal deu tempo de James K. escapar, bloqueando com as duas espadas entre os dentes da arma, porém, tal foi o impacto que mesmo com toda força em seus pés, foi arrastado para trás.

- Por que a maioria dos com que luto têm a chata mania de querer contar a história de suas vidas!?

Até o momento o capitão havia só brincado com o ser marítimo, há muito não tinha uma boa batalha, e esta não era das melhores também.

Irritado com a demora, deu um chute sob o tridente, adicionando um impulso com as lâminas que prendiam o garfo do tridente, jogou a arma pro alto abrindo a guarda do elfo-do-mar que para escapar e não cair no chão pelo desequilíbrio, teve que soltar a arma, logo o capitão já estava sobre ele e com agilidade os sabres fizeram cortes profundos nos membros e no lado direito do peito do elfo em uma velocidade incrível, que apenas aquele conhecido como o maior dos espadachins em todo Mar Negro era capaz de realizar. Assim Unnil foi ao chão, derrotado e imobilizado pelos lugares atingidos. James K. deu-lhe um chute.

- Sobreviva verme! Você tem bons músculos e ótimas idéias, como a do farol que puseram nesta cidade como meus informantes me noticiaram! Você deve viver e proteger essa cidade para que ela prospere até meu retorno! Não ouse morrer…

Embainhou os sabres, fez um gesto para Neptunio e saiu andando com os piratas que ainda estavam no pátio, indo em direção ao porto. O imediato, acompanhado por dois tripulantes fortes, pegaram o elfo-do-mar e carregaram-no para os degraus do templo de Lena, aonde já estavam os outros conselheiros feridos como planejara e calculara o capitão. Unnil deixou uma lágrima escapar pela derrota. Uma lágrima de desonra… e ódio…



Os vultos apoiaram seus ombros na murada do navio e tão ágeis quanto furtivos, rolaram para o convés molhado da Bravado, ocultando-se entre baldes e cordas. Alguns piratas iam e vinham, uns deitados molengas, outros vigiando as redondezas, havia os que conversavam em palavriados e gírias do mar e outros que iam e vinham com homens e mulheres de todas as idades, quando não alguns barris cheios de ouro. Estes últimos entravam e saíam dos respiradouros com pressa, como se quisessem terminar logo o trabalho.

- São muitos! Ainda bem que a corda de ancoradouro é bem resistente, senão seria bem difícil de chegar aqui!

- Sim! Será que o bardo está chegando com o Tork?

Fungaram juntos e fizeram cara de nojo.

- Yikes! Isso não pode ser só o cheiro dele!

- Não, tio Leon… Arghh! Isso é simplesmente o cheiro de um navio cheio de homens por meses… Logo a gente se acostuma!

Leon rastejou silencioso até atrás da escada que levava pro castelo da proa, e escondido nas sombras retirou uma bandana que trouxe escondido no bolso, roubada de um dos tripulantes nocauteados quando estavam sendo perseguidos. Anne apenas manteve-se oculta enquanto o ladino erguia-se resmungando e caminhando até os demais tripulantes para disfarçado infiltrar-se.



- Heh! Da maneira que afirmei, caro companheiro Trog… nada que um bom guia não resolva!

- Hunc! Mas por que tínhamos que vir de peito aberto de frente para eles?

Os tripulantes da grande nau já estavam terminando de guardar todo o carregamento de suprimentos e butim direcionado à Bravado, quando de repente ouviram a bela melodia. Tentaram compreender de onde vinha, nenhum no navio tocava instrumento musical com tal majestade… Foi então que despertaram ao ver surgir as três figuras. Um troglodita anão, fedido, com um peitoral de aço e trazendo uma foice ensangüentada, um bardo sorridente, com os olhos cobertos por um chapéu de abas longas que lhe obscureciam os olhos e um dos próprios piratas que vinha a frente, guiando-os, sem piscar, de olhos revirados, totalmente tomado pela mente por magia. Quando alcançaram as escadarias de pedra que levavam ao píer de ancoramento os pistoleiros e manipuladores de bestas começaram a disparar seus virotes com velocidade contra os três. O tripulante foi o primeiro a ir ao chão perfurado por todas as partes, os outros dois caminhavam juntos, negligentes e intactos, por algum motivo nenhum disparo os atingia.

- Que merda é essa? Usou magia, bardo? – Tork indagou preparando a foice caso fosse necessário e já mostrando os dentes sujos de tripas e sangue abundante misturado a baba o que fez alguns piratas hesitarem.

- Heh! Digamos que agora sabe por que me chamam de Luigi… Sortudo!

O músico então puxou a última corda de seu bandolim com o dedo na casa certa, puxando a corda no momento exato para a vibração sair em um alto estrondo que tomou o ar e tornou-se uma explosão sonora que arrancou algumas tábuas do chão e lançou alguns piratas para dentro d’água.

- Homens, não temam! Capturem-nos e suas cabeças serão entregues ao capitão! SAVY????

Todos responderam com um brado desembainhando as espadas e lançando-se de todos os cantos para cima dos dois ali. Tork sentiu seus poros se abrirem, mas não tinha gás nenhum mais para gastar com os bucaneiros. Sem dúvida aquele bardo era louco. Quando os homens do mar também já haviam descido do convés, ouviram um som alto de madeira arrastando. Os inúmeros no píer olharam para trás e viram um dos seus e uma menina recolhendo a rampa de subir para convés. Alguns começaram a preparar suas armas de longa distância.

