sábado, 6 de outubro de 2018

Salvando os Pescadores

Nieger era mais um dos  quarenta soldados do Stalchard. Fazia alguns meses que  era membro da tripulação. A senhora, o havia nomeado diretamente para aquela embarcação, e ele estava muito feliz em servir a ela. Nieger, assim como todos os membros da tripulação, não se lembrava de nada antes de conhecer a senhora. Estava tudo nublado, como se pensar nisso levasse a um imenso borrão. Não importava quem ele era antes. Para nenhum dos  trinta e nove tripulantes que como Nieger não lembravam de seu passado, apenas uma coisa importava.  Servir a Senhora.  As Longas horas de remo enquanto  se dirgiam para o sul, para  cumprir o destino  que lhes fora dado eram importantes. Stalchard era um barco grande, possuía  oitenta  remos, mas apenas trinta e oito estavam sendo usados. O vento vinha de sul. E as velas estavam recolhidas. Ondas fortes batiam ao lado do casco  forçando o timoneiro a  fazer correções para que o  navio não fosse jogado as costas de Bielefeld.
Nieger  remava constantemente, o exercício de remar  causou exaustão nos primeiros dias, mas conforme a musculatura   se acostumava e fortalecia, o exercício não era mais tão dolorido, remavam por  quatro horas e depois por mais quatro as velas eram postas e  navegava, Nieger ficava focado no serviço. Na tripulação do navio, apenas  dois homens não estavam remando. O timoneiro Augustus Tiberius, um imenso minotauro, e o capitão, Sarlatk, um dos escolhidos da senhora, um meio dragão negro, corpulento,  com duas asas negras vestindo um peitoral de aço e um cinto com um  kilt negro. Seus cabelos  negros pareciam cobras corais que desciam de sua cabeça, e seus olhos amarelos reptilineos eram  terrivelmente assustadores. Nenhum dos homens conversava, mesmo nos momentos de descanso, e Nieger considerava isso normal. Em sua mente somente pensava em servir a senhora.
Nieger, puxava os remos cm força, e sentia a resistência da água ao impulsionar o Stalchard.  Uma onda passou por cima da amurada e banhou os remadores. A água fria atingiu Nieger pelas costas, e por um momento ele se lembrou de sua infância. Lembrou de um vale e uma cachoeira, lembrou de outras crianças, mas seus rostos estavam enevoados. Lembrou de saltar  e cair na água fria do lago. E essa imagem se esvaneceu de sua mente.  
Nieger, sacudiu os   cabelos negros curtos e a barba, retesou os músculos e  puxou o remo.

Dois dias depois, os remadores vêem o porto da Vila Marfim ao longe.
-Senhores. Peguem suas armas. A Senhora nos demanda que tragamos mais  pessoas para seu reino, homens mulheres e crianças. Matem todos que não puderem desarmar, capturem todos que puderem, não deixem nenhuma testemunha para trás.  – Gritou Sarlatk – Sirvam a senhora.
A essa declaração a única resposta da tripulação foi um grito em uníssono.
- Servis Somos, nosso sangue pela senhora.
Conforme se  aproximavam da costa, agiram como se fossem um navio mercante. Os homens desembarcaram lentamente, amarrando os cabos do navio aos trapiches do porto. Trinta homens desembarcaram. Lentamente eles se espalharam pela vila, conversando com os locais, conquistando a confiança.
Nieger atravessou a vila, em direção a floresta próxima, ele e mais  três homens tinham como missão a de impedir que alguém fugisse para a floresta. No caminho ele viu algumas crianças brincando. Lembrou- se de brincar com outras crianças, um menino de olhos negros e uma menina de cabelo escuro cacheado. Seus rostos estavam nublados, mas ainda conseguia ouvir suas vozes e rizadas. Uma das crianças o chamou de pai.  Assim como a lembrança de sua infância que teve no navio essa também se esvaneceu, sumindo no propósito de servir a senhora.
Então o  ataque começou. Nieger não via, mas sabia como seria. Primeiro os homens da vila que estivessem no cais seriam atraídos ao barco para descarregar os tecidos e fazer comercio. Aqueles que tentassem resistir seriam executados  e jogados ao mar.  Não era a primeira vez que seguia aquele plano. Depois os homens invadiriam as casas e incendiariam, capturando  mulheres e crianças.
A cada uma das vilas  que atacavam as rotina era a mesma, ninguém escapava.
Então algo deu errado, Nieger viu um grupo de homens armados,  invadir um das casas, viu  um de seus colegas ser morto por um deles através de uma janela. Como se chamava o homem? Serviram juntos no barco por meses e ele nunca perguntara ao homem seu nome, mais de uma vez dividiram o remo. Por que nunca conversaram? Esses pensamentos surgiram e desvaneceram sobrepostos pelo desejo de servir a senhora. Os Homens de Nieger se lançaram contra o  jovem com uma espada mágica, e a elfa, que usava o manto de khalmyr, um magus e uma paladina. Nieger, pegou uma criança e correu para o barco, para avisar, para informar.