- MOTIM!!! CAPTUREM!!!!

- Heh! Tolinhos…

Aproveitando a distração, Luigi continuou a melodia e puxou novamente a última corda de maneira que o ar vibrou alto de novo ensurdecendo as dezenas de cabeças que ali estavam e arrancando alguns do chão pelo golpe. A Kailash zuniu capturando outros e jogando-os na água antes da arma mágica voltar à mão do ladino. Tork adiantou-se com fome de tripas, entretanto, Luigi parou-lhe, tinha um plano. Leon retirou a bandana e logo alguns boquiabertos bradaram.

- OLHEM!!! MALDITOS!!!! ESTAMOS SENDO ROUBADOS POR ELE!!!!

- SIM!!! RECONHEÇO ESSA CARA EM QUALQUER LUGAR!!!!

- Hunf! Kobolds me mordam… Lá vem eles de novo… Odeio me expor… - disse Leon cansado de ouvir as mesmas coisas sempre que o reconheciam.

- Pensa bem, tio! Pelo menos é famoso! – Anne riu ainda escondendo o rosto.

- É A CABEÇA POR UM MILHÃO DE TIBARES!!!!

- O MAIOR CRIMINOSO DO REINADO!!!!

- É O…

- MAS QUE BUDEGA É ESSA????







A última voz soou alta e ecoou poderosa sobre todo o porto, afrontando a resistência do vento e a alma de cada um. O silêncio tomou conta de cada canto, e assim James K. caminhou com suas botas estalando na madeira rangente e podre do porto, nada nem ninguém atrevia-se a emitir qualquer som ali. O próprio demônio dava seus passos em direção à Bravado. Observou a destruição do píer quase estilhaçado, a Bravado sem a rampa, seus tripulantes cortados e muitos jogados na água, o homem no navio, o estranho músico de chapéu emplumado e então detectou a coisa fedida.

- Espera aí sua coisa verde… Eu te conheço… Pera… Não creio…

- Hunc! Fala pirata de merda!

Um arrepio correu a espinha de cada tripulante ao ouvir o insulto ao capitão que cerrou os dentes de raiva. James olhou atentamente pra quem estava em seu convés, até que ouviu de um tripulante que falara sem agüentar o nome.



- O que? Galtran? Sério? HAHAHAHAH! Espero que seja você mesmo aí, e não outro filho bastardo! Se bem que aquele rouba nem barquinho de papel! O que vocês querem em minha nau, suas pragas?

Leon puxou Anne e colocou uma adaga em seu pescoço como combinado, a menina debateu-se nervosa, representando bem. James K. ao ver a irmã arregalou os olhos, abriu a boca e seus piratas jogaram-se na água como se ele fosse virar um dragão vermelho ali mesmo e cuspir as labaredas chamuscantes das profundezas do inferno. Seu urro de ódio foi mais gutural, sonoro e poderoso que qualquer monstro da distante ilha pré-histórica de Galrasia foi capaz de dar.

- O que queremos? Heh! – Luigi sorriu bobo – Uma pequena carona para o sul encontrar um amigo! Ah, e também que sua querida irmãzinha saia viva e você com parte do ouro que conseguirmos! Somos pessoas caridosas não é?

- Não é nada não, mas… Hunc! Pela cara dele de quem não bebe muita cerveja ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~


Ñota do autor: Tem gente lendo e não comentando, peço gentilmente que postem, mesmo comentarios não agradaveis, pois nem dou muita atenção a contos e romances com pouco comentários!

ASS: ANTONYWILLIANS, O MAIOR ESPADACHIM DE ARTON

sexta-feira, 14 de março de 2014

Em busca de lenora: Capitulo III

UMA JORNADA À TERRA DOS PÉS DE URSO

 Incrível o poder da magia. O tempo que a cavalo levariam para chegar a uma cidade pouco distante de Valkaria, foi o que levaram para atravessarem mais de três reinos apenas com teleportes e portais conjurados. O pequeno esqueletinho de Vladislav era sem dúvidas um bom aliado, mesmo que Luigi continuasse a evitar olhá-lo por sua raiva reprimida, e sentiram-se com menos uma segurança quando este após levá-los ao primeiro destino, desapareceu para reencontrar Vlad.

Instantes antes, dentro do laboratório subterrâneo no solar do necromante, reunidos envolta de uma maca onde realizava constantemente experimentos com cadáveres, e cercados por armários e prateleiras abarrotadas de jarros e frascos com as mais diferentes bizarrices, como olhos em substancias coloridas, fetos mumificados e conservados, crânios cheios de inscrições queimadas, assim como ossos e outras coisas, preparavam-se para projetar o plano. Leon estremecia toda vez que entrava ali, então a primeira coisa que fez foi deitar sobre os braços na mesa, sempre preferindo observar os companheiros e evitar os objetos envolta, Luigi apenas sorria com seu eterno sorriso bobo enquanto examinava com interesse um aquário aonde esqueletos de peixes animados com magia nadavam, Katabrok e Tasloi sentaram-se juntos (raramente chegavam perto de qualquer coisa ali desde o dia que acidentalmente foram enganados por um esqueleto removendo as algemas mágicas deles sem saber que era um protótipo de mago morto-vivo que Vlad mantinha em cativeiro, o que ocasionou uma boa matéria na Gazeta do Reinado).

- Hunc! Esse clima azeda a minha guaroba! – disse Tork que só foi convencido a participar da reunião em troca de algumas canecas de cerveja, a qual trazia para a reunião, sentando-se sobre uma almofada, já que desconcertantemente ficou baixinho demais para a maca.

Então finalmente entrou o dono da casa, envolvido em seu manto e de olhar sempre sério, pétreo e calculista. Um esqueleto, que antes parecia apenas de estudo, criou vida na presença dele e caminhou até uma cadeira, puxando-a para que Vlad sentasse. Leon estremeceu com aquela coisa toda sombria.

- Então, caros colegas! Não pretendo entrar em curso de introdução e recorrerei ao termo último de nossa congregação! Como já lhes é sabido, temos uma missão, permitam-me explanar quanto aos procedimentos que haveremos de tomar na finalidade de um desfecho fortunoso…



- PUTAQUEUPARIU! Hunc! – Tork vinha soltando a mesma exclamação grosseira o caminho todo, mal podia acreditar que havia se enfiado num trampo desse que envolvia nada menos que um dos poderosos Reis Dragões. Luigi achava engraçado a reação do trog falante – Saiba, bardo risonho, só to metido nessa merda por que você me disse na casa do mago que aquele puto vai estar lá!

O bardo sequer alterou seu sorriso matreiro enquanto Leon examinava a trilha bifurcada do bosque para encontrar o caminho de maior movimentação para continuarem.

- Elementar, caro companheiro troglodita… Lenora, nossa parceira de expedições é nada mais nada menos que a irmã dele, e fontes confiáveis me informaram sobre ele e seu bando de saqueadores marítimos estarem se encaminhando para esse lado do continente!

- Seguiremos pela esquerda! – disse Leon subitamente – Há mais marcas de carroças e botas indo para lá! Até de pés descalços!

Assim os três continuaram caminhando. Em reunião haviam decidido separar em dois grupos: Vladislav, Taslói e Katabrok iriam para Bielefield, o Reino dos Cavaleiros da Ordem da Luz, seguindo para sua capital estudar sobre a antiga capital local, Lendilkar, que há muito afundara nas águas costeiras durante uma demonstração de ira do Rei Dragão Benthos, a sábia escolha foi realizada por Vladislav ter mais experiência em cuidar para que nenhum desses dois arrumassem muita confusão; Leon, Luigi e Tork iriam atrás de um contato que o bardo afirmava ter e que poderiam se utilizar para conseguir uma nau forte e boa o suficiente para navegar o Mar do Rei Dragão e por entre o arquipélago de Khubar. Assim, os três estavam agora caminhando em uma trilha bem iluminada de um dos incontáveis bosques que compunham as florestas de Kaiamar, em Hongari, o reino dos halflings.

Tudo era bem verde, pacífico e passivamente alegre ali. Os pássaros piavam, os besouros zuniam com as abelhas como se dançando atrás de pólen, vez ou outra encontravam uma luz de fada oculta nos arbustos, animais assustadiços passavam próximos e mesmo as folhagens faziam um coral saudando os forasteiros de maneira que aquilo tudo contrastava totalmente com a alma daqueles três, marcada pela vida de aventuras, cheios de cicatrizes abertas que o destino lhes infligira, aos poucos lhes espantava a dureza do passado, e sentiam-se mais relaxados, era sem dúvida um reino para os pacíficos, quando não preguiçosos, halflings.

Não demorou muito e viram sinal de fumaça surgindo para além das copas, e assim puderam ver um aglomerado de colinas, o que era bastante comum naquele reino. Andando nas ruas de terra batida, viam-se entre vários pórticos pequenos (aonde só entrariam agachados), cercados por postes exóticos, com frutas cobertas do que parecia mel, atraindo fadas que ali paravam para comer e dormir, e seu brilho dentro dos vidros das lamparinas é que iluminava os caminhos de manha e de noite. Ao longe se erguia uma colina acima de todas, com uma vasta plantação, para cultivo do tabaco, como Luigi informou. Caminhando pelas ruas havia os pequenos, barrigudos e pacatos halflings que observavam os visitantes e lhes fazendo uma mesura, só ocultando-se ou apressando-se sem sorriso quando viam o troglodita armado logo atrás.

- Heh! Parece que sua beleza não cabe na estética deles!

- Hunc! É meu eterno fardo, bardo! Monstros foram feitos para morar com monstros! A cada dia creio mais nessa porra!

Logo começavam a ver esses pórticos um pouco maiores, aonde já poderiam entrar de cabeça erguida, sem dúvidas eram moradas de raças de tamanho humano que viviam entre os pequenos. Não demorou muito para se confirmar, e verem um casal idoso de elfos, belos mesmo com as rugas, e muitos humanos de várias idades que observavam com hesitação o troglodita. Logo humanos e elfos começaram a abrir passagem para um halfling bonachão, de cabelos castanhos encaracolados, roupas simples de camponês, fumando um cachimbo, e deitado sobre o casco de um cágado do tamanho de um cão, que vinha na direção do distinto grupo. Ele sugou o ar do tabaco com cheiro de menta e soltou pelas narinas, sorrindo aos três.