Os vilões se aproximaram. Mataram em seu caminho cerca de seis homens leais a senhora. Nieger Correu carregando a criança que salvava da  liberdade dada pelos Deuses. Os prisioneiros deveriam ser entregues a senhora para serem salvos de si mesmos. Servir a senhora era ser salvo.
-Combatentes se aproximam mestre Sarlatk. -  Disse Nieger. – Já mataram seis dos nossos. Entregamos as nossas vidas alegremente para salvar essas pessoas e leva-las pra senhora.
-Embarquem no navio, temos todas as pessoas no navio, eu vou destroças esses aventureiros como destrocei os  que encontramos em Galaunt. Vou pegar os itens deles como lembrança. Assim como uso essa cabeça de machado como cinto para a calça.
-Sim senhor. Desamarrar adriças e recolher, vamos partir homens... Preparar velas. Vamos  zarpar.  Nieger embarcou no navio. Seus homens colocaram os homens da vila em correntes nos remos. As  mulheres e crianças acorrentadas aos mastros no centro do navio.
Ao se afastarem para o norte, os olhos da tripulação do navio se voltam para o capitão que deixavam enfrentando os  vilões. O navio se afasta rapidamente  sendo puxado pelo vento. O meio dragão derruba  um dos  combatentes, ergue a si mesmo ao céu e lança baforadas. Não consegue ver direito o que acontece, mas o meio dragão cai do céu ao solo. E é morto pelo machado do anão.
- Maldito anão! - Amaldiçoa o minotauro – que seu sangue escorra na lamina de um inimigo e que sua alma seja condenada a jamais retornar para  os verdes campos  da Senhora.
-Eles  irão pagar – disse Nieger. – A senhora vai encontrar meios de punilos.
Nas semanas que  se seguem os homens são chicoteados para manter o ritmo do navio  quando os ventos param. As vezes um bebê é atirado aos selakos para punir os pais que  se mostram mais insubmissos, e para servir de exemplo para  outros que possuem famílias.  
Alguns dos  homens morrem de exaustão no remos e são jogados ao mar.
Após um mês de navegação, Nieger e seus homens  encontram os pântano da Senhora, navegam por canais conhecidos na  maré alta, para não encalharem nos pântanos.  Dois dias navegando e chegam ao porto da cidade de pedra dentro do pântano.   Desembarcam as pessoas e as guiam acorrentadas para o saguão da senhora. La perante a jóia conhecida como o Rubi do esquecimento, tem suas vidas removidas, todas as lembranças de quem são se tornam apagadas por uma nevoa, em seu lugar  apenas o desejo de satisfazer a vontade da senhora.  Para a maioria deles, a vontade de servir a senhora os liga a funções simples.
Nieger vê homens e mulheres que capturou trabalhando em diversos lugares da cidadela, reconstruindo salões, trazendo madeira, criando plantações . Aos poucos o trabalho trás resultados, ao menos  um terço da cidadela é habitável, e campos são lavrados e pomares começam a dar frutos.  Homens e mulheres dormem juntos, a noite para trazer novas crianças para servir a senhora.

Após alguns dias da chegada, Nieger é chamado pela senhora. Nieger entra no castelo principal,  partes ainda estão em ruínas,outras estão esplendorosas como  se ainda fosse o dia de sua construção. A ponte levadiça  de entrada tem suas  correntes arrebentadas  e enferrujadas, mas a madeira  do piso é nova. O pátio entre a muralha externa e a interna  esta limpo, com alguns belos pomares crescendo lá. Nieger por alguns momentos fica vidrado em uma macieira,  a arvore centenária  é mãe de todas as macieiras abaixo dela. Nieger vê os pássaros que estão na arvore. Não mais que poucos seguidos observando e o desejo de seguir a senhora se torna irresistível. O saguão em sua frente PE imenso, e apesar  dos pequenos reparos construídos no teto,  não parece  ter mais de 1s emana que foi construído tal a sua beleza. Painéis nas paredes contam a  historia de Lendilkar, e de como ele fez um acordo com uma dragoa negra, para que ele fosse uma baronesa.
Então ele entrou na sala  do trono, uma sala imensa adornada com  mais de duzentas estatuas  alinhadas nos dois lados da sala. Uma estatua a cada  quatro metros, por todas as paredes. Cortinas e tapeçarias se espalham pelo ambiente. Nieger foi até o centro da sala.  E então se ajoelha.
- Augustus Tiberios me relatou sobre suas ações. – Fala calmamente a Senhora. Em sua forma humana, ela  é uma mulher negra, de olhos amarelos com pupilas verdes. –Cada momento da viagem e de seu retorno me foi contado. E você merece  suas recompensas.
- Não fiz nada minha Senhora, apenas segui ordens – responde Nieger olhando para o chão.
-Erga-se meu filho. Esta noite após sua transformação serás meu consorte.
- Eu não mereço minha senhora.Mas vossa vontade é a minha vontade, e seus desejos serão cumpridos com minha vida. – Responde Nieger. Em sua voz não há orgulho, nem nenhuma outra emoção. Nieger assim como todos que servem a senhora  não sente nada, a menos que  uma ordem da senhora seja contrariada, ou que   a própria senhora esteja em risco. Então apenas  fúria os toma...
A senhora pega um pequeno giz e faz um circulo no chão, dentro do circulo símbolos arcanos são desenhados.  Ela então faz um corte em seu pulso e derrama seu sangue numa vasilha.  A esse sangue  ervas mágicas e escamas são acrescentadas. Nieger  bebe todo o conteúdo da vasilha, enquanto a senhora canta palavras em draconico.
As Recordações de Nieger são restauradas, mas ele não mais se importa com o homem, pai de família que foi capturado a quatro anos, não se importa com sua esposa, que esta tendo o   terceiro bebe sem  saber ou se importar sobre quem é o pai para servir a senhora. Não se importa com o seus filhos que servem a senhora. Seu único desejo é o de servir sua nova mãe.
Mas agora ele também tem um desejo,o de destruir os aventureiros que entraram no caminho da  senhora. E dos servos da senhora, dos meio dragões de elite, ele é o único que conhece os rostos deles.

Um comentário:

  1. Interessante, acho que este conto tem continuação.

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