- A chegada dos senhores já nos fora informada desde que estavam nas proximidades! Vejo que trazem um monstro para nossa aldeia… - suga o cachimbo e solta o ar serenamente, sem pressa nem pra completar sua frase -…O que desejam em minhas terras abençoadas por Marah e Allihanna, meus caros hóspedes?

- Hunc! Fudeu! Da próxima vez me lembrem de passar maquiagem! – Tork sussurrou tentando sem sucesso esconder seu imenso “machado”.

- Deixem comigo, ninguém aqui tem mais carisma que um bardo! – Disse Luigi Sortudo dando um passo a frente, fazendo uma mesura comedida com o dorso e então voltando a sorrir matreiro enquanto pega seu bandolim e toca a primeira nota. Tal gesto fez os humanos envolta e o próprio prefeito ficarem mais interessados do que amedrontados.

Viemos das longínquas muralhas
Que cercam a bela deusa de pedra
Atravessamos os pântanos e charcos
Com um desconhecido destino em nossa meta.

Desembainho o bandolim,
Vibro a voz
Sorrio às musas
E espero ser atendido assim.

Louvamos vossa terra,
Em que Marah abençoou.
Para nosso companheiro agora troglodita
A cura de sua maldição é nossa meta.

Desejo ver uma pequena dama,
Trajada como os homens do mar e de olhar selvagem
Ela é nosso pátio da consagração
Com ela em nossos braços,
Os deuses nos darão atenção.

Portanto peço desculpas pela cara feia de meu amigo
Que de nenhum deus monstro é um assecla
Dou-lhe minha musica, sorriso, e qualquer história
Em troca de teto, comida e bebida, meu mais novo colega…


E assim encerrou a canção com uma nota longa e vibrante. Então vieram os aplausos, que o grupo percebeu vir de inúmeros aldeões que se reuniram curiosos as voltas do grupo. Luigi realizava mesuras de agradecimento, e Leon riu da situação já que o bardo sempre conseguia libertá-los das mais desagradáveis impressões. Realmente, sempre era bom ter um especialista em carisma em um grupo.

- Muito, muito bom forasteiro! – disse o prefeito por entre os dentes que seguravam o cachimbo enquanto usava as mãos para aplaudir – Sejam bem vindos à Comunidade de Lappuh! Não temos estalagens, nem tavernas, mas pode ficar em uma das casas para hóspedes que temos! Sou o prefeito Tottou Buffin, quero que se sintam a vontade enquanto procuram a cura para a maldição de seu colega troglodita! Mas tomem cuidado, algumas crianças daqui podem ser mais perigosas que um Tói-Tódi acuado!

Tói-Tódi era um mito real de Hongari. Lobos assistentes de Allihanna que mantinham os herbívoros sob controle, reinam sobre os carnívoros e só atacam aqueles que ameaçam suas florestas faunas e flora, como Luigi veio a explicar mais tarde aos outros dois. O hafling ofereceu seu cachimbo a cada um, Leon engasgou um pouco e Tork até que gostou, apesar de achar que fumar era bem estranho quando se tinha escamas no lugar de lábios. Tal ato representava a hospitalidade do senhor das terras com seus visitantes. Ao pegar de volta o cachimbo, bateu duas vezes no casco do cágado, e apontou para o norte, para onde o animal começou a seguir lerdamente, mas não tanto quanto um cágado normal levaria, seguido pelo trio até a casa para hóspedes. Luigi caminhou entoando algumas notas enquanto o prefeito narrava sobre a história da comunidade e a de muitos moradores, assim algumas crianças, humanos e halflings acompanharam o grupo para ouvir a canção.

...

Pequena, cheirosa e reconfortante, sem dúvidas o melhor que um lar halfling pode oferecer. Leon estava maravilhado, sentado na varanda, em um banco observando as redondezas e por um tempo esquecendo os objetivos e missões, como se pudesse ficar ali pacificamente até o resto de seus dias com felicidade, comendo o bolo de fubá que o prefeito lhes presenteara; Tork examinava tudo na morada, até a ele era um bom lugar. A casa era escavada em câmaras dentro de uma pequena colina, como uma caverna confortável, com pequenos cômodos, mesmo para humanos morarem, contendo uma cozinha, uma sala, um quarto e uma jardineira nos fundos, só uma coisa incomodava o troglodita… não havia nem cheiro de cerveja nas redondezas. Luigi tomava uma batida de uva com álcool, especialidade na comunidade. Sentado na janela observava o pôr do sol naquelas terras dos Pés de Urso, como alguns chamavam a pequenina raça por seus pés enormes e descomunalmente peludos, os aldeões camponeses lavravam e cultivavam a terra sobre suas próprias casas-colinas, na frente de algumas moradas, produtores de vinho e da batida reuniam-se dentro de barris aonde pisoteavam a fruta, mas só avistara halflings o fazendo. Era reconfortante e sereno realmente, mas Luigi nunca resistiria viver ali, seu coração aventureiro pedia por ações, novas descobertas e mais inspiração à suas canções, talvez lhe bastasse a passagem por lugares assim para acalmar os enfermos da vida que lhe massageava a essência tão perturbada por maldições, intrigas e malignidades do cotidiano no Reinado. O fedor do troglodita aguçou o nariz do bardo, fazendo-lhe perceber sua proximidade.

- Bardo, muito legal isso aqui! Acho até que já sei aonde vou descansar meu rabo quando minhas escamas começarem a amolecer, mas… Hunc! Que porra estamos esperando? Vocês não têm pressa de reencontrar a tal guria do mar? E eu preciso pegar aquele puto-sem-braço antes que escape novamente!

Luigi observou uma carroça que vinha ao longe parar diante de uma casa próxima. Um homem do tamanho dos demais moradores desceu dela trazendo feno, mas era diferente… Magro, de trajes mais colados ao corpo, cabelos negros em rabo de cavalo e com pés normais, até usando botas. Eram chamados de Filhos de Hyninn, uma variação dos halflings, ainda sabia pouco deles, mas eram como que primos dos “pés de ursos” conhecidos como espécie também classificada como raça Hobbit. A caçamba era puxada por dois trobos de penugem roxeada, bem cuidados por sinal que bicavam o chão atrás de pequenas pedras que era de costume da especie comer.

- Relaxe meu caro, vamos encontrar logo quem procuramos! É só ter paciência! Aposto que gostará de revê-la! – Luigi sorriu amedrontadoramente matreiro. Tork ficou intricado.

...

A noite finalmente descera sobre aquelas terras. A lua estava cheia, conhecida pelos artonianos como em Escudo Pleno quando totalmente prateada, iluminando a copa das árvores em harmonia com os postes de fada da comunidade. Tork aprendia a jogar cartas com Luigi enquanto o ronco de Leon Galtran era escutado do banco fora da casa. Nunca na vida dormira tão bem, sem preocupação de ter alguém perseguindo o prêmio por sua cabeça. Foi então que um som sutil de balde despertou-o. Com a vista embaçada não pôde identificar direito. Correu os olhos pelo terreno enquanto se adaptava à relativa escuridão. Até que se deparou com os vultos que pisavam no curto jardim de orquídeas da casa. Eram pequenos, menores que os próprios Hobbits.

- Ih! Ele nos viu! – disse uma voz infantil.

- Movimento A! – uma voz feminina e imperiosa veio de algum canto.

Os vultos então apontaram bestas para Leon que começou a identificar a forma deles, eram como halflings mesmo, só que menores, mais frágeis, trajando ainda roupa de aldeão e com máscaras de madeira distintas apenas pelos buracos para os olhos. As pequenas bestas dispararam, alguns foram arremessados para trás pelo impulso da arma. Pedras voaram na direção do ladino que com a força dos pés e acrobacia jogou-se para trás do banco em que dormira até a pouco, mas não sem ser acertado por algumas das pequenas pedras no seu flanco, fazendo o ladino sentir uma dor horrenda, e deixando-lhe marcas que durariam dias.

Um vulto maior surgiu. Era o da voz feminina, que ainda assim trajava-se totalmente com uma roupa de garoto.

- Ora ora, que hábil tiozão! Mas não será tão fácil comigo, a Grande Criança!

A besta que ela usava disparou um virote que atravessou o banco e prendeu na parede. Galtran sem encontrar outra saída se não revidar antes que os outros sete que vinham por todos os lados se unissem, pegou a kailash e girou.

- Não sei o que são, suas pestinhas! Mas tio Leon vai lhes ensinar uma lição!

Soltou a arma que ao passar sobre algumas crianças abriu a rede capturando boa parte, dando um susto na tal Grande Criança. Que escapou saltando para trás de um arbusto. Novas pedras vieram na direção de Leon, só que dessa vez esquivou com sucesso enquanto pegou a kailash que retornou.

- Yikes! – Exclamou enquanto desviava das pedras.

- Kailash!? Yikes!? Pera pera, é você, Sandro? – disse a Grande Criança quando a porta da casa repentinamente se abriu e Luigi saiu lá de dentro com um florete em punho.

- Heh! Peleja!

- S-Sandro, você disse!? – Leon indagou enquanto o bardo avançava sobre algumas das crianças com seu florete – Espera Luigi, ela conhece meu filho!!! E são só crianças!

O florete dançava em direção aos salteadores que deixavam suas armas para correr chorando.

- Não se preocupem, só o demonstrar das armas já assusta esses pequenos!

- Filho!? Sandro é teu filho!? – a que parecia a líder indagou mais a vista – Pensei que fossem só estrangeiros com ouro, mas agora as coisas mudaram muito!

A menina então se virou e começou a correr atrás do próprio bando que já se dispersava por entre as árvores, entretanto, facilmente perseguíveis já que ainda choravam bem alto. Algumas casas abriam as portas para ver o que acontecia. Luigi tocou duas notas de seu bandolim e a vibração fez a terra estremecer sob os pés da pequena líder, derrubando-a enquanto as raízes saltavam e cresciam pelo corpo dela, prendendo-a. Continuou a tocar as notas até que ela estivesse presa por fortes vinhas. O bardo removeu a máscara da menina humana.

- Mas que porra é ess… - Tork resmungou saindo pela porta da colina, incomodado por aquela choradeira toda – PUTAQUEUPARIU! QUE TU TÁ FAZENDO AQUI, GURIA???

- Tork, será que dá para evitar palavrão na frente de crianç… YIKES! Mas hein? Vocês se conhecem?

- Tork? Oras, mas o que está ocorrendo aqui afinal? – disse a menina loira com uma mecha frontal vermelha – E tem como me tirar disso?

- Pode deixar ela em paz bardo, conheço essa minazinha! Hunc!
Luigi negou com a cabeça, ficou de cócoras e acariciou as mechas da menina, com seu eterno sorriso bobo.

- Na verdade, meus planos pedem para que ela permaneça presa! Bom, pequena senhori… - ela cuspiu na cara de Luigi que limpou com a própria capa e voltou a ela sorrindo - …senhorita, vou libertá-la em troca de um favor!

- NÃO FAREI NADA PARA TÚ, SEU FILHO DE KOBOLD DUMA FIGA!

- Malcriada essa menina, e bem nervosinha! – Leon comentou com Tork.

- Hunc! Sério? Nunca deve ter conhecido o irmão pulha dela, então!

Luigi continuou sem se alterar.

- Desejamos encontrar seu irmão, e provavelmente você deve saber aonde encontrá-lo! Quero pedir-lhe um favor! Então, o que acha, milady Anne K.?

Ela ficou emburrada algum tempo e então falou.

- Tudo bem, mas quero que tudo que ganharem ou encontrarem com algum interesse para mim, durante a viagem até meu irmãozinho, deva me pertencer!

- De acordo! – disse Luigi pronto para tocar uma nova nota do bandolim.

- Espere, antes de me libertar, chame o prefeito para me ver! Quero que ele me veja assim! – ela sorriu tão matreira quanto Luigi, que entendera o plano.

- Basta, basta! M-mas pera aí vocês! – disse Leon completamente confuso – De quem estamos falando? Quem é esse tal irmão dela? E como essa criança conhece meu filho e o Tork?

- Aff! Burro como o filho! – disse Anne balançando negativamente a cabeça – O meu irmãozinho é…

Tork irritado, Luigi matreiro e Anne em coral disseram em uníssono.

- James K!

- YIKES? QUER DIZER QUE VAMOS PEGAR CARONA NO NAVIO DO MAIOR E MAIS CRUEL PIRATA EXISTENTE DO MAR OESTE???? YIIIIKES!!!!!!!!


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Nota do Autor: Na veracidade de uma realidade da vida, zodiac, não é uma arma mágica... Apenas uma aprimoração das armas de fogo. São balas com veneno injetado ou cobertas de camada de veneno... e bala injetada com condensação de gás venenoso, que ativa quando disparada. Não há magia. 
O Snizzel é sim um homem-serpente, mas nem todos desta raça têm de ser sszzaazita ou amar Sszzaas. Ele por exemplo é independente de deuses, fiz uma ficha Pistoleiro/ Chapéu Preto, e vindo de Sallistick.


ASS: ANTONYWILLIANS, O MAIOR ESPADACHIM DE ARTON

quarta-feira, 12 de março de 2014

Em Busca de lenora - Capitulo II

HUNC!

- Realmente não sei o que passa na minha cabeça para aceitar vir em um bairro tão sinistro e repleto de criminosos dos mais vis! Meus pés estão chapinhando em mais lama neste lugar do que aconteceria no pântano mais encharcado! Já contei dez becos repletos de olhos e lâminas que nos espiaram todo o caminho! Sinceramente, seu pai ficará demasiadamente decepcionado com você por ter vindo, menina Petra!

Caminhando mais atrás do grupo, Klauskinsk vinha reclamando desde que fora convencido em escoltar a pequena Petra junto a Luigi Sortudo até um estabelecimento aonde poderiam encontrar mais facilmente o troglodita anão que lhes forneceria a ajuda necessária para a missão.

Mesmo conhecendo o mercenário monstro, famoso nas histórias narradas em vários reinos ao leste do Reinado, assim como já tê-lo visto algumas vezes bebendo e xingando pelos mais imundos bares, o bardo teria maior facilidade para atraí-lo com Petra a seu lado, mesmo tendo que aturar o mal-humor do elfo chato com odor de tequila que se recusava a deixá-la andar sozinha por tal lugar.

No momento caminhavam em uma rua estreita, cheia de buracos e poças d’água acumulada. O céu claro mal iluminava o local, sombreado pelos prédios enormes que o cercava, também criando becos aonde vultos espiavam qualquer transeunte, sem cessar. Em certo momento passaram por áreas de dignidade duvidosa, como prostíbulos, onde meretrizes acenavam para os dois homens, ou casas repletas de mal feitores que espiavam a menina incauta e sua sacola de moedas. Apesar daquilo, Luigi seguia com seu sorriso bobo cravado nos lábios sob as abas de seu chapéu emplumado. Após entrar na rede de ruas mal cuidadas e travessas sujas, passaram entre uma multidão de seres de todo tipo esquisito correndo desesperadamente entre eles. Momentos depois um odor pior que de flatulência de abutre instigou suas narinas e embrulhou o estômago, menos da jovem Petra que desde pequena sofria de disosmia e continuou respirando normalmente. Luigi pôs o braço na frente do nariz.

- Heh! Acho que encontramos o tal baderneiro! Petrinha, fique próxima!

A menina sorriu obedecendo enquanto ajeitava a capa mágica para evitar que encostasse na lama. Finalmente chegaram. Taverna Sorriso Banguela, uma casa de madeira velha e escura com as portas abertas. Ali o odor era pior, Klaus, com seu olfato apurado graças a vida de produção de poções, evitou afastando-se e pondo um lenço com perfume sobre o nariz.

- Por Wynna, que fedor! Nem os zumbis do porão na mansão do Mestre Vladislav fedem tanto! Arrghh!

Segurando a respiração com todas suas forças, Luigi se aproximou calmamente da porta e espiou o interior do estabelecimento. Estava escuro, alguns lampiões estouraram e haviam muitas pessoas desacordadas pelo chão, mesas, cadeiras e balcão, de repente um movimento, um estouro e novo fedor nauseante, só que de pólvora. Só deu tempo de se jogar em Petra indo ao chão quando um projétil atravessou a janela e perfurou a parede do muro ao lado.

- O que foi isso? – Petra perguntou coçando o ouvido que zunia com o barulho do tiro.

- Acho que o trog baixinho está resolvendo seus assuntos! – disse Luigi rindo e desafivelando seu bandolim.



A taverna estava uma bagunça. Mesas tombadas, cadeiras quebradas no meio da correria, comida e cerveja cobrindo o chão, bêbados desacordados, pessoas pisoteadas, garrafas aos cacos e um odor pestilento que levara muitos dos clientes a nocaute, formando um carpete de corpos nauseados e inconscientes. O chapéu negro e esfolado de Snizzel surgiu por trás do balcão, com seus olhos de íris em fendas verticais espiando sob as abas. Tantos anos produzindo e cheirando pólvora e várias outras substancias chamuscadas, levara parte de seu olfato, tornando-o parcialmente imune ao fedor do troglodita que lhe caçava. Preparado para um novo tiro, procurava seu alvo, sem muito sucesso, pois o mercenário era baixinho demais, se escondendo entre os entulhos com facilidade incrível. Erguendo-se um pouco mais, mal pôde desviar quando o trog saltou detrás do corpo de um meio-orc e subiu no balcão cortando o ar na horizontal com sua foice. Aparou o golpe com o flanco de sua carabina, empurrando a foice contra ele mesmo e aproveitando para disparar sua pólvora mal-cheirosa enquanto se afastava. Por azar, pisou em uma caneca, caindo no chão e atirando no teto. Tork sorriu com seus dentes ameaçadores e investiu com a arma. A distancia, disparou a lâmina. Presa por uma corrente ao bastão, se estendeu e fincou no chão próximo do homem serpente que levantou-se e preparou o próximo tiro.



- Nem ouse apontar essa porcaria para minha fuça, malandro! – o trog rosnou puxando a lâmina de volta, correndo na direção do oponente.

- Perdão, sssó posssso me divertir com você usssando-a! – o pistoleiro chiou saltando para trás e apertando o gatilho. Uma nuvem preta estourou na frente do cano disparando um projétil numa velocidade incrível que estourou antes de chegar à Tork.

A bala não era comum. Assim que explodiu em meio ao ar, soltou um aroma doce e irritante que penetrou na narina do troglodita fazendo-o espirrar enquanto seus olhos ficavam irritados.

- Hunc! Atchim! Hunc! Atchim! PUTAQUEPARIU! Que merda é essa? Atchim!

O homem-serpente sorriu, com a língua bifurcada dançando em sua boca de lábios falsos e fendidos.

- Meusss projeteisss sssão essspeciaisss! Hisss-hisss-hisss!

Com os olhos e narinas irritados, Tork abriu a guarda, apenas muito tarde para sentir a aproximação do inimigo que lhe cortou parte da crista com uma adaga.

- PORRA, NA CRISTA NÃO!

Ignorando os olhos que lagrimejavam, rodopiou em um golpe giratório que atingiu o flanco do oponente, mas apenas lhe rasgando o manto. Ainda cego, por pouco não teve a garganta trespassada por um tiro da carabina, pois antes de tal tragédia, um som muito alto abafou o estouro, levantou todo entulho e corpo espalhado pelo chão e desviou a bala em uma onda sonora. Era um som agudo que rompeu vidro e causou certa dor aos tímpanos de Tork. Uma mão tocou o rosto do troglodita que tentou morder por reflexo seja lá quem fosse, porém, sem sucesso. Foi quando ouviu a voz macia e carinhosa.

- Calma, Tork, agora estou aqui! Vou curar seus olhos! – a voz então falou com um eco arcano em seus ouvidos – Innova kárhinos!

Uma ardência subiu o focinho do monstro mercenário, causando uma dormência relaxante pelo caminho até alcançar os olhos e nariz fazendo-o voltar ao normal e enxergar com perfeição.

- GURIA!? O que faz aqui?

- Orasss, amigosss? – Snizzel sibilou ameaçador sobre o balcão apontando a carabina na direção dos dois.

- Deixa ela fora, rapá! – Tork rosnou colocando-se na frente de Petra que agachou atrás do amado parceiro.

Enfim veio o tiro, mas não encontrou algo, foi aparado por uma nova explosão sonora aguda quando Luigi Sortudo entrou no estabelecimento.

O bardo sorria bobo.

- Parece que teremos uma peleja antes! Vamos, caro Klaus…

- Homessa! Espero que pelo menos as tequilas estejam intactas!

Klaus ergueu as mãos sobre a cabeça, girou em torno do corpo e apontou as mãos na direção do homem serpente, saltando fios de teias de aranha da extremidade de seus dedos. Snizzel desviou com um salto, preparou um novo tiro e ocultou-se atrás de uma mesa, evitando a teia de grude mágico. Tork se pôs na frente de todos.

- Ae, cavalaria! O trog anão aqui pode cuidar desse filho da puta sozinho! Hunc!

Assim investiu sobre o homem serpente que deu um novo tiro. A bala estourou no ar liberando uma breve cortina de fumaça alaranjada que o trog inspirou, sentindo penetrar em suas veias. Veneno sem dúvidas. Ignorou, cortou ao meio a mesa que o atirador usava de escudo e avançou com uma mordida contra o cano da arma, arrancando-a da mão do oponente. Snizzel deu um salto para trás e pareceu crescer, arrebentando seus trajes e criando mais escamas pelo corpo. As pernas viraram cauda, as mãos viraram garras e logo era uma serpente imensa e humanóide com braços e um chapéu preto na cabeça. Abriu a bocarra disparando um jorro de veneno ácido. Petra correu e foi protegida por um frasco de poção que Klaus lançou perto dela. O ingrediente mágico em contato com o ar fazia uma barreira de fogo, protegendo-a por completo. Logo se virou, começou a mover os braços e proferir palavras arcanas. Tork estava irritado. Levou uma surra, pisou em cerveja desperdiçada e outras pessoas apareceram para meter pau naquele que ele mesmo queria fazer o sangue escorrer.

- Ah… To muito puto!

Saltou contra o mostro ofídio descendo a lâmina contra as escamas, raspando nelas sem penetrar. A cauda o atingiu jogando contra uma mesa que se despedaçou enquanto as mãos livres lhe apontavam pistolas retiradas de coldres do cinto preso à sua cintura, assim disparou ágil contra o mercenário.

- Nueva lombaridaraa! – Petra proferiu fazendo o ar queimar e uma bola flamejante voar em direção ao monstro imenso explodindo em faíscas abundantes. O inimigo chiou.

Tork sangrava um pouco no ombro esquerdo por uma bala que lhe atingira. A lâmina de sua foice, presa na corrente, silvou no ar, mas o homem-serpente conseguiu desviar, pegando a carabina e preparando um novo disparo. O troglodita saltou desviando do projétil letal e puxou a própria arma, fazendo a parte afiada retornar com um tranco e cortando o ombro do oponente que jorrou em sangue roxo. Com a lâmina de volta em sua foice, bateu com o equipamento no chão de forma que a ponta ficou na vertical, como uma lança, e investindo contra o ser bizarro lhe enterrou no abdômen até sair pelas costas. Snizzel fez seu chiado de dor ser ouvido há muitos metros dali, mas logo parou quando Tork abocanhou seu corpo ofídio, penetrando os dentes afiados fundo na carne de cobra e arrancando as tripas com um único movimento da cabeça. O pistoleiro serpente foi ao chão inerte com os olhos mirando a morte. Klaus não resistiu e vomitou em um canto da taverna com a cena. Petra fez uma careta ao ver o amigo com as tripas na boca, achava assustador. Anos atrás teria ficado em choque, por sorte as aulas de anatomia no seu curso de necromante na Academia Arcana lhe deu maior resistência à cena. O troglodita anão mastigou as tripas e engoliu antes de se aproximar dos três visitantes.

- Guria! – falou com Petra – Quem são esses caras, e o que fazem aqui?

- Papai mandou procurá-lo, o tio Luigi pensou que eu poderia ajudar a fazer você vir com a gente!

Ela abraçou o amigo, logo assistindo a seus ferimentos com uma pinça e atadura.

- Esqueceu quem sou? – Klaus perguntou limpando a boca com um lenço após vomitar.

- Hunc! Você é o pulha boiola que serviu o mago… To falando do guri da musica explosiva!

- Ora seu, nan… - Klaus se enfureceu com a ofensa, porém Petra lhe impediu.

- Heh! Prazer, senhor Tork! Ouvi falar muito sobre você em minhas andanças! Sou Luigi Sortudo, bardo companheiro de aventuras de Vladislav Tpish!

O troglodita ponderou após um palavrão quando petra apertou demais seu machucado. Acariciou a cabeça da menina com a garra. Eles tinham uma grande amizade há tempos, ela o salvara da morte uma vez e era uma das poucas pessoas no mundo que não o tratava como um demônio verde e fedido, apesar de às vezes achar que era um bichinho de estimação para ela.

- Hunc! Lembro de tu! O mago já falou de você! Afinal, o que querem comigo?

- Temos uma proposta! Queira nos acompanhar até o Solar Tpish!

Segurando o ferimento estancado, Tork guardou a foice, que chamava de machado, prendendo-a na parte detrás do peitoral de aço. Em seguida pegou o grande homem serpente pela cauda, dando a carabina dele para o bardo.

- Pode ser, devo uma pelo mago ter dado um trato em meu machado! Levo esse filho da puta para a milícia, vocês pagam uma guaroba ae, e sigo com vocês!

O troglodita baixinho saiu porta afora com olhar ranzinza e resmungando pela péssima luta que teve. Com o gosto azedo de tripas em sua boca, sentia que a merda estava só começando a feder.
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ASS: ANTONYWILLIANS, O MAIOR ESPADACHIM DE ARTON